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Como a TAM montou em São Paulo sua base de crescimento nacional

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Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h16.

  • Veja o ranking dos 30 setores avaliados por EXAME SP
  • De sua sala, num prédio nos fundos do aeroporto de Congonhas, zona sul de São Paulo, Daniel Mandelli Martin, presidente da TAM, acompanha pousos e decolagens. Com o passar do tempo, o ronco das turbinas começa a incomodar o visitante. "Eu já me acostumei", diz Martin, que assumiu o cargo há pouco mais de um ano, após a morte do comandante Rolim Adolfo Amaro num acidente de helicóptero. Cerca de 890 milhões de reais, o equivalente a um terço de seu faturamento, provêm do movimento de passageiros nos aeroportos de Congonhas, em São Paulo, e de Cumbica, em Guarulhos. São mais representativos para a companhia do que os demais 51 aeroportos onde opera. Nenhuma outra companhia aérea embarca e desembarca tanta gente nessa região como a TAM. Foram mais de 5,4 milhões de passageiros no ano passado, de acordo com um levantamento da Infraero. Pode-se dizer que a TAM deve a São Paulo parte importante de seu crescimento. "Nosso foco está na melhor fatia do mercado brasileiro", diz Martin.

    A TAM cresceu em um ritmo acelerado nos últimos anos. Seu faturamento avançou de 912 milhões de reais em 1998 para 2,9 bilhões de reais no ano passado. Seu pulo-do-gato foi uma estratégia bastante simples: a companhia centralizou seus esforços em Congonhas. Os vôos internacionais foram deixados de lado. A empresa só ampliou suas rotas para fora do país no fim da década de 90. "A TAM adiou sua ida para o exterior porque sabia que, além das companhias nacionais, iria brigar com as gigantes lá de fora", diz Alexandre Torrano, analista da Itaú Corretora.

    Do 1,4 milhão de cartões de fidelidade emitidos, 300 000 pertencem a paulistanos. Outro número ilustrativo: em julho, mês de férias escolares, a TAM bateu seu recorde de passageiros transportados. Do 1,3 milhão de pessoas, 252 000 embarcaram em Congonhas e outros 109 000 em Guarulhos. Por causa da importância da região, é fundamental crescer fisicamente em São Paulo. "Planejamos investir em novos hangares, check-in e salas de embarque", diz Martin. A empresa vai tentar ampliar sua capacidade pelo caminho que considera mais fácil: quer ficar com os hangares da extinta Transbrasil, que disputa hoje com as concorrentes. Todas as inovações tecnológicas e de infra-estrutura são primeiro implementadas na Grande São Paulo. Foi nos aeroportos da região metropolitana que a TAM lançou o check-in móvel no início deste ano. O serviço chegou para dar agilidade ao embarque de passageiros. As atendentes saem dos boxes de recepção e vão até o cliente. O bilhete eletrônico foi outro serviço que nasceu em São Paulo, no começo deste ano. O passageiro faz a reserva por telefone ou pela internet, fornece o número do RG e recebe uma senha. Basta apresentar seu documento ou o código no check-in para embarcar. Com isso, a empresa consegue reduzir parte de seus custos para emitir bilhetes. (O que a TAM fez foi adaptar um sistema lançado pela concorrente Gol quando ela chegou ao mercado, no início do ano passado.) A TAM já convenceu 450 agências de viagem a adotar o bilhete eletrônico e espera uma adesão crescente nos próximos anos. No início deste ano, ofereceu um mimo aos passageiros que desembarcavam em São Paulo: quem voasse entre 17 e 19 horas ganharia uma tábua de frios, uma maneira de comemorar o fim de mais um dia. A idéia foi estendida para vôos entre as principais capitais do Brasil. Tudo o que é bem-aceito em São Paulo é levado para outras regiões. "Se dá certo aqui, é sinal que funcionará também em outras cidades", afirma Martin.

    São Paulo nem sempre foi o foco da TAM. Quando a empresa nasceu, em 1961, seus principais destinos eram o Paraná e o sul dos estados de São Paulo e Mato Grosso. O jogo só virou dez anos mais tarde, quando o comandante Rolim passou a dirigir a empresa. Não havia como ignorar que, em poucos anos, a região se tornaria o melhor mercado para as companhias aéreas. Hoje, a maior parte dos homens de negócios do país trabalha aqui e eles precisam se deslocar com rapidez para outras cidades. A TAM alugou um espaço da Infraero no aeroporto de Guarulhos. No terreno de 8 000 metros quadrados vai erguer um terminal de cargas. Ainda não há uma data certa para que isso aconteça. Hoje a companhia tem apenas um terminal, que fica nas imediações de Congonhas. Também em Cumbica, um restaurante vai dar lugar a uma sala vip para vôos internacionais. A inauguração deve acontecer até o começo do ano que vem. Além de comidinhas, a sala terá computadores conectados à internet para os passageiros usarem enquanto aguardam o embarque -- para aliviar o tráfego em Congonhas, a TAM está estimulando as conexões domésticas em Guarulhos.

    Com tudo isso, a questão é: por quanto tempo a TAM conseguirá manter-se na liderança do ranking de passageiros transportados na Grande São Paulo? Como as demais empresas do setor, a TAM está tendo de se ajustar à realidade do mercado. Com um prejuízo de 223 milhões de reais no primeiro semestre deste ano, a companhia anunciou em setembro a eliminação de nove destinos, quatro deles no estado de São Paulo. Demitiu mais de 500 funcionários, entre eles 158 pilotos. Também antecipoua a devolução de 21 dos 50 Fokker 100 de sua frota. Embora a empresa não admita, parece clara a tentativa de melhorar a imagem abalada pelos seguidos incidentes envolvendo o modelo.

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