Maré negra: BP não será tão afetada por ação americana
Apesar da queda nas ações após a abertura de processo pelo governo americano, resultados mostram que empresa está se recuperando do vazamento no Golfo do México
Da Redação
Publicado em 16 de dezembro de 2010 às 15h47.
Londres - Nove meses depois do início da catástrofe da maré negra, no Golfo do México, a companhia de petróleo BP enfrenta uma ação do governo americano que poderá custar muito caro à empresa, mas a gigante britânica parece ter reunido recursos suficientes para se recuperar.
O governo Obama apresentou na quarta-feira, pela primeira vez, uma ação de responsabilidade civil contra a companhia de petróleo e para que seja reembolsado em bilhões de dólares, além dos 20 bilhões já concedidos através de um fundo especial de indenização.
A ação da BP na Bolsa de Londres, logicamente, sentiu o golpe, perdendo até 3% durante a manhã, antes de se recuperar um pouco e de limitar as perdas a 1,50%, a 469,40 pences, na metade da sessão. "Os mercados estão longe de ver isso como um drama", assegurou à AFP David Jones, da consultoria IG Index.
Apesar disso, esta é má notícia para a companhia britânica que ainda não virou totalmente a página de um episódio desastroso para a sua imagem, assim como para sua cotação em Bolsa, e do qual acreditava-se que ela não conseguiria se recuperar.
"A BP recebe um novo golpe no momento em que a companhia pode esperar mais dificuldades para se recuperar das consequências da maré negra", disse nesta quinta-feira Manoj Ladwa, analista da ETX Capital, lembrando o temor principal dos investidores: que a BP adie novamente o pagamento de dividendos, que deverá ser feito no início de 2011 depois de ter sido bloqueado no verão (Hemisfério Norte) a pedido das autoridades americanas.
Mas a maior parte dos especialistas se recusa a dramatizar a situação, assim como a própria empresa que, em uma primeira reação, ressaltou que a ação americana "não equivale de forma alguma a uma conclusão de culpa".
Fiel a sua estratégia conciliadora depois da chegada de Bob Dudley à direção americana, a BP também ressaltou a disposição de "cooperar plenamente" com as autoridades americanas num processo que poderá durar anos.
A companhia pode se permitir uma certa serenidade, pois já abasteceu seus cofres com 40 bilhões de dólares para cobrir todas as despesas ligadas à maré negra. Ela também cumpriu dois terços de um vasto programa de cessão de ativos, que deverá render 30 bilhões de dólares até o final de 2011.
A BP pode, também, se vangloriar de uma espetacular obtenção de benefícios, registrando no terceiro trimestre de 2010 um lucro líquido de 1,785 bilhão de dólares. E o aumento recente do valor do barril do petróleo acena com um bom presságio para o futuro próximo.
Sinal da confiança intacta do mercado, a corretora Evolution Securities aconselhava nesta quinta-feira o título para compra, estipulando uma margem de progressão de cerca de 10% nos próximos meses.
Também estimava que as compensações financeiras, que poderiam ser exigidas à BP devido a leis ambientais americanas, deverão ficar abaixo do esperado, já que oito outras companhias são alvos do processo, entre elas a Transocean, proprietária da plataforma que explodiu em 20 de abril.
David Jones, da IG Index, considera que a nova ação americana deverá custar no final "5 bilhões de dólares" à BP, algo dentro do esperado para uma companhia que conseguiu recuperar valores o suficiente para pôr um ponto final aos rumores de quebra.