Boeing: a empresa entregou menos da metade do número de aeronaves nos primeiros onze meses de 2019 ante o mesmo período do ano anterior (Lindsey Wasson/Reuters)
Da Redação
Publicado em 13 de janeiro de 2020 às 05h58.
Última atualização em 13 de janeiro de 2020 às 06h08.
Há novos presidentes de empresas com desafios. E há David Calhoun. O americano assume nesta segunda-feira a presidência executiva da enroladíssima fabricante de aviões Boeing, onde por 10 anos foi conselheiro de administração, no lugar de Dennis A. Muilenburg.
De acordo com comunicado divulgado pela companhia, a nova liderança deve trazer um comprometimento renovado em transparência além de tentar retomar as operações com o 737 Max, modelo protagonista de dois desastres aéreos nos últimos 15 meses que colocaram o futuro da empresa em risco. Calhoun será também responsável pelos primeiros – e decisivos – passos da megafusão com a brasileira Embraer.
Calhoun é contador de formação e começou cedo sua carreira dentro da GE, onde ficou por 26 anos, passando por diversas áreas, inclusive motores de aeronaves. Ele também atuou como membro do conselho de empresas como Caterpillar e Blackstone.
Assumir a presidência da Boeing em meio ao escândalo envolvendo a empresa nos Estados Unidos será sua primeira grande adversidade. “Acredito firmemente no futuro da Boeing e do 737 Max. Estou honrado em liderar essa grande companhia e os 150 mil funcionários dedicados, que estão trabalhando duro para criar o futuro da aviação”, disse Calhoun, novo CEO, em nota.
Uma investigação do governo americano, revelada na semana passada, mostra que funcionários da companhia teriam trocado e-mails afirmando que a agência reguladora dos EUA “atrapalha” a evolução da Boeing e que o 737 MAX teria sérios problemas. “Este avião foi projetado por bobos da corte, que, por sua vez, são supervisionados por macacos”, disse um funcionário da Boeing em mensagem de 2017. A agência já aplicou quase 4 bilhões de dólares em multas sobre a companhia.
O modelo é a versão mais recente do avião comercial mais vendido no mundo, quarta geração do 737, destinada a voos curtos e de médio alcance. A aeronave começou a ser entregue há dois anos, mas dois acidentes fatais levaram a sua suspensão : a queda do 737 MAX da Ethiopian Airlines, na Etiópia, deixando 157 mortos no ano passado; e outro acidente na Indonésia em outubro de 2018, com 189 vítimas fatais.
Com a confiança do mercado abalada pelos acidentes, a Boeing entregou menos da metade do número de aeronaves nos primeiros onze meses de 2019 ante o mesmo período do ano anterior. Foram 345 aeronaves entregues até novembro passado frente a 704 de um ano antes, e também foram menos da metade do número entregue pela rival europeia Airbus no mesmo período.
Espera-se que Calhoun abrande as relações com os órgãos reguladores, reverta o aperto de caixa proveniente da crise do setor e traga ao mercado o novo jato 777X, em um momento único para a empresa. Ao menos Calhoun começa com uma boa notícia (ao menos para ele): a confissão de culpa do Irã na derrubada de um Boeing na semana passada tira uma nova leva de pressão do caminho.