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Livraria Cultura pede recuperação judicial em meio à crise do mercado

Incertezas do cenário econômico brasileiro e a crise do mercado editorial, segundo comunicado, foi um dos motivos que levou à atual crise

Imagem de arquivo: nos últimos meses, a empresa deixou de pagar seus fornecedores, ou atrasar os pagamentos (Bia Parreiras/Site Exame)

Imagem de arquivo: nos últimos meses, a empresa deixou de pagar seus fornecedores, ou atrasar os pagamentos (Bia Parreiras/Site Exame)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 25 de outubro de 2018 às 07h54.

Última atualização em 25 de outubro de 2018 às 10h13.

São Paulo – A Livraria Cultura entrou com pedido de recuperação judicial, segundo comunicado distribuído na quarta-feira, 24, a editoras e outros credores da empresa, como empresas de shopping center. Mesmo depois de receber, em 2017, uma injeção de cerca de R$ 130 milhões para assumir as operações da rede francesa Fnac no País, a companhia não conseguiu solucionar seus problemas financeiros e teve de recorrer à proteção da Justiça.

Caso a Justiça aprove a recuperação, a empresa ganhará um prazo de seis meses para negociar seus débitos. As dívidas bancárias da livraria seriam de R$ 70 milhões, conforme apurou o jornal O Estado de S. Paulo, além de um valor considerável com outros fornecedores. A companhia foi criada por Eva Herz, em 1947, e atualmente é comandada pela terceira geração da família.

Os problemas da Livraria Cultura começaram a ficar evidentes em 2015. Desde então, o faturamento da companhia teria caído em quase 30%. A receita reportada pela empresa foi de R$ 440 milhões em 2014. Em 2016, o valor recuou para R$ 360 milhões. Desde então, a Cultura, que tem capital fechado, deixou de divulgar o faturamento, embora o setor afirme que os números pioraram e que o negócio opera no vermelho. Nos últimos quatro anos, a rede dispensou cerca de 40% de seus funcionários.

Editoras

Os atrasos nos pagamentos às editoras pela companhia, superam a marca de seis meses, dizem fontes do setor. O problema é agravado pelo fato de a Cultura pegar os livros em consignação. A dívida com editoras se refere, portanto, a títulos efetivamente vendidos, pois a consignação permite o retorno dos exemplares encalhados. O problema do mercado editorial é agravado também por atrasos de pagamentos da Saraiva, que hoje também passa por uma reestruturação.

No comunicado distribuído na quarta-feira, 24, a Cultura afirmou que o pedido de recuperação judicial foi necessário em razão do cenário econômico brasileiro e do mercado editorial – que, segundo a companhia, encolheu 40% desde 2014. Com o pedido de recuperação judicial, a empresa diz pretender “normalizar, em um curto espaço de tempo” os compromissos firmados com os fornecedores.

No comunicado, um dos objetivos da Cultura é se tornar mais digital – segmento que já disputa com a gigante Amazon. “Já somos uma empresa mais enxuta, eficiente e preparada para enfrentar os desafios do varejo na era do e-commerce”, diz a livraria. “Estamos sintonizados à ideia de que nossas lojas não vendem apenas produtos e serviços, mas também experiências que transformam a vida de nossos clientes.”

A Cultura recebeu cerca de R$ 130 milhões da Fnac para assumir a operação da rede francesa no País. Parte desses recursos, segundo fonte próxima à empresa, foi usada para aliviar os problemas financeiros que a empresa enfrentava e para comprar o site de livros usados Estante Virtual. Quinze meses após o negócio com a Fnac, a Cultura fechou todas as lojas que a estrangeira tinha no País.

A empresa vem enxugando a própria operação. Neste mês, anunciou o fechamento de duas unidades no Rio de Janeiro: a do centro da cidade, e a do Fashion Mall, em São Conrado, passando a atender o mercado carioca só pela internet. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Leia o comunicado da Livraria Cultura na íntegra:

"As incertezas do cenário econômico brasileiro e, dentro dela, a crise do mercado editorial, que encolheu 40% desde 2014, fez com que a Livraria Cultura passasse a enfrentar dificuldades, também. Infelizmente, após quatro anos de recessão, o cenário geral no País não apresenta sinais claros de melhoria.

Diante disso, a Livraria Cultura iniciou, há três meses, um duro programa de ajustes: eliminamos lojas de baixo resultado; redimensionamos o quadro de funcionários; cortamos despesas de toda ordem; fizemos uma revisão profunda do planejamento de curto e médio prazos.

Optamos também pela recuperação judicial da Livraria Cultura, cujo pedido está sendo apresentado hoje aos órgãos competentes. Com essa medida visamos normalizar, em curto espaço de tempo, compromissos firmados com nossos fornecedores, preservando a saúde da empresa criada por Eva Herz em 1947, a manutenção de empregos e gerando mais estímulo para crescer.

Já somos hoje uma empresa mais enxuta, eficiente e preparada para enfrentar os desafios do varejo na era do e-commerce. Queremos atuar de forma agressiva nos canais digitais e, ao mesmo tempo, iremos manter poucas, mas ótimas lojas físicas pelo País. Estamos 100% sintonizados à ideia de que elas, as nossas lojas, não vendem apenas produtos e serviços. Vendem experiências que transformam a vida do cliente.

Estamos confiantes: acreditamos que a Livraria Cultura deu a largada para os próximos 70 anos."

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