Marcelo Odebrecht: agora, o empresário de 46 anos se encontra na mais improvável das circunstâncias para uma pessoa de tal prestígio (Kiyoshi Ota/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 19 de junho de 2015 às 20h41.
São Paulo - Com nervos de aço e uma vontade implacável de crescer, Marcelo Odebrecht assumiu o comando do conglomerado de construção e engenharia de sua família para levar a empresa a lugares onde poucos se arriscariam, como Líbia e Cuba.
No Brasil, ele fez algo que poucos empresários fariam: defendeu publicamente presidentes de esquerda no país e suas políticas.
Agora, o empresário de 46 anos se encontra na mais improvável das circunstâncias para uma pessoa de tal prestígio: em custódia da polícia.
Nesta sexta-feira, o presidente da Odebrecht foi preso na mais recente fase da operação Lava Jato, que investiga um escândalo bilionário de corrupção envolvendo a Petrobras , funcionários da estatal, executivos de empreiteiras, políticos e partidos.
Sua prisão foi a mais proeminente de um executivo brasileiro desde que o escândalo estourou no ano passado.
Um de quatro irmãos, Marcelo vinha comandando uma era de ouro para o grupo familiar, que tem 15 divisões e presença em 21 países. Ele sucedeu seu pai Emílio no fim de 2008, em meio à crise financeira global. Engenheiro com formação em finanças, Marcelo transformou o conglomerado no maior empregador do Brasil e em um dos cinco maiores grupos privados do país.
Sua ascensão coincidiu com o segundo mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tinha o objetivo de transformar o Brasil em uma potência global através da promoção de empresas nacionais.
"Sempre que uma nova elite política entra no sistema, existe uma troca de elites empresariais. Do ponto de vista analítico, isso pode ter acontecido com esse grupo como aconteceu com outros grupos empresariais no passado", disse o diretor do Instituto Análise, Alberto Carlos Almeida.
Marcelo tem sido um firme defensor de Lula e de sua sucessora Dilma Rousseff. Em editorial em abril de 2013 publicado na Folha de S. Paulo, ele escreve que "o ex-presidente Lula tem feito o que presidentes e ex-presidentes dos grandes países do hemisfério Norte fazem, com naturalidade, quando apoiam suas empresas nacionais na busca de maior participação no comércio internacional".
Não há clareza sobre como a política tem suportado os negócios da Odebrecht. Mas o escândalo da Petrobras, um cliente-chave do grupo desde a década dos anos 1960, colocou as relações do grupo com o Estado sob maior escrutínio.
Alguns dos maiores projetos da Odebrecht, como a construção de um porto em Cuba, estão sendo financiados com empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Desde que Marcelo assumiu o comando da Odebrecht, o BNDES forneceu cerca de 5,8 bilhões de reais em empréstimos para financiar projetos do grupo no exterior.
Procuradores federais abriram no mês passado uma investigação preliminar para saber se Lula usou sua influência para persuadir o BNDES a emprestar dinheiro para a Odebrecht a um custo abaixo do mercado.
Tanto Lula quanto a Odebrecht têm repetidamente negado qualquer ação ilícita.