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Leilão de petróleo abrirá fronteiras após 5 anos de espera

Leilão de direitos de exploração será teste importante para o governo e para a indústria do petróleo, que lutam para avaliar o potencial de novas reservas no país


	 

	No último leilão, em 2008, o Brasil era o "queridinho" da indústria de petróleo do mundo. A descoberta do chamado campo de Lula de 2007 foi uma das maiores planeta nas últimas décadas
 (Getty Images)

  No último leilão, em 2008, o Brasil era o "queridinho" da indústria de petróleo do mundo. A descoberta do chamado campo de Lula de 2007 foi uma das maiores planeta nas últimas décadas (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 10 de maio de 2013 às 16h38.

Rio de Janeiro - O leilão de direitos de exploração de petróleo e gás natural no Brasil na próxima semana, o primeiro em cinco anos, será um teste importante para o governo e para a indústria do petróleo, que lutam para avaliar o potencial de novas reservas gigantes no país.

No leilão na próxima terça e quarta-feira, a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), que regula o setor, vai oferecer a 64 companhias de petróleo brasileiras e internacionais os direitos sobre 289 áreas de exploração e produção em terra e no mar.

No último leilão, em 2008, o Brasil era o "queridinho" da indústria de petróleo do mundo. A descoberta do chamado campo de Lula de 2007 foi uma das maiores planeta nas últimas décadas.

Depois que mais campos gigantes foram encontrados nas proximidades, pesquisadores da Universidade Estadual do Rio de Janeiro estimaram que o polígono do pré-sal se estende ao redor de Lula e pode conter 100 bilhões de barris de petróleo, o suficiente para suprir todas as necessidades do mundo por mais de três anos.

A empolgação, no entanto, tem esmaecido. Extenuantes batalhas políticas sobre como dividir os recursos acabou interrompendo uma década de leilões anuais de petróleo e elevaram o controle governamental sobre a riqueza, desestimulando novos investimentos. O crescimento da produção desacelerou e atrasos em projetos se alongaram.

Mesmo as empresas com grandes apostas no Brasil, como a Chevron o BG Group, repensaram planos porque uma falta de novas áreas tornou mais difícil justificar mais gastos.

Enquanto isso, a produção brasileira de petróleo e gás caiu para 2,3 milhões de barris de óleo equivalente por dia em março, a menor em três anos e meio. A produção está 15 % abaixo das máximas de 2012 e menos da metade do que o Brasil espera produzir em 2020.

No segundo trimestre de 2012, a estatal Petrobras registrou seu primeiro prejuízo desde 1999. A empresa possui 92 % da produção de petróleo do Brasil.


"O governo tem muita coisa em jogo neste leilão, porque o Brasil não é tão atraente para os investidores quanto era há cinco anos", disse o diretor do Instituto Brasileiro de Infraestrutura, Adriano Pires.

"A questão que paira sobre a venda é a credibilidade", disse Pires, um crítico de longa data da política de petróleo do governo e ex-membro da diretoria da ANP. "E leva-se tempo para restaurar a credibilidade."

Apenas esperando para receber

O governo tem uma visão mais otimista. Ela espera arrecadar mais de 1 bilhão de reais com a venda, ou mais que o dobro dos lances mínimos previstos nas regras do leilão.

Das 64 empresas participantes, número recorde, 44 já deram garantias financeiras necessárias para os lances, disse a presidente da ANP, Magda Chambriard, em um evento em Houston (EIA) na quinta-feira. Empresas de seis continentes estão qualificadas.

As ofertantes qualificadas incluem BG, Chevron e Petrobras, além de Exxon Mobil, Royal Dutch Shell, a norueguesa Statoil, a espanhola Repsol, a chinesa CNOOC, a BP Group da Grã-Bretanha, a australiana BHP Billiton e a Sonangol, de Angola.

"Este é um grande resultado para nós; estou apenas esperando o dinheiro", disse Chambriard.

A maioria dos blocos está em regiões de fronteira, ou em áreas com pouca ou nenhuma produção de petróleo ou gás sub-explorado.

O novo marco regulatório do petróleo elaborado na sequência da euforia da descoberta Lula reforçou o controle estatal das regiões mais promissoras e produtivas. Brasil planeja vender blocos nessa área, o chamado polígono do pré-sal, em novembro, seguindo regras especiais e restritas.

Os blocos foram divididos em quatro zonas terrestres e sete áreas marítimas, em 11 bacias sedimentares. As áreas com maior potencial de atrair grande número de interessados são os blocos marítimos nas bacias Foz do Amazonas e Ceará e blocos terrestres na bacia do Parnaíba, disse Hernani Chaves, um geólogo e pesquisador emérito da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.

Sonhos de petróleo equatorial

Foz do Amazonas e o Ceará fazem parte da região da margem equatorial do Brasil, no litoral norte do Brasil, onde muitos geólogos esperam encontrar recursos semelhantes aos de países do oeste africano, como Nigéria e Gana, segundo Chaves.


A Nigéria, que faz parte da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), é o maior produtor da África, com extração de 2,5 milhões de barris por dia.

Milhões de anos atrás, a África e o Brasil estavam ligados. Geólogos dizem que os sedimentos à base de carbono, que eventualmente resultaram em petróleo, depositaram-se em um enorme vale que se abriu quando os continentes se afastaram ao longo de milênios.

O campo de Lula está em uma área uma vez conectada a Angola, membro da OPEP e segundo maior produtor da África.

A Foz do Amazonas é adjacente às águas da Guiana Francesa onde a britânica Tullow Oil encontrou petróleo em 2011. A empresa também encontrou petróleo em Gana em 2007. Os blocos Ceará estão perto de vários campos produtores.

"Apesar de a Foz do Amazonas ser muito difícil tecnicamente, devido às águas profundas, a falta de portos próximos e correntes muito fortes, há entusiasmo sobre suas chances", disse Chaves.

"O Ceará, no entanto, é um pouco mais conhecido e mais próximo a portos utilizáveis." Dois dos blocos terrestres da bacia do Parnaíba estão perto de áreas onde a OGX e a MPX Energia, empresas controladas pelo bilionário brasileiro Eike Batista, estão produzindo gás natural.

"O melhor lugar para encontrar petróleo ou gás é perto de onde ele já foi encontrado", disse Chaves, responsável por algumas das mais extensas pesquisas de petróleo do Brasil. "Ainda assim, eu não estou animado com tudo que está sendo ofertado. Alguns blocos têm chances muito pequenas." 

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