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Na França, Ikea é investigada por espionar funcionários

Empresa teria contratado detetives para montar casos contra funcionários. Polêmica já provocou a demissão de vários executivos, incluindo o presidente


	Ikea: unidade francesa da empresa é acusada de fornecer dados privados de funcionários a detetives 
 (Reprodução/Youtube)

Ikea: unidade francesa da empresa é acusada de fornecer dados privados de funcionários a detetives  (Reprodução/Youtube)

Luísa Melo

Luísa Melo

Publicado em 28 de abril de 2014 às 07h59.

São Paulo - Um tribunal regional em Versalhes, próximo a Paris, na França, está averiguando se executivos da Ikea infringiram as leis do país ao conduzirem centenas de investigações particulares sobre seus funcionários entre o período de 2002 a 2012. A informação é do The New York Times

A suposta irregularidade veio à tona depois que diversos e-mails da empresa com detalhes de espionagens a funcionários vazaram para a imprensa local no início de 2012.

Entre os casos, está o de Virgine Paulin. Em 2009, após um ano de ausência médica por um diagnóstico de hepatite C, ela recebeu uma carta de demissão da empresa. 

Virgine, hoje com 53 anos, trabalhava há mais de doze na companhia. Ela havia acabado de ser promovida a vice-diretora de comunicação e marketing para cerca de 20 lojas da Ikea. 

O motivo da dispensa, revelado posteriormente, havia sido uma investigação por parte da empresa, que desconfiava que ela não estivesse tão doente como havia declarado. 

A Ikea teria fornecido a um detetive particular o número de Social Security (espécie de CPF) de Virgine, seu contato de celular, detalhes de sua conta no banco e outros dados privados. 

Segundo uma análise de registros do tribunal feita pelo próprio  The New York Times, as investigações contra a Ikea estariam sendo conduzidas por várias razões, incluindo a examinação de candidatos a emprego, esforços para elaborar casos contra funcionários acusados de irregularidades e tentativas de destruir argumentos de consumidores que tinham queixas contra a empresa. 

De acordo com o jornal, os documentos judicais mostram que os investigadores cobravam de 80 a 180 euros por inquérito (algo em torno de 250 a 580 reais). Entre 2002 e 2012, o departamento de finanças da Ikea teria aprovado mais de 475 mil euros em notas fiscais de detetives. 


No mês passado, a empresa teve de pagar uma caução de 500 euros ao tribunal, depois do vazamento dos e-mails. A Ikea conduziu uma investigação interna sobre o assunto, a qual resultou na demissão de vários executivos, incluindo o ex-presidente da companhia para a França, Jean-Louis Baillot.

Até agora, não há indícios de que o problema ocorreu nos outros 42 países em que a empresa atua. 

A Ikea, conforme relata o The New York Times, se manifestou publicamente lamentando que alguns executivos tomaram medidas "contrárias aos nossos valores e padrões de ética". A empresa também diz que está incluindo o respeito à privacidade em um novo código de conduta. 

O caso Virgine

Segundo o The New York Times, Virgine havia passado por uma série de avaliações médicas do departamento de recursos humanos da Ikea. Ela também se apresentava regularmente ao escritório da Social Security, que havia aprovado as extensão da sua licença e dado a ela permissão para viajar ao Marrocos - onde ela tem propriedades - por mais de uma vez.

Virgine teria também entrado em contato com vários colegas do trabalho, manifestando a sua intenção de voltar às suas atividades assim que o médico permitisse.

De acordo com o jornal, em abril de 2009, ela foi convocada para uma reunião com o diretor de recursos humanos da Ikea, Claire Héry, mas acabou encontrando também o ex-presidente da empresa, Jean-Louis Baillot.

Os dois executivos, conforme a francesa contou ao jornal, a acusaram de exagerar sobre a sua doença, sem apresentar provas disso. À época, ela chegou a tentar suicídio. 

Mesmo depois da reunião, Virgine abriu um processo contra a empresa e, em 2010, um juiz determinou que a sua demissão foi "desprovida de justificativas reais e sérias". 

Ela não pediu para ser reintegrada à empresa, mas recebeu uma indenização de 60 mil euros. 

Entre os e-mails vazados, segundo o The New York Times, havia um sobre o caso de Virgine. A correspondência era de Jean-François Paris, diretor de gestão de risco da Ikea na França, no qual ele solicitava a um detetive particular que confirmasse se Virgine havia viajado para o Marrocos e se ela realmente tinha propriedades por lá.  

O detetive respondeu que tudo era verdade, anexando uma cópia do passaporte de Virgine, mostrando os selos de sua entrada e saída do Marrocos.

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