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BB e Caixa ameaçam Credit Suisse e BTG em investimentos

Os bancos estatais estão usando a liderança no segmento de crédito e o relacionamento direto com o governo como apoio para desbancar as instituições privadas


	Em outubro, a Caixa solicitou uma licença para criar uma unidade de banco de investimento com 300 pessoas
 (Tânia Rêgo/ABr)

Em outubro, a Caixa solicitou uma licença para criar uma unidade de banco de investimento com 300 pessoas (Tânia Rêgo/ABr)

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Da Redação

Publicado em 2 de julho de 2013 às 08h27.

São Paulo - O Brasil é o único dos BRICs onde os bancos privados, como Credit Suisse Group AG e Grupo BTG Pactual, ainda recebem a maior parte das receitas de banco de investimento. Talvez isso não dure muito tempo.

O Banco do Brasil SA e a Caixa Econômica Federal estão usando a liderança no segmento de crédito e o relacionamento direto com o governo da Presidente Dilma Rousseff como um apoio para desbancar as instituições privadas na corrida por receitas com atividades de banco de investimento.

O Banco do Brasil, que é o maior do País em ativos, quer também ser o número 1 em banco de investimento, segundo Paulo Rogério Caffarelli, vice-presidente de atacado e negócios internacionais.

Em outubro, a Caixa solicitou uma licença para criar uma unidade de banco de investimento com 300 pessoas. Os bancos estatais estão de olho no BTG, no Banco Itaú BBA SA e no Credit Suisse, que lideram o ranking de receitas com operações de banco de investimento.

“Desde a crise de 2008, nosso relacionamento com corporações brasileiras avançou muito por causa dos empréstimos que fizemos e agora queremos alavancar isso, expandindo nossa atividade de banco de investimento”, especialmente em renda- fixa, disse o vice-presidente de finanças da Caixa, Márcio Percival, durante entrevista em São Paulo.

A presidente Dilma conta com os bancos estatais para ampliar o crédito e reativar o crescimento econômico, que no ano passado recuou para 0,9 por cento, encerrando o período de dois anos mais lento da década. A piora da economia contribuiu para levar mais de 1 milhão de pessoas às ruas no dia 20 de junho, exigindo o fim da corrupção e a melhora dos serviços públicos.

Ranking de renda fixa

O Banco do Brasil lidera este ano o ranking de originação de títulos brasileiros denominados em dólares, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. No ano passado, a instituição estava em terceiro lugar.

O banco também subiu da terceira para a primeira posição nas operações do mercado doméstico de renda fixa, segundo dados até 31 de maio da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais, a Anbima.


No ano passado, o Banco Bradesco BBI SA ficou em primeiro lugar em operações locais. Em 2011, a liderança foi do Itaú BBA, unidade do Itaú Unibanco Holding SA, o maior banco da América Latina em valor de mercado.

O Banco do Brasil está em sexto lugar em receitas de banco de investimento nos cinco primeiros meses deste ano, de acordo com a empresa de pesquisas Dealogic, de Londres. No ano passado, não ficou nem entre os dez maiores.

Os porta-vozes do Credit Suisse, do Bradesco, do BTG e do Itaú BBA não quiseram comentar o assunto.

Receita nos BRIC

Os planos do Banco do Brasil e da Caixa para banco de investimento põem essas instituições em linha com as de outros países dos BRICs -- Rússia, Índia e China --, onde os bancos públicos conseguem a maior parte das receitas do segmento.

Na Rússia, o VTB Group e o OAO Sberbank são os dois maiores bancos de investimento em termos de receita, segundo dados da Dealogic até maio. O State Bank of India lidera o ranking naquele país. Na China, o Citic Securities Co. e o Bank of China Ltd., ambos controlados pelo governo, receberam a maior quantia em receitas no período.

Os bancos públicos brasileiros ficaram com 7,4 por cento das receitas de banco de investimento geradas pelas dez maiores instituições do ranking, segundo os dados da Dealogic. Na China, essa fatia chega a 53 por cento, enquanto é de quase 42 por cento na Rússia e de 33 por cento na Índia.

A competição com os bancos públicos está aumentando, ao mesmo tempo que os negócios podem começar a encolher. Empresas de mercados emergentes vêm adiando ou cancelando ofertas de ações e de bônus. Investidores estão retirando dinheiro dos países em desenvolvimento com a desaceleração da economia chinesa e porque o Federal Reserve disse no mês passado que pode reduzir o estímulo monetário nos Estados Unidos.

O Índice MSCI de Mercados Emergentes acumula queda de 13 por cento desde o pico de 3 de janeiro.

IPOs cancelados

A Votorantim Cimentos SA suspendeu no dia 19 de junho sua oferta inicial de ações, de cerca de US$ 3,7 bilhões, por causa de “condições desfavoráveis do mercado.” Esta seria a segunda maior abertura de capital do mundo este ano.


A Azul Linhas Aéreas Brasileiras SA, criada pelo fundador da JetBlue David Neeleman, adiou o IPO de US$ 450 milhões na semana passada. O Banco do Brasil estava assessorando a operação.

A receita com banco de investimento ainda está em alta no Brasil. Nos 12 meses até maio, ela cresceu 15 por cento pela comparação anual, chegando a US$ 953 milhões, segundo a Dealogic. Para todos os países dos BRIC, o aumento foi de 12 por cento para US$ 6,57 bilhões. A Rússia teve a maior alta: 40 por cento. A Índia, com variação de 2,6 por cento, registrou o pior desempenho.

Os cinco principais bancos de investimento no Brasil -- lista que inclui o Bradesco BBI, unidade do Banco Bradesco SA, e o Bank of America Corp. -- têm carteira de crédito menor do que o Banco do Brasil. A instituição está usando essa relação com clientes corporativos para gerar novos negócios.

“O Banco do Brasil tem a maior carteira de crédito do País e um enorme balanço para fornecer crédito. Isso ajuda a conseguir operações de banco de investimento”, disse Caffarelli.

Sistema duplo

Os bancos públicos atenderam ao pedido do governo para estimular a economia. O saldo combinado de empréstimos dessas instituições chegou a R$ 1,23 trilhão em maio, uma expansão de 71 por cento desde janeiro de 2011, segundo dados do Banco Central. Os bancos privados tiveram aumento de 26 por cento no mesmo período.

As instituições de controle estatal, incluindo o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, têm 49 por cento dos R$ 2,49 trilhões em empréstimos do sistema financeiro, de acordo com o BC.

“O Brasil está gerando um sistema bancário duplo,” escreveu Inigo Vega, um analista da Nau Securities Ltd., num relatório para clientes em maio. “Um sistema no qual os bancos públicos ainda mostram pouca aversão a risco enquanto o governo lhes dá apoio”.

Modelo chinês

Os bancos públicos têm uma parcela ainda maior dos financiamentos na Índia. As 21 instituições controladas pelo governo responderam por 76 por cento dos 50,8 trilhões de rúpias (US$ 855 bilhões) em empréstimos em aberto em março de 2012, segundo dados do BC indiano.

Na China, os quatro maiores bancos públicos --Industrial & Commercial Bank of China Ltd., China Construction Bank Corp., Agricultural Bank of China Ltd. e Bank of China Ltd. -- são credores de 44 por cento dos 70,5 trilhões de iuanes (US$ 11 trilhões) em empréstimos em aberto, de acordo com o BC chinês. O governo também tem participação majoritária ou minoritária em todos os bancos menores no país.

“Ninguém aqui é estatizante, nosso modelo econômico ideal não é a China”, afirmou Percival, da Caixa. “Não gostamos da fatia de 50 por cento do governo no crédito -- não é o quadro que queremos ver. Tem algo errado.”


Percival disse que, assim que a economia se recuperar, os bancos privados estarão dispostos a aumentar a concessão de crédito.

Cometendo erro

Para John Welch, um estrategista do Canadian Imperial Bank of Commerce em Toronto, o Brasil está cometendo um erro ao permitir uma expansão tão grande dos bancos públicos.

“Talvez o crescimento do balanço patrimonial desses bancos tenha sido necessário durante a crise de 2008”, disse Welch em entrevista, referindo-se ao aperto de crédito que levou à quebra do Lehman Brothers Holding Inc. “Mas quando a crise de crédito terminou, era hora de encolher o balanço e isso não foi feito.”

As taxas de juros cobradas pelas instituições públicas frequentemente são subsidiadas e uma concorrência desleal com os bancos privados, que responderam cortando empréstimos, disse Welch.

“Uma taxa subsidiada cria excesso de demanda por empréstimos”, disse Welch. “E também dificulta a política monetária.”

Expansão da Caixa

Felipe Salto, um economista da Tendências Consultoria em São Paulo, disse que os bancos públicos deveriam intervir apenas quando existe uma falha no mercado.

“Eu não vejo isso no negócio de banco de investimento ou no mercado de crédito no momento”, segundo Salto.

A Caixa planeja criar sua divisão de banco de investimento com funcionários transferidos de outras unidades, disse Marcos Roberto Vasconcelos, vice-presidente de ativos de terceiros. O foco será em renda fixa local, segundo ele.

A instituição ficou em sexto lugar em originação de títulos no mercado doméstico nos 12 meses até maio, de acordo com a Anbima. A Caixa estava na sétima posição no ano passado e na décima em 2011. O banco tinha R$ 603 bilhões em ativos sob gestão no primeiro trimestre, incluindo R$ 337 bilhões do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço.

A Caixa usa recursos da caderneta de poupança e do FGTS para financiar sua carteira de crédito imobiliário. Sua fatia no segmento é de cerca de 69 por cento.


Primeiro IPO

O FI-FGTS, que a Caixa administra, ajudou o banco em abril a participar pela primeira vez em 152 anos como um dos coordenadores de um IPO, o da Alupar Investimento SA. O fundo de private equity é um dos acionistas da transmissora e geradora de energia, com uma fatia de 14 por cento, segundo dados compilados pela Bloomberg.

O Banco do Brasil participou da abertura de capital da Biosev SA após ter concedido mais de R$ 380 milhões em empréstimos à companhia até dezembro de 2012. A Biosev, a segunda maior processadora de cana-de-açúcar do País, captou cerca de R$ 709,4 milhões em abril.

A BB Seguridade Participações SA, que é a seguradora do banco, realizou o maior IPO do mundo este ano, numa oferta de R$ 11,5 bilhões em abril. A operação ajudou o Banco do Brasil a alcançar a quarta posição no ranking de oferta de ações este ano, saindo do quinto lugar em 2012, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

A expansão do Banco do Brasil na área de banco de investimento inclui a compra de ações preferenciais no Banco Votorantim, duas pessoas com conhecimento direto do plano disseram em janeiro.

A participação passaria de cerca de 50 por cento para 75 por cento e o Votorantim continuaria sob controle privado, segundo as duas fontes. Com isso, o Banco do Brasil poderia usar a corretora do Votorantim e construir um banco de investimento com uma política salarial mais flexível do que a do serviço público, disseram essas pessoas.

Crescimento ‘insustentável’

“Precisamos expandir rapidamente na área de banco de investimento”, disse Caffarelli. “Com juros menores no Brasil e todos os investimentos necessários em infraestrutura, esse negócio vai crescer muito nos próximos anos. E nós não podemos perder o barco.”


A ação do Banco do Brasil acumula desvalorização de 13 por cento na Bovespa desde o começo do ano. No mesmo período, os papéis do Bradesco caíram 10 por cento e os do Itaú recuaram 6 por cento. Os dois são os maiores bancos privados do País em valor de mercado.

No primeiro trimestre, o Banco do Brasil aumentou os empréstimos para pessoas jurídicas em 33 por cento em relação a um ano antes para R$ 280,5 bilhões. Na Caixa, o crédito para empresas disparou 51 por cento e chegou a R$ 106,5 bilhões no mesmo período.

“Esse crescimento de crédito é insustentável no longo prazo”, disse André Riva Gargiulo, analista da GBM Grupo Bursátil Mexicano SA, em entrevista por telefone, referindo-se à expansão da Caixa.

A diferença aumenta

A carteira de crédito corporativo dos bancos privados cresceu menos da metade disso. O Bradesco tinha R$ 272,5 bilhões em empréstimos para empresas no fim de março, ou 13 por cento a mais do que um ano antes. No Itaú, o crédito para esse segmento aumentou cerca de 10 por cento para R$ 272,5 bilhões.

A diferença pode crescer ainda mais depois da autorização em junho de aumentos de capital da ordem de R$ 15 bilhões para o BNDES e R$ 8 bilhões para a Caixa, num esforço do governo de continuar alimentando o crédito.

“Os bancos públicos estão sendo usados não só como impulso para o crescimento econômico, mas também para pagar dividendos ao Tesouro, que é o acionista majoritário, ajudando o governo a atingir suas metas fiscais”, disse Maria Celina Vansetti- Hutchins, diretora-gerente da Moody’s Investors Service em Nova York.

‘Pior situação’

BNDES e Caixa responderam por 74 por cento dos dividendos pagos ao Tesouro pelas estatais no ano passado, segundo a Moody’s.

De 2008 até abril, o Tesouro injetou R$ 34,5 bilhões em dívida subordinada nos bancos públicos e emprestou R$ 373,23 bilhões ao BNDES, de acordo com Salto, da Tendências. O BNDES afirmou em e-mail que planeja oferecer mais empréstimos este ano do que os R$ 156 bilhões distribuídos em 2012.

Segundo a instituição, não faltarão recursos para financiar investimentos no Brasil.

Ao receber dividendos e injetar capital na forma de dívida subordinada e ações de estatais, o Tesouro enfraqueceu a qualidade e a quantidade de capital dos bancos, segundo a Moody’s. Para Maria Celina, o BNDES e a Caixa estão na pior situação.

O BNDES é um banco “sólido” e tem uma “baixíssima inadimplência”, que é menor do que a média do mercado, segundo um comunicado enviado por e-mail pela assessoria de imprensa do banco. Segundo esse comunicado, o BNDES “vem aplicando com responsabilidade e critério os seus recursos para que eles retornem”.


“Muitos bancos investem seu capital em ativos de baixo risco e ações de empresas de boa qualidade”, disse Vasconcelos, da Caixa. “Apenas cerca de 10 por cento do nosso capital está em ações de empresas estatais.”

Resgate

O Banco do Brasil, criado em 1808 por um decreto de Dom João VI, foi resgatado pelo governo com uma injeção de R$ 7,3 bilhões em 1997, após amargar prejuízos de R$ 7,5 bilhões em 1996 e R$ 4,3 bilhões em 1995.

Os banco públicos são os únicos que podem receber depósitos judiciais. No Banco do Brasil, essas captações chegaram a R$ 89,9 bilhões no primeiro trimestre, comparado a R$ 80,5 bilhões um ano antes. A instituição pode usar esses recursos livremente, sem incidência de compulsório, e não precisa pagar uma taxa ao Fundo Garantidor de Créditos.

“Esses bancos têm acesso a modalidades subsidiadas, que geram um funding muito mais barato do que o dos bancos privados”, disse Gargiulo, da GBM. “O custo global de captação deles é menor. E o funding da Caixa é um dos menores do mercado.”

Percival, vice-presidente da Caixa, afirma que a instituição só usa fundos subsidiados para programas voltados à população carente e que seus empréstimos a empresas “usam fundos normais do mercado”.

Pagamentos em atraso

A inadimplência acima de 90 dias do Banco do Brasil diminuiu para 2 por cento no primeiro trimestre, de 2,2 por cento um ano antes. Já para a Caixa, a taxa subiu de 2,1 por cento para 2,3 por cento. No primeiro trimestre, a do Itaú ficou em 4,5 por cento e a do Bradesco, em 4 por cento.

A expansão de crédito do Banco do Brasil e da Caixa ajuda a manter as taxas de inadimplência baixas porque quem acaba de pegar o crédito dificilmente atrasa os pagamentos, explicou Gargiulo, do GBM.

“Existe um risco, que não é o nosso cenário básico, de uma desaceleração da economia mais acentuada, o que poderia aumentar a inadimplência em um momento que em que os spreads estão lá embaixo”, disse Gargiulo, se referindo à diferença entre o custo de captação dos bancos e as taxas cobradas dos clientes.

Para Mario Pierry, analista do Deutsche Bank AG em São Paulo, a estratégia dos bancos públicos de se aproveitar do relacionamento com clientes corporativos para crescer em banco de investimento é a mesma que foi adotada por Itaú e Bradesco.

“Eles dão crédito para as companhias. Por que não ajudar o cliente a fazer um IPO?”, disse Pierry. “O negócio de banco de investimento depende dos relacionamentos com os clientes.”

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