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Não quero incentivos, quero competitividade, diz CEO da GM

Barry Engle acredita que um mercado aberto e sem isenções fiscais é mais saudável para toda a indústria automobilística


	Barry Engle: "já chegamos ao fundo do poço, já passamos pelo pior", disse sobre a crise
 (Divulgação/Amcham)

Barry Engle: "já chegamos ao fundo do poço, já passamos pelo pior", disse sobre a crise (Divulgação/Amcham)

Luísa Melo

Luísa Melo

Publicado em 7 de outubro de 2016 às 11h20.

São Paulo - "Não quero incentivos. Não quero o governo dentro da empresa e dos nossos negócios. O que quero são condições para ser competitivo a nível global", disse Barry Engle, presidente da GM América do Sul.

O executivo falou a EXAME.com após o seminário "Perspectivas Brasil 2017", promovido pela Amcham (Câmara Americana Comércio), nesta terça-feira (04), em São Paulo.

Engle acredita que um mercado aberto e sem isenções fiscais é mais saudável para toda a indústria automobilística. "Não quero investir 1 bilhão de dólares no Brasil para ter uma fábrica que só é competitiva no mercado interno", afirmou.

De acordo com ele, a alta taxa tributária, gargalos logísticos, a mão de obra cara e a burocracia existentes no país prejudicam a eficiência do setor e as exportações.

"O custo de produção no Brasil é duas vezes maior que o do México, por exemplo. Levamos mais tempo para construir um carro aqui e ainda pagamos mais por isso. Se quisermos exportar, temos que competir com outros países", comentou durante o evento.

Engle considera que a abertura do mercado precisa ser gradual para evitar a perda de milhares de empregos e diz que, no curto prazo, o segmento ainda é competitivo, mas que essa situação é insustentável no longo prazo.

O executivo disse ainda que já "começou o processo" para levar o tema ao presidente Michel Temer e ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.

Segundo o líder da GM, é só com reformas na economia que a indústria conseguirá baixar os preços dos veículos para o consumidor final.

"Podemos fazer toda a nossa parte, de produzir um carro de forma mais eficiente e econômica. Mas, no final das contas, se mais de 50% do custo dele são impostos, fica difícil cobrar menos por ele".

O segmento de fabricação de automóveis foi um dos que mais receberam benefícios fiscais durante os governos Lula e Dilma.

Do ponto de vista interno, ele diz que a GM cumpriu todas as medidas possíveis para tentar amenizar a crise.

A empresa manteve o plano de investimentos de 13 bilhões de reais, anunciado por seis anos a partir de 2013, e lançou modelos novos.

"Também mantivemos um bom relacionamento com fornecedores e parceiros, inclusive com o sindicato, apesar do corte de 2.000 empregos. Sabemos que vamos precisar de todos eles no futuro", ponderou Engle.

Retomada

Nas previsões de Engle, o setor deve fechar o ano com cerca de 2,1 milhões de veículos emplacados, o que representa uma queda de cerca de 20% em relação a 2015.

Segundo ele, o mês de setembro foi o pior que a indústria já viu em anos – os dados oficiais ainda não foram divulgados pela Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores).

Para 2017, porém, as expectativas são melhores: de um crescimento de 10 a 15%.

"Já chegamos ao fundo do poço, já passamos pelo pior. A partir de agora, vamos ter um crescimento gradual e lento", disse.

A retomada, de acordo com o executivo, depende da melhora da confiança do consumidor e de um maior acesso ao crédito, que deve acontecer com a queda da taxa básica de juros.

"Com o novo governo e todas as medidas que ele está tomando, já devemos ver uma recuperação no último trimestre deste ano", afirmou. 

Apesar dos problemas, Engle considera o mercado brasileiro importante para a montadora e diz que ainda há muito espaço para investir no país.

"Temos um índice de veículos por habitante ainda muito baixo no Brasil (de 200 para cada 1.000 pessoas, enquanto nos Estados Unidos o número fica próximo de 800), uma classe médida em ascensão e a infraestrutura melhorando. O crescimento vai continuar".

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