O iEV20 possui autonomia de 400 quilômetros e custo estimado de abastecimento de 23 reais (JAC Motors/Divulgação)
Juliana Estigarribia
Publicado em 24 de setembro de 2019 às 06h00.
Última atualização em 24 de setembro de 2019 às 06h00.
A chinesa JAC Motors está preparada para uma mudança radical de atuação no Brasil. Conhecida pelos automóveis com bom custo-benefício, agora a marca vai oferecer um portfólio de cinco modelos 100% elétricos, incluindo o que deve ser o carro mais econômico do país. A mudança de estratégia promete ser a reestruturação da montadora localmente.
“Eu tenho certeza que essa vai ser uma virada da marca no Brasil”, afirma Sérgio Habib, presidente da JAC no país. “Se vendermos 100 a 200 carros elétricos por mês, isso muda nosso negócio.”
A montadora vai trazer, a partir de dezembro, três SUVs, uma picape e um caminhão pequeno, todos com motores 100% elétricos. O primeiro a chegar será o utilitário esportivo iEV20. O modelo é a grande promessa da marca no quesito economia de combustível.
O iEV20 possui 400 quilômetros de autonomia, ou seja, pode rodar toda essa quilometragem sem precisar de uma nova carga. Em uma cidade como São Paulo, por exemplo, o custo por quilômetro rodado é de cerca de 5 centavos de real. Para “encher o tanque”, a montadora informa que seriam necessários aproximadamente 23 reais em energia elétrica. Segundo a JAC, esse valor é sete vezes mais barato do que o carro mais econômico do mercado brasileiro.
A linha de elétricos da JAC possui um aplicativo para smartphone que permite a verificação da carga da bateria, da autonomia, situação de recarga durante o carregamento e conta com um sistema de rastreamento e telemetria com diagnóstico à distância - se autorizado pelo proprietário. Também torna possível o controle elétrico dos vidros, abertura das portas e acionamento do ar-condicionado de forma remota.
A soma de todas as revisões do modelo, dos 10 mil aos 60 mil quilômetros, é de 600 reais. Esse valor costuma corresponder a apenas uma das revisões obrigatórias da concorrência. Um dos fatores que contribuem para esse custo é a baixa complexidade do carro elétrico - chega a ter 10 vezes menos peças do que um modelo a combustão.
Para o presidente da JAC, dois grandes desafios precisam ser levados em consideração durante o processo de maturação do mercado de veículos elétricos: o desenvolvimento de uma infraestrutura de recarga e a autonomia dos modelos.
Atualmente, nenhuma empresa está autorizada a vender energia elétrica, além das próprias distribuidoras. Neste sentido, um posto de gasolina não poderia abastecer, por exemplo, os carros elétricos. Nos grandes centros, onde os condomínios residenciais são muito comuns, também não é permitido usar energia das áreas comuns.
Tudo isso leva ao outro desafio, a autonomia. Os carros elétricos, hoje, ainda são essencialmente urbanos. Mas para a JAC Motors, esse cenário está com os dias contados. “Dos 90 milhões de barris de petróleo consumidos por dia no mundo, 25 milhões são destinados aos veículos leves e caminhões. No médio e longo prazo, o elétrico é efetivamente a melhor solução para combater as emissões de CO2”, diz Habib.
Um terceiro desafio para aqueles que desejam comprar um carro elétrico no Brasil ainda é o preço. Diante da baixa escala de produção, os veículos 100% elétricos custam caro no país, e com a JAC não será diferente: os modelos terão preço sugerido a partir de 119,9 mil reais.
A empresa chegou ao país em meados de 2010 e participou do auge do mercado automotivo brasileiro. À época, as montadoras estavam experimentando um crescimento vertiginoso. As chinesas Chery e JAC, além da sul-coreana Kia, lideravam a ofensiva de asiáticas em solo brasileiro.
A JAC, em particular, investiu cifras milionárias em marketing - durante o horário nobre de TV aos domingos - e em peças e serviços para garantir sua fatia no bolo. A marca chegou a ter 70 concessionárias no país em 2011, com vendas próximas a 40 mil unidades naquele ano.
Mas com o programa do governo brasileiro voltado para o setor automotivo, o Inovar-Auto (criado em 2012), ficou difícil competir. A política previa 30 pontos extras de Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI) para importados que superassem a cota anual de 4.800 unidades previstas para cada empresa - além dos 35% de imposto de importação. A JAC foi perdendo espaço e, as vendas, minguando. No ano passado, a marca emplacou apenas 3,8 mil veículos no Brasil, segundo a associação que representa os importadores (Abeifa).
A companhia chegou a anunciar a construção de uma fábrica em Camaçari, na Bahia, para continuar com os planos de expansão, mas depois de idas e vindas, o projeto foi suspenso. De acordo com a JAC, as discussões acerca do tema serão retomadas assim que a demanda no mercado local justificar a abertura de uma unidade fabril.
Hoje, com 21 concessionárias, a JAC vê um momento de virada da marca. “É um novo posicionamento no país. Estamos assumindo que o grande foco da marca vai ser o de veículos elétricos, uma vocação que a montadora já tem ao redor do mundo”, diz Habib.