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Mercado imobiliário impulsiona a Espanha, mas há riscos, diz Aznar

Em entrevista exclusiva a EXAME, o ex-primeiro-ministro espanhol José María Aznar explica como a construção civil acelerou a economia do país e alerta para as armadilhas desse processo

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h39.

O grande fluxo de imigrantes nos últimos anos, a estabilidade econômica, a geração de empregos e a facilidade do crédito são alguns dos fatores que impulsionaram o mercado imobiliário espanhol, segundo José María Aznar, ex-primeiro-ministro do país. Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista a EXAME:

EXAME - O que impulsionou o mercado imobiliário da Espanha?

José María Aznar - Nos últimos anos, o país investiu muito em infra-estrutura e os fundos da União Européia foram corretamente utilizados. Investimos em transporte, estradas, ferrovias, e os setores econômicos espanhóis mudaram muito. Entre as maiores mudanças está a transformação da Espanha num país de imigrantes. Eles contribuíram muito, especialmente em setores como a construção civil, que se converteu num dos mais importantes da Espanha. Isso porque convergem quatro fatores importantes. Há emprego numa área que os espanhóis consideram fundamental, que é a habitação - a Espanha é um país onde 90% das famílias são proprietárias de sua casa e, em muitos casos, de até dois imóveis. Há muitos tipos de financiamentos com juros diferenciados e hipotecas muito baratas - pode-se conseguir juros de 2,5% ou 3% ao ano. Em terceiro lugar, os imigrantes pressionavam por trabalho e ajudaram a acelerar o setor de construção. E, em quarto, muitos europeus começaram a investir em casas no país. Na Espanha, estão construindo mais casas e apartamentos que na Alemanha, Itália, França e Reino Unido juntos. E todo o esforço que fizemos em termos de infra-estrutura tornou muitas construtoras espanholas importantes. Isso não quer dizer que não haja problemas. Mas há que seguir reformando a economia e mantendo a estabilidade do país. Neste momento, a Espanha tem uma dívida externa enorme; então temos problemas de competitividade.

EXAME - A construção civil parece ser o principal motor da economia espanhola nos últimos anos - responsável por 70% do investimento total no país - uma espécie de bolha imobiliária. O senhor acredita que esse setor da economia ajuda realmente a acelerar o ritmo de crescimento e gerar empregos mais rapidamente? Seria um bom caminho para um país como o Brasil?

Aznar - Sim, sem dúvida nenhuma. Mas isso é resultado de um conjunto de políticas. É necessário haver bases econômicas muito sólidas. Esse boom imobiliário que ocorreu na Espanha é fruto de vários aspectos: a existência de emprego, que gera demanda; a chegada à Espanha de muito imigrantes (hoje, 10% da população de 45 milhões de habitantes são imigrantes); e os investimentos de muitos europeus no setor imobiliário da Espanha. Havia muitos tipos de financiamento com juros baixos que tornavam os investimentos atrativos. O que ocorre é que não é possível manter esse ritmo durante todo o tempo. É preciso adotar correções que não sejam dramáticas para a economia, que sejam correções suaves. Se o setor de construção sofrer uma queda brusca, as conseqüências serão graves para a Espanha. Por isso, é importante que o Estado mantenha a capacidade de investimento, e não incorra em gastos que não possa manter com uma economia ativa.

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