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Inspiração no recesso: veja dicas de leitura, filmes e viagens de empreendedores de sucesso

Especial reúne dicas de cinco empreendedores que encontraram no ócio a inspiração para transformar seus negócios. Confira

Publicado em 31 de dezembro de 2024 às 09h09.

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O fim do ano é um momento ideal para pensar na vida. As festividades de Natal e Ano Novo dão para muitos um respiro da rotina usual no escritório. Não à toa, essa é uma época boa para engatar um livro ou maratonar filmes e séries. Nesse espírito, EXAME reuniu dicas de empreendedores que encontraram no ócio uma inspiração para transformar seus negócios.

Do McDonald’s para a academia

Priscila Aguiar, da Academia Gaviões: “O treinamento prático mostra o padrão que queremos entregar” (Leandro Fonseca/Exame)

Nenhum negócio nasce gigante. Até o McDonald’s enfrentou dificuldades para se tornar uma franquia global. O filme Fome de Poder, de John Lee Hancock, mostra como Ray Kroc, inicialmente um vendedor de máquinas de milkshake, transformou o conceito inovador dos irmãos McDonald em um negócio replicável, superando desafios como controle de qualidade, treinamento de equipes e resistência dos franqueados em seguir o padrão.

Filmes, livros e viagens são inspiradores para os empreendedores. No caso de Priscila Aguiar, CEO da Academia Gaviões, uma das estratégias do McDonald’s chamou sua atenção: o uso de simulações práticas para padronizar as operações. Kroc desenhava cozinhas no chão para treinar as equipes e garantir a eficiência do atendimento.

A Gaviões é uma rede familiar de academias fundada por seu pai, Léo Aguiar, há 50 anos. Tudo começou com uma estrutura modesta no bairro do Tucuruvi, na zona norte da capital paulista. Até 2021, a expansão era tímida e eles contavam com apenas cinco unidades próprias. A virada aconteceu quando Priscila recebeu a recomendação de um amigo empresário para assistir ao filme sobre o McDonald’s. “A simulação de treinamento que o Ray Kroc fazia me marcou muito. Ele transformava processos complexos em algo acessível. Eu precisava trazer isso para o negócio”, diz a empreendedora.

Inspirada, ela adaptou o conceito para a Gaviões, criando um modelo de capacitação para professores, consultores de vendas e equipes dos franqueados. Mais de 400 profissionais foram treinados, com simulações de cenários como consultas sobre planos e dúvidas sobre equipamentos de musculação. “O treinamento prático ajuda os franqueados e suas equipes a absorverem o padrão que queremos entregar. Aprender na prática faz toda a diferença”, diz.

Além do modelo tradicional de franquias, a Gaviões opera com um sistema de sócios investidores. Cada academia é dividida em até dez cotas, vendidas por cerca de 500.000 reais cada uma, totalizando um investimento médio de 5 milhões de reais. Os investidores recebem uma parcela proporcional dos lucros, sem necessidade de gestão operacional. Atualmente, metade das unidades funciona nesse formato, atraindo investidores que buscam negócios de alto rendimento no setor fitness. “Estamos entregando resultados mais rápidos para investidores e franqueados porque conseguimos padronizar nossa operação”, diz.

Esse modelo permitiu à Gaviões aumentar o número unidades de forma mais eficiente. A rede vai terminar o ano com 100 unidades vendidas, das quais 36 estão em operação. A rede projeta um faturamento de 130 milhões de reais — uma alta de 15% — e planeja chegar a 150 academias até 2025. Além disso, a rede busca aprimorar a experiência dos alunos com áreas exclusivas para iniciantes, além de unidades com cafeteria.

Assim como Ray Kroc vislumbrou no McDonald’s uma oportunidade global, Priscila soube adaptar os métodos para transformar sua academia em uma rede competitiva. Com a estrutura consolidada, a rede de academias começa a dar seus primeiros passos fora do país. A primeira unidade já está em operação no Paraguai. “Aprender com histórias como essa nos faz repensar nossos processos e enxergar além”, diz.

4 lições para o seu negócio

  • Identifique oportunidades - Enquanto os irmãos McDonald operavam localmente, Kroc viu o potencial de escalar seu sistema eficiente. Identificar um modelo replicável pode ser a chave para o sucesso.
  • Busque eficiência - O filme destaca como a cozinha de linha de montagem dos irmãos McDonald revolucionou os restaurantes, trazendo rapidez e consistência, base para o crescimento acelerado da marca.
  • Padronize seu negócio - Kroc implementou padrões rigorosos e criou um centro de treinamento para franqueados, garantindo uniformidade e qualidade nas unidades, o que foi essencial para o crescimento sustentável da marca.
  • Formalize acordos - O conflito entre Kroc e os irmãos McDonald mostrou os riscos de acordos verbais. A falta de um contrato claro sobre royalties causou grandes perdas e destaca a importância da documentação no empreendedorismo.

Um novo protagonista

Israel Neto, da Kitembo: “Queremos levar a cultura negra para diferentes plataformas” (Idmar Oliveira/Divulgação)

O impacto cultural do filme Pantera Negra, de Ryan Coogler, foi além das telas e inspirou Israel Neto a criar a editora Kitembo, que dá vida a protagonistas negros.

A editora foi criada em 2018, mesmo ano do lançamento do filme, para explorar gêneros como ficção científica e fantasia, com foco em histórias que colocam a experiência e a ancestralidade negra no centro da narrativa.

“O filme coloca a cultura negra no centro da narrativa e me fez acreditar que era possível criar algo novo e relevante no Brasil”, diz o fundador.

Ao lado dos amigos Aisameque Nguenge e Anderson Lima, Neto deu os primeiros passos da editora e publicou a primeira obra, Amor Banto em Terras Brasileiras, romance entre dois jovens angolanos que enfrentam a escravidão e a busca por liberdade no Brasil. A estreia foi modesta, com vendas diretas nas ruas e para amigos. “Era tudo muito artesanal, mas isso nos deu confiança para continuar” diz.

Com o tempo, a editora expandiu suas operações, encontrando no financiamento coletivo uma forma de viabilizar novos lançamentos. A transição para o digital, em 2020, foi decisiva para a escalabilidade do negócio. Hoje, com 28 títulos no catálogo e mais de 60 autores de 11 estados, a Kitembo se consolidou como um nome referência na literatura negra fantástica.

Obras como Deuses de Dois Mundos e Ubuntu 2048 exploram temas que mesclam mitologia africana com questões contemporâneas.

“Queremos criar histórias que o mercado tradicional ignora, mas que tenham apelo”, diz o fundador.

A profissionalização da editora foi acelerada com a participação em iniciativas como o Vai Tec, programa de aceleração criado pela Ade Sampa, que ajudou a estruturar melhor a operação. “Aprendemos a pensar a Kitembo como um negócio sustentável”, diz o empreendedor.

Com um faturamento de 192.000 reais, a Kitembo planeja lançar seis livros no próximo ano e expandir para novos formatos. Obras audiovisuais, games e brinquedos temáticos estão no radar do fundador. “Queremos levar a cultura negra para diferentes plataformas e ampliar o alcance das nossas histórias”, diz Neto.

De fã a colega de palco

Rafa Prado: “Se você não veio de uma família rica, pode criar uma. Basta ter foco, disciplina e dedicação” (Arquivo Pessoal/Divulgação)

Filho de um metalúrgico e uma dona de casa, Rafa Prado cresceu na periferia de Mauá, no ABC Paulista. Por ali, sempre ouviu que grandes conquistas eram privilégio dos mais ricos. Aos 17 anos, no entanto, encontrou no livro Like a Virgin, de Richard Branson, a fagulha que mudaria sua forma de enxergar o mundo dos negócios.

“O livro me mostrou que pessoas como Branson, disléxico e desacreditado por muitos, podiam conquistar o mundo se acreditassem nelas mesmas.”

Motivado pela leitura, ingressou na USP, onde cursou duas graduações. Durante a trajetória acadêmica, enfrentou desafios como a adaptação ao ambiente universitário, o preconceito e a perda precoce do pai, que o obrigou a assumir as finanças da família.

O ponto de virada veio quando Prado mergulhou no universo do marketing digital. Após uma experiência frustrada desenvolvendo softwares, alcançou o primeiro milhão aos 24 anos com a criação de cursos online para influenciadores digitais. “Foi quando percebi que queria ir além, criar algo que combinasse negócios e experiências únicas”, diz.

Em 2016, lançou um evento descrito como um “espetáculo de negócios”, que combina aprendizado empresarial e entretenimento. O ápice veio três anos depois, quando trouxe o próprio Richard Branson ao palco. “Foi a realização de um sonho. Aos 17 anos, o livro dele mudou minha vida; aos 30, estávamos juntos no palco compartilhando ideias”, diz.

Aos 36 anos, Prado continua trabalhando com livros, cursos e encontros entre empreendedores. Entre os principais projetos está o programa de mentoria para empresas que faturam entre 1 milhão e 30 milhões de reais.

Em 2024, ele projeta uma receita de 16 milhões de reais, com meta de atingir 22 milhões de reais no próximo ano. Além disso, busca ampliar suas fronteiras intelectuais: foi aprovado no concorrido mestrado em gestão da Saïd Business School, em Oxford. “Se você não veio de uma família rica, pode criar uma. Basta ter foco, disciplina e dedicação”, diz.

O poder da escuta

Marina Vaz, da Scooto: “A satisfação começa com as pessoas que fazem parte da empresa” (Daniela Picoral/Divulgação)

Ter uma empresa com funcionários e clientes satisfeitos não é uma utopia, mas uma estratégia de sucesso. Inspirada no livro Satisfação Garantida, de Tony Hsieh, a carioca Marina Vaz fundou em 2017 a startup Scooto, especializada em atendimento ao cliente com serviços como ouvidoria e vendas. “O nome da empresa faz menção ao verbo ‘escutar’, e ouvir nossos funcionários e clientes nos traz os melhores resultados”, diz a empresária.

Aos 29 anos, Vaz já tinha deixado várias faculdades para trás, como TI e arquitetura, e decidiu largar o emprego como cenógrafa em São Paulo para empreender. Seu primeiro negócio, uma startup de tecnologia de voz, durou apenas um ano, mas a levou ao setor de call center.

Lá, percebeu que a baixa qualidade no atendimento estava ligada à má relação de trabalho. Foi então que ela conheceu o Satisfação Garantida, que detalha a filosofia de atendimento da Zappos. “O livro nos ensina que clientes satisfeitos geram receita, e que a satisfação começa com as pessoas que fazem parte da empresa”, diz.

A leitura destacou para Vaz processos seletivos inovadores, como o pagamento para candidatos desistirem da vaga e a avaliação de como tratavam motoristas durante as entrevistas. “Achei essa tática genial”, diz. Ela também se inspirou no uso fixo do telefone 0800 no topo do site da Zappos, facilitando o contato com o suporte.

Inspirada pela Zappos, que foi comprada pela Amazon, Vaz fundou a Scooto aos 31 anos, em sua casa, implementando um processo seletivo inovador: pagava o salário da primeira semana, mesmo para quem desistia da vaga. “Tive prejuízo no início, mas quem ficou nunca saiu. Aprendemos a ser a Zappos para outras empresas”, afirma.

Além do atendimento, o propósito da Scooto é gerar oportunidades de trabalho, especialmente para mulheres e mães. A empresa, 100% home office, conta com 400 funcionárias no Brasil e no exterior, atendendo clientes como -Decathlon, SmartFit e Intelbras.

“Não era obrigatório contratar só mulheres, mas isso virou nosso propósito. Entendi a importância da flexibilidade para equilibrar vida pessoal e profissional”, diz Vaz.

Para 2024, a expectativa é alcançar 20 milhões de reais de faturamento e 500 funcionárias. “Aprendi com o livro que a cultura é o coração de tudo. Quando investimos em pessoas,- os resultados vêm naturalmente”, diz.

Cheiro de negócio

Adriana Auriemo, da Nutty Bavarian:”Viajar, observar e testar ideias é fundamental para manter a relevância da marca” (Nutty Bavarian/Divulgação)

Foi o cheiro adocicado das castanhas caramelizadas durante um jogo de basquete que levou Adriana Auriemo, anos depois, a trazer o conceito da Nutty Bavarian para o Brasil. “O aroma foi o que me encantou lá fora e também a chave para construir a marca no Brasil. É a nossa principal ferramenta de marketing”, diz a fundadora.

A história da marca de castanhas glaceadas começa nos anos 1990, quando Adriana estava de férias com a família nos Estados Unidos. Durante os intervalos do jogo de basquete do Orlando Magic, a família corria para comprar mais castanhas. A curiosidade a levou a conhecer o fabricante do equipamento que, mais tarde, seria adquirido por sua tia e traria o conceito para o Brasil. Assim nasceu o primeiro quiosque da Nutty Bavarian, em Campos do Jordão.

O modelo inicial seguiu o padrão americano: as castanhas eram servidas em cones de papel. No entanto, o negócio não decolava. A apresentação americana não estava funcionando por aqui. A empreendedora decidiu viajar para a Alemanha em busca de novas inspirações.

Foi na região da Baviera que ela viu que as castanhas eram expostas de forma aberta e servidas quentes. “Foi uma revolução para nós. Percebemos que o primeiro modelo não se conectava com o público brasileiro. A adaptação foi a chave para o nosso crescimento”, diz.

A Nutty Bavarian não apenas consolidou seu modelo de quiosques — hoje com 170 unidades fixas e 40 móveis — como também se diversificou para outros mercados. A marca entrou no food service, oferecendo castanhas caramelizadas para saladas e pratos quentes, além de expandir sua presença no varejo com produtos prontos e embalagens personalizadas. Durante a pandemia, essa adaptação foi ainda mais importante.

A estratégia de diversificação tem mostrado resultados. A companhia espera terminar o ano com faturamento de 92 milhões de reais, crescimento de 30%. A marca espera superar 200 quiosques e atingir 1.000 pontos de venda no varejo até 2025. “Estamos sempre atentos ao mercado global. Viajar, observar e testar ideias é fundamental para manter a relevância da marca”, diz a empreendedora.

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