Negócios

Leia os principais trechos da entrevista em que Jorge Gerdau fala sobre sua sucessão

A Gerdau fez neste ano uma profunda reformulação em sua diretoria. Após mais de duas décadas no comando, Jorge Gerdau passou ao filho a presidência do grupo. Saiba como.

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h39.

Trechos da entrevista que Jorge Gerdau Johannpeter concedeu à EXAME: 

QUANDO SOUBE QUE O FILHO SERIA O CEO

"Eu poderia dizer que sempre soube, mas não é assim. Foi em agosto de 2006, quando o processo chegou ao final. O tipo de processo que nós fizemos -- ouvindo consultores, fazendo debates, avaliando todos os candidatos, inclusive de fora da família, analisando -- não poderia ser rápido. No final havia quatro nomes fortes, com as características que são exigidas para o cargo, o tipo de perfil, de contribuição que ele poderia dar, do balanceamento entre as competências profissionais e características pessoais.

E quando o nome de consenso surgiu foi o do André. Eu evidentemente fiquei muito satisfeito porque eu temia, pela minha experiência pessoal, ainda mais numa empresa como a nossa que tem uma tradição de liderança exercida com base em valores, pelos nossos valores. Esse tipo de filosofia no grupo é muito forte. Então, fiquei satisfeito porque senti segurança de que haveria uma continuidade, que a cultura estaria resguardada." 

COMO DESCREVE O FILHO

"O André conduz com extrema habilidade e cuidado, mas sabendo muito bem o que ele quer. Sem fazer barulho, no fim todo mundo está fazendo as coisas como ele gosta. Eu sou um líder mais barulhento que ele. É importante ressaltar isso porque no mundo existem líderes com tudo que é perfil. Não existe fórmula única." 

DEFINIÇÃO DAS ATRIBUIÇÕES

"Durante o processo de sucessão, fomos nos preparando, definindo as atribuições do conselho de administração e do comitê executivo. Definimos os processos de relacionamento do conselho com o comitê executivo que o André está comandando. Analisamos que tipo de atividades eu ainda manteria, especialmente porque ao longo dos anos em que fui presidente, criei uma rede de relacionamento institucional. Esse é um ponto que, querendo ou não, a transição é gradativa. A liderança dos negócios, a relação com o mercado de capitais, acionistas, novos negócios, novos investidores, fica totalmente na mão do André. Comigo ficou essa parte de relacionamento com o governo, com o presidente Lula, e alguns assuntos complicados como reforma tributária, preço da energia. Acho que está bem definido e andando bem." 

CEO e COO

"Definimos essa estrutura de gestão, com CEO e COO -- André Gerdau Johannpeter é o CEO e o Cláudio Gerdau Johannpeter é o COO do grupo. Em algumas empresas nossas, no exterior, já usávamos essa estrutura. Ela atende bem a um aspecto: quando você tem muita atividade estratégica, com crescimento, desenvolvimento rápido, e de outro lado, intensa atividade operacional, as duas precisam ser bem cuidadas. Essa é uma solução inteligente do meu ponto de vista. E percebo que, embora sejam apenas oito meses, está funcionando muito bem." 

A NOVA ROTINA

"A maior mudança na minha rotina é que antes eu estava permanentemente preocupado, acompanhando a maioria dos problemas do dia-a-dia. Mesmo à distância, porque eu tinha muitas atividades externas, institucionais, eu estava com uma inquietação constante. Eu hoje estou relaxado desse compromisso. Continuo indo na sede da empresa quando estou em Porto Alegre, mas estamos construindo outro prédio para que o conselho saia de dentro da sede administrativa. Mas as pessoas estão disciplinadas, não estão mais batendo na minha porta. Só têm trazido para mim problemas ligados às áreas que eu estou cuidando, especialmente a condução política. Sobre o dia-a-dia eu praticamente não falo mais com as pessoas. A não ser uma ou outra informação que às vezes me pedem. Eu continuo fazendo as atividades externas, políticas, com muita intensidade. E, no momento, estou viajando mais (30% mais) falando mais e até pretendo diminuir esse ritmo porque estou sendo bastante absorvido." 

MUDANÇA PARA OUTRO PRÉDIO

"Essa mudança de prédio (do conselho de administração que ele preside), eu antes achava que era mais importante. Hoje já não acho, porque a separação de responsabilidades, que é o que importa, está funcionando melhor do que eu esperava. Mas mal não faz." 

ATUAÇÃO DE ANDRÉ COMO CEO

"O André percebe bem o que é da responsabilidade do CEO. Eu pessoalmente achei importante essa posição de liderança que ele está assumindo junto ao mercado de capitais (participa de todas as teleconferências e reuniões Apimec). Eu não vinha mais fazendo isso. Mas tenho convicções profundas que para o mercado de capitais, para a comunidade e os negócios, a presença do CEO comunicando diretamente as coisas, é muito bom. E também para os negócios. O CEO tem que mostrar a cara, tem que sinalizar como ele quer liderar os negócios. O André assumiu esse papel. Foi uma decisão dele. Ele maturou e me disse: eu acho que tenho que pegar esse negócio. Quando ele me falou, achei que era mesmo necessário." 

MAIORES DESAFIOS DO NOVO CEO

"A expansão é cada vez mais rápida e é cada vez mais difícil adquirir ativos siderúrgicos e transferir nossos padrões e nossa cultura. Mas temos uma estrutura matricial e conseguimos replicar nossa tecnologia e sistema de gestão. Não é simples. O maior dilema é crescer com rentabilidade. Graças a Deus, essa bola tá com ele agora (rsrs)"

Acompanhe tudo sobre:[]

Mais de Negócios

ApexBrasil e EXAME lançam o prêmio Melhores dos Negócios Internacionais 2024. Inscreva-se

Como a chef carioca Alessandra Montagne despontou na terra de Alain Ducasse

'Fabricado em Cantão': marcas chinesas garantem espaço nos Jogos Olímpicos de Paris

Uber expande frota com 100 mil carros elétricos da BYD na América Latina e Europa

Mais na Exame