Negócios

“Ninguém está interessado em bater papo com uma lata, por mais inteligente que essa lata pareça”

Professor de curso sobre inteligência artificial aplicada aos negócios fala sobre o potencial impacto da tecnologia no mercado de trabalho e refuta a ideia de que a subjetividade humana será totalmente substituída por máquinas

Miguel Lannes Fernandes, professor do curso Inteligência Artificial Aplicada aos Negócios (EXAME/Exame)

Miguel Lannes Fernandes, professor do curso Inteligência Artificial Aplicada aos Negócios (EXAME/Exame)

Isabel Rocha
Isabel Rocha

Jornalista

Publicado em 26 de maio de 2023 às 11h57.

Última atualização em 26 de maio de 2023 às 13h54.

Contrariando as projeções mais pessimistas sobre os impactos da inteligência artificial (IA) no mercado, estudos recentes têm revelado que a tecnologia tem potencial de criar novos postos de trabalho no futuro –  e de impulsionar consideravelmente os lucros das empresas no presente.

Nesse cenário, não é de se estranhar que companhias dos mais variados setores e tamanhos estejam buscando formas de se aproximar da tecnologia o quanto antes. Mas também não há como negar que muitas perguntas –  e uma certa dose de desconfiança – ainda rondam o assunto.

Para além da automação de processos morosos, de que outras formas a inteligência artificial pode beneficiar os negócios? Quais são (e como utilizar) as principais ferramentas de IA no dia a dia? Quais os riscos e como, afinal, iniciar o processo de implementação da inteligência artificial nos negócios?

Para responder a estas e outras perguntas, conversamos com o engenheiro de softwares Miguel Lannes Fernandes. Formado em engenharia da computação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Miguel é fundador da Inventos Digitais, CTO da Witseed e professor do curso de Inteligência Artificial Aplicada aos Negócios, recém-lançado pela EXAME.

Estou muito orgulhoso do curso. A gente fala sobre contexto histórico, como e porquê a inteligência artificial está entrando no DNA dos negócios, de onde vêm e quais são os principais conceitos relacionados a ela. Depois, trazemos quatro cases práticos de IA aplicada nas áreas de operações, varejo, educação e finanças. Também abordamos os impactos sociais e os limites da IA, além das discussões éticas envolvidas. Por fim, terminamos as aulas com um bônus: uma AI Canvas desenvolvida em Harvard, que os alunos podem usar com seus times para orientar suas primeiras iniciativas de inteligência artificial”, adianta o especialista.

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Leia a íntegra da entrevista abaixo.

Para começar do começo, como você define o que é inteligência artificial?

Há diferentes formas de definir o que é inteligência artificial. Eu gosto de olhar para cada uma das palavras separadamente. A inteligência é uma característica humana que tem a ver com a capacidade de fazer cálculos para atingir um resultado desejado. Já artificial é tudo aquilo que não pode ser encontrado em forma bruta na natureza – que é construído pelo homem. Assim, a inteligência artificial é uma característica humana que está embarcada em um dispositivo mecânico com o objetivo de potencializar a capacidade do ser humano de atingir determinado resultado que ele deseja.

Para ilustrar, eu gosto de trazer o exemplo da máquina de lavar, que foi criada quando um homem, percebendo o incômodo de sua esposa por realizar os movimentos para lavar roupas diariamente no rio, decidiu criar um mecanismo que facilitasse o processo e diminuísse aquele trabalho braçal.

Ao longo do tempo, muitos filmes, séries e livros ajudaram a relacionar o avanço da IA com um futuro distópico no imaginário popular (Black Mirror, Westworld e Her são alguns exemplos). Mas, pelo menos por enquanto, a popularização da tecnologia não parece estar indo por esse caminho. Qual a sua visão sobre o assunto? Acredita que essas previsões mais pessimistas em relação ao avanço da IA têm fundamento na “vida real”?

Eu acredito que esses filmes de ficção científica fizeram um certo desserviço, porque criaram no imaginário popular essa imagem da IA com um humanóide – com rosto, mãos e pés iguais aos de um ser humano. Não acho que criar robôs que pareçam seres humanos com uma inteligência artificial embarcada faça sentido, porque ninguém está interessado em sentar e bater papo com uma lata, por mais inteligente que essa lata pareça.

Eu vi um documentário recentemente, chamado My AI Lover, sobre três mulheres em Pequim que têm um relacionamento com uma inteligência artificial e, em determinado momento, uma delas termina o relacionamento justamente por achar que a inteligência artificial é muito previsível e sentir falta do lado humano.

Acho que a gente vai ter inteligências artificiais específicas para funcionalidades específicas: um robô para desarmar uma bomba, um assistente virtual para recomendar investimentos, um tutor para tirar dúvidas sobre determinado assunto... São aplicações específicas, diferente do que esse imaginário dos filmes criou.

Até acho que é possível que exista um parque de diversão como em Westworld, por exemplo, mas não acredito que a máquina vai ter esse nível de consciência construído no imaginário dos filmes. A consciência humana não é algo mecânico que você vai conseguir fazer surgir com um algoritmo.

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Recentemente, o Bill Gates afirmou que a IA é “o maior avanço tecnológico das últimas décadas”. De acordo com ele, indústrias inteiras devem se reorientar em torno da IA – e as empresas se distinguirão pela forma como a utilizam.  Você concorda com essa previsão? Se sim, do seu ponto de vista, quais os principais impactos que a IA já trouxe para a sociedade?

Essas empresas do Vale do Silício têm o poder de fazer profecias auto-realizáveis. O Bill Gates está muito interessado em fazer com que isso aconteça, então, sem dúvidas, é um investimento grande que está sendo feito nesse caminho.

A última grande revolução que a Microsoft trouxe foi o Pacote Office, uma ferramenta que entrou em praticamente todos os escritórios do mundo. Naquela época, dominá-las era considerado um grande diferencial no currículo mas, com o tempo, foi se tornando quase obrigatório, né? Considero que a gente esteja num momento parecido agora: a inteligência artificial é o novo Excel, o novo PowerPoint.

Eu acho que, no curto prazo, quem começar a usar IA vai se diferenciar pelo simples fato de estar usando – porque vai conseguir produzir mais coisas em menos tempo. Mas, à medida em que todo mundo começar a usar, as características específicas e subjetivas de cada um serão um diferencial na forma de realizar o trabalho.

Estudos recentes mostraram que 55% das empresas que aplicaram IA em suas operações já viram seu lucro crescer. Para além da evidente otimização de tempo trazida pela automatização de funções mais operacionais, de que outras formas a implementação da IA pode beneficiar as empresas?

Essa é uma colocação muito pertinente. Se tem uma coisa que não é novidade dentro dessa nova moda da inteligência artificial é a tendência do capitalismo de buscar reduzir custos e maximizar o lucro. Então a IA também é uma manifestação disso. As empresas perceberam que podem utilizar todos os dados que coletaram na internet ao longo dos últimos anos para substituir trabalhos caros – até então realizados exclusivamente por seres humanos– e com isso aumentar os seus lucros. 

Mas quando você começa a utilizar a inteligência artificial você percebe que não precisa necessariamente reduzir o seu quadro de funcionários As pessoas vão deixar de fazer os trabalhos “chatos” para focar em algo que pra elas é mais nobre. O que elas não quiserem fazer, poderão delegar para uma inteligência artificial. Então eu diria que tem também um aspecto de bem estar dos colaboradores –  o que, no final das contas, também tende a impactar no lucro, porque trabalhadores mais felizes tendem a ser mais produtivos. 

Além de redução de custo e aumento no bem estar das pessoas, que estarão intelectualmente mais desafiadas, há também uma questão de sustentabilidade, à medida em que você consegue prever diferentes cenários futuros e tomar decisões mais sustentáveis para o seu negócio com ajuda da inteligência artificial.

Poderia citar as ferramentas de IA que considera mais relevantes para os negócios atualmente?

Isso vai depender do negócio, porque existem inteligências artificiais para diferentes necessidades.  Um exemplo mais “genérico”, que pode ser útil em diferentes setores, é a TAQTIQ. Trata-se de uma extensão do Google Chrome que salva a transcrição das reuniões que você faz pelo Google Meets, Teams ou pelo Zoom. Ela está integrada com o ChatGPT e gera, além de um resumo da reunião, uma lista de próximos passos e até  análise de sentimento das pessoas que participaram da reunião. 

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E qual o primeiro passo para aqueles que desejam começar a implementar a IA em seus negócios? 

Eu acho que o primeiro passo para qualquer projeto de tecnologia é você listar os principais problemas do seu negócio. Quanto esse problema gera de prejuízo para você ou quanto você deixa de ganhar por conta disso? Uma vez definido isso, é hora de pensar em como automatizar esse processo. Mapear os dados armazenados pela empresa, como eles estão estruturados, identificar os principais gargalos do processo que você deseja melhorar  para começar a enxergar os pontos em que você pode plugar alguma inteligência artificial, alguma automatização para ajudar. 

Para finalizar, conta um pouco sobre o curso de Inteligência Artificial Aplicada aos Negócios que você está ministrando em parceria com a EXAME: o que os participantes podem esperar do conteúdo?

O curso ficou muito bom, estou muito orgulhoso. A gente fala sobre contexto histórico, como e porquê a inteligência artificial está entrando no DNA dos negócios, de onde vem e quais são os principais conceitos relacionados a ela. Depois, trazemos quatro cases práticos de IA aplicada nas áreas de operações, varejo, educação e finanças. No último módulo do curso, também abordamos os impactos sociais e os limites da IA, além de discussões éticas envolvidas. Por fim, terminamos as aulas com um bônus: uma AI Canvas desenvolvida em Harvard, que os alunos podem usar com seus times para orientar suas iniciativas de inteligência artificial – um bom caminho para aqueles que desejam começar um projeto de IA.

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