Gol: a empresa está fazendo o que pode para se proteger do cenário desafiador para 2015, diz analista (Dado Galdieri/Bloomberg)
Karin Salomão
Publicado em 1 de abril de 2015 às 10h21.
São Paulo - Apesar do prejuízo de R$ 1,1 bilhão em 2014 e de vislumbrar um cenário ainda mais desafiador para 2015, a Gol está na rota certa, segundo analista ouvido por EXAME.com.
Os problemas que a companhia aérea enfrenta são fatores externos e que ela não pode controlar, afirma Rodrigo Fernandes, analista do banco UBS. Além disso, o cenário para 2015 é mais adverso do que se esperava no final de 2014, diz ele.
Porém, ainda que não consiga administrar esses fatores, a empresa está fazendo o que pode para se proteger, afirma o analista.
Custos referentes ao câmbio e ao combustível são alguns dos desafios, assim como a queda na demanda e no preço das passagens.
“Boa parte dos benefícios que a Gol teria com o baixo preço do petróleo e os cortes de custos são consumidos pelo câmbio com o real desvalorizado”, diz Fernandes.
No entanto, ele afirma que, por causa da sua disciplina, a empresa mostrou um melhor resultado operacional no ano passado.
Cerca de 55% dos custos da empresa são em dólar, o que aumenta a exposição da empresa a variação cambial. Esse item gerou um prejuízo de R$ 426 milhões em 2014.
Pagamento antecipado
Para se proteger dessa volatilidade, a companhia realizou liquidações de hedge, que são contratos antecipados, para garantir estabilidade nos preços. Segundo o vice-presidente financeiro da Gol, Edmar Lopes, a antecipação do hedge é uma estratégia voltada para médio prazo, de 6 a 9 meses.
Também fez a rolagem de dívida, antecipando as de longo prazo e “deixando-a com um perfil mais saudável”, afirma Fernandes.
Essas liquidações corresponderam a custos de R$ 520 milhões em 2014.
Para o analista, apesar de representarem um peso grande nos custos do ano passado, a empresa está na rota certa para chegar bem em 2015.
“Diferente do passado, a empresa não tem uma preocupação tão grande com o balanço. Fizeram o rolamento de dívida durante todo o ano de 2014, para entrar em 2015 mais leves. Agora podem focar na performance operacional”, afirma ele.
Aumentar os voos internacionais é outra maneira que a companhia encontrou para fugir do real enfraquecido e aumentar as receitas em dólar.
A partir de parcerias com outras companhias aéreas e aumento dos voos internacionais, a empresa busca incrementar a receita, diminuir riscos e estabelecer sua marca no mercado exterior.
A estratégia se mantém para este ano. "Vamos continuar a posição de alcançar o patamar de 16% a 17% das receitas em dólar entre 2016 e 2017", disse o presidente da Gol, Paulo Kakinoff, em teleconferência.
Porém, para esse ano, a malha internacional pode ser redesenhada. As prioridades serão América Latina e Central.
Outro fator que afeta os voos da empresa é a economia brasileira, que está enfraquecida.
Com a economia andando a um ritmo lento, menos executivos irão viajar. Para as companhias aéreas, isso significa queda nas receitas, já que as passagens do segmento corporativo são mais rentáveis.
“Não basta só aquecer a demanda de lazer, porque o patamar de tarifa é muito baixo”, diz Kakinoff, presidente da empresa.
Além disso, o tíquete médio das passagens está caindo – ficaram 9%, em média, abaixo ao longo do quarto trimestre.
Segundo o vice-presidente financeiro da Gol, Edmar Lopes, a queda foi compensada parcialmente pelo aumento da taxa de ocupação das aeronaves.
A grande questão é que o preço não deve ter ajuste rápido se a economia seguir enfraquecida. Resta saber se o esquema de proteção traçado pela Gol resistirá por tanto tempo.