Henry Costa, diretor de produtos na Renner: investimentos de R$ 30 milhões para levar criação de coleções para o digital (Lojas Renner/Divulgação)
De uns tempos para cá, a Renner tem levado a sério o compromisso de se tornar uma fashiontech. Na prática, isso significa que, mais do que nunca, a varejista gaúcha está disposta a ser digital. Trata-se de um esforço que começou com a revitalização do site e aplicativos e com a aquisição de empresas menores e essencialmente digitais — como no caso da startup Repassa. Depois, com a estruturação de um braço de corporate venture capital de R$ 155 milhões para investimentos em startups de moda, o RX Ventures. Agora, a disposição em favor da tecnologia está em depositar alguns (muitos) trocados para inovar nos processos de criação de coleções da porta para dentro.
Até o final do ano, os investimentos das Lojas Renner na digitalização desta frente devem chegar a R$ 30 milhões.
A estratégia passa pela aquisição de ferramentas ainda pouco conhecidas pelo mercado. Um exemplo está num sistema de tecnologia 3D que leva movimentos realistas para a persona virtual da Renner, a Rennata. Nos moldes da indústria cinematográfica, uma pessoa veste uma espécie de macacão e então tem suas ações “copiadas” para a avatar digital da marca. No Brasil, segundo a varejista, apenas a Globo tem tecnologia parecida.
Boa parte dos investimentos está voltada a softwares capazes de levar o processo de criação de coleções inteiras para o ambiente digital, numa empreitada que promete reduzir o tempo entre a concepção de um produto e a chegada dele às prateleiras (ou e-commerces, vale destacar). “Entendemos que o futuro da moda será baseado em processos e coleções digitais e sem amostras físicas”, diz Henry Costa, diretor de produtos da Renner.
Alguns softwares “high-tech” permitem entender os pormenores da fabricação de uma peça, da elasticidade do tecido e texturas ao caimento em diferentes tipos de corpos, levando para o ambiente online um trabalho que até então era manual.
O racional está em eliminar o vai e vem das amostras físicas de olho em sustentabilidade e agilidade, afirma Costa. “São tecidos que são descartados, geram emissão de poluentes para o transporte e testes das mercadorias”, diz. “Sabemos que assim reduzimos muito o nosso impacto ambiental”. Já do lado da agilidade, o DNA digital das coleções também encurta o processo de fabricação das peças, já que os sistemas propõem cortes mais assertivos dos tecidos, por exemplo.
A pandemia, em boa medida, provou o modelo das coleções “phygital”. Com as fábricas paradas e a interrupção causada por algumas restrições sanitárias, o processo de concepção digital ajudou a Renner a manter a roda girando. Para isso, um dos esforços foi em colocar boa parte dos fornecedores na mesma página, oferecendo os mesmos softwares de criação de peças, além de avatares digitais iguais aos usados pela Renner durante o processo de criação.
“Com a mesma tecnologia e os mesmos manequins digitais, os fornecedores vêem o mesmo que nós sobre uma peça. Isso economiza tempo, trabalho e é feito a distância sem complicações”, diz.
Em abril, a marca lançou a sua primeira coleção totalmente digital. A intenção era reunir, em uma única coleção, as ferramentas tecnológicas usadas durante o processo de criação e fabricação, além de trazer alguns recursos adicionais para a etapa de compra dos produtos, como uma loja em realidade virtual para expor e permitir a interação dos clientes com as peças.
"Para nós, o investimento em tecnologia é um caminho sem volta, principalmente pela atenção ao quesito sustentabilidade. Pretendemos levar toda a indústria pelo exemplo", diz.
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