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Na Microsoft, fundo de R$ 60 milhões torna apoio a startups femininas parte da estratégia

Fundo de impacto que aporta recursos em pequenas empresas lideradas por mulheres comemora oito transações e pretende chegar aos R$ 100 milhões em 2023

Empreendedorismo feminino: Microsoft tem fundo de R$ 69 milhões para empresas femininas (Hinterhaus Productions/Getty Images)

Empreendedorismo feminino: Microsoft tem fundo de R$ 69 milhões para empresas femininas (Hinterhaus Productions/Getty Images)

A paridade de gênero é um prato cheio para a economia global. Um estudo da Kauffman Fellows Research Center (KFR), mostra que a inclusão de mulheres em setores estratégicos da economia pode alavancar o PIB mundial entre 3% a 6%. Mas, ainda que acumulem o potencial de transformar a ordem econômica, a falta de apoio ao empreendedorismo feminino segue sendo uma barreira para que esses números sejam alcançados — em 2019, por exemplo, apenas 2,2% do capital mundial de venture capital foi destinado a startups criadas por mulheres.

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Foi ao se deparar com estes dados que a Microsoft decidiu agir. Há pouco mais de dois anos, a gigante tecnológica fundou o WE Ventures, fundo dedicado exclusivamente a startups fundadas por mulheres ou com mulheres em cargos de diretoria.

De lá para cá, a empresa consolidou alguns cheques e chegou ao total de oito investidas no portfólio e uma movimentação de R$ 2 milhões. Em comum, todas as empresas são essencialmente startups de tecnologia com faturamento mínimo anual de R$ 200 mil, com pelo menos uma mulher em cargo de liderança que detenha ao no mínimo 20% de participação acionária.

“O We Ventures busca reverter o cenário da desigualdade no acesso a investimentos para startups femininas. É nossa maneira de incentivar a mudança no ecossistema", disse Franklin Luzes, vice-presidente de Inovação, Transformação e Startups em fase de crescimento acelerado na Microsoft Brasil, durante evento para jornalistas e parceiros na sede da Microsoft, em São Paulo.

Em apresentação dos principais resultados do WE Ventures até aqui, Luzes destacou a entrada de parceiros estratégicos no fundo, interessados em apoiar o empreendedorismo feminino no Brasil a partir da avaliação de empresas ligadas às suas expertises de mercado. Entre eles estão Suzano, responsável pelo braço de avaliação de cleantechs; Multilaser, que avalia pequenas empresas do varejo e Porto Seguro. "Teremos novos investidores em breve. A chamada está aberta e teremos muita procura", disse.

LEIA TAMBÉM: Empreendedorismo feminino em dados: a importância de ouvir mulheres que lideram negócios

Além do recurso financeiro, a Microsoft também busca fomentar o desenvolvimento de empresas novatas com um braço de venture builder, chamado de WE Impact. O projeto, coordenado pela Bertha Capital, impulsiona startups iniciais, conectando elas a parceiros estratégicos e oferecendo mentorias e suporte técnico em áreas como receita, time e produto. Do lado do estímulo financeiro, a WE Impact também costuma injetar até R$ 500 mil por empresa.

Na prática, o fundo atua sob a lógica do retorno financeiro e também do impacto, de olho na mitigação de riscos sociais e ambientais e na criação de soluções com algum retorno positivo ao planeta. "Não buscamos um retorno a todo custo, mas sim incentivar empresas potenciais no longo prazo" , diz Luzes.

“O We Impact nasceu da percepção de que precisamos ir além dos cheques”, disse Thiana Müller, diretora de Fundos da Bertha Capital.

Para o futuro, uma das ações esperadas está no fomento a outros grupos minoritários e recortes de raça — algo que promete ser ainda mais pontuado a partir do lançamento de uma cartilha elaborada em parceria com a ONU Mulheres e a consultoria em equidade de gênero e raça Gema. “Há uma preocupação em olhar para essa maior diversidade e todas as suas interssiconalidades", diz ela.

O material adapta os Princípios de Empoderamento das Mulheres da ONU com dicas práticas para empreendedoras à frente de negócios em diferentes estágio de maturidade, da ideação à escala. Como próximos passos, a WE Impact deve realizar treinamentos dos princípios para as startups do portfólio - e fora dele.

Quais são as startups investidas

Entre as oito startups femininas investidas pelo WE Ventures está a Mobees, que desenvolve um dispositivo inteligente para mídia out of home (OOH); a Smarkets, de compras coletivas e em escala para empresas; a Packid, de monitoramento de temperatura e umidade em caminhões de transportadoras e a Venuxx, plataforma de logística com uma rede de colaboradores 100% feminina.

Até o final do ano, a meta é investir em mais quatro empresas. A intenção é também ampliar os recursos do fundo para R$ 100 milhões — atualmente, são R$ 69 milhões captados.

O venture capital na América Latina

Durante o evento,também foram apresentados dados sobre o mercado de venture capital no Brasil e América Latina, dados resultantes de uma pesquisa elaborada pela Microsoft, Bertha e Associação de Investimento em Capital Privado na América Latina (LAVCA). O destaque está para o ritmo de transações na região, mesmo em meio ao cenário de menor liquidez para as startups globalmente.

Segundo a pesquisa, este tem sido um ano aquecido para investimentos, e os primeiros seis meses já consolidam 2022 como o segundo melhor ano para o venture capital global, atrás apenas de 2021 em número de transações. "É um ritmo bom", avaliou Carlos Ramos de La Vega, diretor de Venture Capital da LAVCA. Foram,  até o momento, 232 transações apenas no Brasil.

Os setores que mais receberam investimentos foram os de fintechs (30%), seguidos por empresas de software (20%), e-commerce (16%), proptechs (7%) e logística (6%).

Perfil dos fundadores

Segundo o estudo, a preferência de investidores por empreendedores com alguma experiência continua sendo dominante. Em 2022, 43% dos aportes foram para empresas com fundadores que já haviam conseguido levantar capital em rodadas de 2019.

Venture capital feminino

O estudo mostra um aumento nos investimentos em startups lideradas por mulheres - ou com, pelo menos, uma no conselho. Nos primeiros seis meses do ano, os investimentos de risco em startups femininas passaram a representar 31% do total movimentado na América Latina. Em 2019, o número era de 16%.

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