O Flamengo possui dívida de R$ 750 milhões (US$ 351 milhões), dois terços dos quais são impostos sem pagar, segundo Eduardo Bandeira de Mello, presidente do clube (Alexandre Vidal/Fla Imagem)
Da Redação
Publicado em 6 de junho de 2013 às 14h58.
São Paulo – Em um muro na sua sede carioca, o Flamengo afirma que é “o clube mais amado do mundo”. O time de futebol está contando com esse amor para ajudar a salvá-lo do Fisco.
O clube mais popular do Brasil é também o mais endividado: R$ 750 milhões (US$ 351 milhões), dois terços dos quais são impostos sem pagar, segundo Eduardo Bandeira de Mello, presidente do clube.
Torcedores famosos como Carlos Langoni, ex-diretor do Banco Central, e grandes executivos de companhias brasileiras uniram-se à diretoria do clube para ordenar suas finanças eliminando dívidas e agora arrecadando dinheiro com novos sócios e patrocínios.
“Sabíamos que as contas iam ser ruins, mas ninguém sabia exatamente quão ruins”, disse Bandeira de Mello, 60, economista nomeado para o cargo em dezembro, em uma entrevista no mês passado.
No país que sediará a Copa do Mundo no ano que vem e os Jogos Olímpicos em 2016, o estado de clubes como Flamengo é o lado escuro da festa. Uma torcida autoproclamada de 40 milhões de pessoas e uma maior renda por direitos de transmissão e marketing durante um boom que quadruplicou a economia brasileira em uma década não conseguiram reverter anos de má gestão financeira.
“Os clubes brasileiros não têm responsabilidade”, afirmou Amir Somoggi, consultor de vários dos maiores clubes do país. “Até agora são 10 ou 20 anos de má gestão. Talvez precisemos de mais 10 ou 20 anos para que essa situação mude”.
A carga da dívida
Segundo o Ministério do Esporte, os clubes brasileiros devem aproximadamente R$ 3 bilhões. Em um e-mail do dia 28 de maio, o Ministério declarou que proporá uma lei para ajudá-los a renegociar seus empréstimos em troca de uma reestruturação da gestão dos times.
“Não se trata de perdão ou anistia”, disse o Ministério, que acrescentou que os clubes que não conseguirem cumprir as condições poderiam ser penalizados com deduções de pontos.
Em virtude de um acordo com a Receita Federal, quase 60 por cento da renda do Flamengo será utilizada para pagar dívidas fiscais nos próximos três anos, antes de ser estabelecido um programa mais flexível para que o clube “possa voltar a respirar”, disse Bandeira de Mello.
O presidente contou que a última parcela de um novo acordo de R$ 35 milhões por temporada por uniformes da Adidas AG nem sequer chegou às contas bancárias do clube.
Além de Langoni, 68, a nova diretoria é composta por outras personalidades do mundo comercial do Rio de Janeiro, como Luiz Eduardo Baptista, 50, presidente da operadora de TV a cabo Sky Brasil, e Rodolfo Landim, 55, ex-presidente da principal companhia do bilionário Eike Batista, a petrolífera OGX Petróleo Gás Participações SA.
“Se não fizéssemos parte, o Flamengo teria que fechar as portas porque a situação seria insuportável”, disse Bandeira de Mello, que foi executivo do Banco de Desenvolvimento Nacional Brasileiro durante 30 anos.
“Então por que não oferecer parte da nossa reputação, do nosso tempo e da nossa credibilidade ao Flamengo? É a nossa paixão e estamos cansados de sofrer”.
Atraente para os fãs Neste ano o clube criou um sistema de sócios com uma mensalidade de R$ 39 a R$ 200 com prioridade no acesso a ingressos e descontos em mercadorias. Aproximadamente 18.000 pessoas se registraram no primeiro mês, segundo Bandeira de Mello.
A dívida do clube aumentou não apenas por falta de pagamento de impostos, mas também por empréstimos e pelos salários de jogadores como Ronaldinho.
Ainda não está claro como o governo permitiu que os clubes brasileiros se endividassem tanto. “Foi uma mistura de irresponsabilidade da parte dos clubes e falta de vontade política das autoridades”, disse Baptista.
“No Brasil, os políticos sabem que o futebol é importante para ganhar eleições. Mas isso é ridículo. Não é tão importante assim para deixar que os clubes não paguem suas dívidas”.