Negócios

Marfrig adquire processadora de carne bovina nos EUA por US$969 mi

Concluída a operação, a Marfrig passará a ser "a segunda maior processadora de carne bovina do mundo", disse a empresa

Marfrig Global Foods: empresa anunciou nesta segunda-feira acordo para aquisição de 51 por cento da norte-americana National Beef Packing Company (Paulo Whitaker/Reuters)

Marfrig Global Foods: empresa anunciou nesta segunda-feira acordo para aquisição de 51 por cento da norte-americana National Beef Packing Company (Paulo Whitaker/Reuters)

R

Reuters

Publicado em 9 de abril de 2018 às 09h26.

Última atualização em 9 de abril de 2018 às 17h23.

São Paulo - A Marfrig Global Foods anunciou nesta segunda-feira acordo para aquisição de 51 por cento da norte-americana National Beef Packing Company, quarta maior processadora de carne bovina dos Estados Unidos, por 969 milhões de dólares.

O acordo tornará a companhia brasileira a segunda maior processadora de carne bovina do mundo, atrás da também brasileira JBS, com faturamento consolidado de 43 bilhões de reais.

O anúncio fez as ações da Marfrig disparar nesta segunda-feira. O papel fechou em alta 18,8 por cento, cotado a 7,39 reais. O Ibovespa encerrou em queda de 1,8 por cento e as ações da JBS tiveram baixa de 1,2 por cento.

Analistas afirmaram que a companhia resultante da aquisição será menos endividada e melhor posicionada para lucrar no mercado global de carne bovina.

Apesar disso, o grupo norte-americano de defesa da concorrência Organização para Mercados Competitivos lamentou o aumento da participação de companhias estrangeiras no mercado dos EUA.

"Estas gigantes internacionais vão dominar o mercado de carne bovina dos EUA, colocando agricultores e pecuaristas norte-americanos à sua mercê", afirmou a entidade.

A transação também dará à Marfrig acesso ampliado ao mercado norte-americano quase um ano depois que os EUA proibiram importações de carne in natura do Brasil alegando questões de segurança alimentar.

"É mais da mesma tendência destas companhias em promoverem processos de consolidação e do apetite de empresas do Brasil para se diversificarem nos EUA", disse Altin Kao, analista na Steiner Consulting Group.

"O Brasil enfrenta barreiras para vender carne para os EUA e isto é apenas uma maneira para se exportar para o país. Se você não consegue vender carne lá, compre uma empresa dos EUA", acrescentou.

O presidente-executivo da Marfrig, Martín Secco, afirmou em entrevista a jornalistas que espera que os EUA suspendam o bloqueio às exportações de carne in natura do Brasil até meados do ano. Atualmente a Marfrig vende o produto para os EUA a partir do Uruguai, disse o executivo.

O Uruguai tem uma cota de exportação de 20 mil toneladas de carne in natura para os EUA sem cobrança de tarifas e a Marfrig é responsável por 25 por cento deste volume, disse Secco.

O BTG Pactual afirmou em relatório que o acordo tornará a Marfrig "uma operadora de proteína mais focada e menos alavancada, com uma presença altamente diversificada em carne bovina na América do Sul e Estados Unidos".

O vice-presidente financeiro da Marfrig, Eduardo Miron, afirmou que a companhia não prevê obstáculos para a aprovação do acordo para comprar o controle da National Beef nos EUA, pois a empresa brasileira tem pequena presença direta no país.

A Marfrig espera concluir no segundo trimestre a venda da divisão Keystone, fornecedora de alimentos processados para redes de restaurantes que foi responsável por 48 por cento do faturamento da companhia brasileira em 2017.

Transação

A National Beef tem capacidade de abate de 12.000 cabeças ao dia, é sediada em Kansas City, no Estado do Missouri. A empresa possui duas unidades de processamento, no Kansas, que respondem por cerca de 13 por cento da capacidade total de abate do mercado norte-americano. A empresa exporta para 40 países, incluindo o Japão e a Coreia do Sul, mercados atualmente fechados às exportações de carne brasileira.

"Com a transação, teremos operações nos dois maiores mercados de carne bovina do mundo, chegaremos a países consumidores extremamente sofisticados e conseguimos crescer mantendo uma rigorosa disciplina financeira", disse Secco.

Os resultados da National Beef serão consolidados pela Marfrig, reduzindo o nível de alavancagem da empresa brasileira para 3,35 vezes o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda), ante 4,55 vezes no fim do ano passado, disse a Marfrig.

Além disso, com a venda da Keystone, a Marfrig espera que sua alavancagem caia para 2,5 vezes até o fim de 2018. A venda da unidade vai financiar dois empréstimos-ponte, no valor total de 1 bilhão de dólares.

A National Beef, que faturou no ano passado 7,3 bilhões de dólares, ou 24,3 bilhões de reais, é controlada pela holding de investimento norte-americana Leucadia National Corportation, desde 2011, com 79 por cento de participação.

A Leucadia se manterá como acionista minoritária da empresa, com uma fatia de 31 por cento do capital total. A US Premium Beef, associação de produtores norte-americanos, ficará com 15 por cento e outros acionistas com os 3 por cento restantes.

"Tanto a Leucadia quanto os demais investidores se comprometeram a manter suas ações da National Beef por um período mínimo de cinco anos", disse a Marfrig.

Os principais executivos da National Beef permanecerão na empresa, que segue sob a gestão de Tim Klein, atual presidente-executivo, disse a Mafrig. O conselho de administração da National Beef será composto por nove membros, dos quais cinco serão indicados pela Marfrig, dois pela Leucadia e dois por outros acionistas minoritários.

A Marfrig disse que espera concluir a aquisição da National Beef até o fim do primeiro semestre deste ano.

(Com reportagem adicional de Raquel Stenzel)

 

Acompanhe tudo sobre:Carnes e derivadosEmpresasEstados Unidos (EUA)Fusões e AquisiçõesMarfrig

Mais de Negócios

De entregadores a donos de fábrica: irmãos faturam R$ 3 milhões com pão de queijo mineiro

Como um adolescente de 17 anos transformou um empréstimo de US$ 1 mil em uma franquia bilionária

Um acordo de R$ 110 milhões em Bauru: sócios da Ikatec compram participação em empresa de tecnologia

Por que uma rede de ursinho de pelúcia decidiu investir R$ 100 milhões num hotel temático em Gramado

Mais na Exame