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A Avianca Brasil quebrou. E a Avianca Holdings quer crescer no país. Pode?

Empresa aérea colombiana que era controlada pelos irmãos Efromovich diz que não pode ser responsabilizada legalmente pela má-gestão da Avianca Brasil

Avianca: empresa faz acordos de codeshare e planeja ampliar rotas para o Brasil (Avianca/Divulgação)

Avianca: empresa faz acordos de codeshare e planeja ampliar rotas para o Brasil (Avianca/Divulgação)

DG

Denyse Godoy

Publicado em 28 de outubro de 2019 às 13h44.

Última atualização em 28 de outubro de 2019 às 19h25.

Nem parece que faz apenas cinco meses que a companhia aérea Avianca Brasil parou de voar, deixando mais de 2.000 funcionários desempregados, milhares de clientes a pé e sem informações, uma dívida de 2,8 bilhões de reais e muito rancor entre as concorrentes LatAm, Gol e Azul. Ignorando os estragos, sua empresa-irmã, a colombiana Avianca Holdings, diz que quer "virar essa página" e fortalecer seus laços com o Brasil.

Depois de anunciar no final de setembro um acordo de codeshare com a Azul, a Avianca Holdings vai assinar amanhã o mesmo tratado com a Gol. O codeshare permite que os passageiros da colombiana façam conexões para os destinos servidos pelas companhias brasileiras comprando apenas uma passagem e vice-versa. No começo do ano que vem, a Avianca Holdings também pretende ampliar seus voos para o Brasil. Atualmente, oferece rotas de Bogotá para São Paulo e para o Rio de Janeiro, e de Lima, no Peru, para as duas capitais no sudeste e mais Porto Alegre.

O anúncio foi feito hoje por Anko van der Werff, ex-vice-presidente comercial da Aeromexico que foi nomeado como presidente da Avianca Holdings em junho. Werff concedeu uma entrevista coletiva à imprensa para falar do "novo momento" da empresa durante o fórum de líderes da Associação Latino-Americana e do Caribe de Transporte Aéreo (Alta), que começou ontem, 27, e vai até amanhã, 29, em Brasília.

"Como seres humanos, sentimos muito pelo que aconteceu com a Avianca no Brasil. Mas são duas empresas totalmente diferentes, que sempre operaram separadas, com equipes distintas", disse Werff. "Infelizmente, temos o mesmo nome, e isso nos afeta negativamente, mas não podemos ser responsabilizados pelos problemas financeiros de outra companhia."

Segundo EXAME apurou, os executivos da Avianca Holdings estão se encontrando com fornecedores, clientes e consumidores no Brasil para tentar explicar essa diferença. Mas é difícil. Tanto a Avianca Brasil como a Avianca Holdings têm como maior acionista o Synergy Group, grupo dos irmãos bolivianos naturalizados brasileiros Germán e José Efromovich. A companhia brasileira foi fundada pelos Efromovich como Ocean Air em 1998, transportando entre o Rio de Janeiro e Macaé os funcionários da empresa de engenharia dos irmãos que prestava serviços para a indústria petrolífera. Os Efromovich tomaram gosto pelo negócio. Em 2004, compraram a Avianca Colômbia, segunda empresa aérea mais antiga do mundo em operação. Em 2010, rebatizaram a Ocean Air como Avianca Brasil e fundiram a colombiana com a salvadorenha Taca Airlines, formando a Avianca Holdings.

A companhia brasileira em maio foi impedida pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) de continuar voando por risco à segurança depois de pedir recuperação judicial em dezembro de 2018. Após perder seus slots (espaços para pouso e decolagem) no aeroporto de Congonhas, também por decisão da Anac, ficou sem nenhum ativo para vender e tentar se reerguer. O mercado da aviação espera que a Avianca Brasil tenha a sua falência decretada ainda neste ano.

A colombiana também andou enfrentando sérias dificuldades financeiras. Com uma dívida de 5 bilhões de dólares, a Avianca Holdings divulgou um prejuízo de 67,9 milhões de dólares no primeiro trimestre deste ano, levando os outros acionistas da empresa como a United Airlines e a empresa de participações salvadorenha Kingsland Holdings a pedir o afastamento de Germán Efromovich do conselho de administração. Em troca de um empréstimo de 250 milhões de dólares para dar fôlego à empresa, os sócios minoritários no começo de outubro exigiram que Efromovich, que tinha uma participação de 51,5% na Avianca Holdings, se afastasse do dia a dia da companhia. O empresário já não controla mais a Avianca Holdings. É uma derrota dura para os Efromovich, que salvaram a agora centenária empresa de quebrar quando a compraram, em 2004.

Esta é a 16ª. edição do fórum anual da Alta, o maior evento da aviação comercial latino-americana, pela primeira vez sediado no Brasil. Nas anteriores, os Efromovich circulavam pelo fórum junto com outros executivos de alto escalão das empresas aéreas da região, simpáticos e afáveis. Há meses não se tem notícia dos dois. Entre os participantes do evento em Brasília, o boato é de que se mudaram para Londres, enquanto credores que levaram calote no Brasil, como os fornecedores da Avianca e as seguradoras do estaleiro Ilha (Eisa), fechados em 2015 após quebrarem, tentam rastrear os bens dos irmãos no mercado financeiro internacional para recuperar pelo menos uma parte do seu prejuízo. Para os ex-funcionários e clientes da Avianca Brasil, porém, há pouca esperança. A Avianca Holdings diz que não tem nada com isso.

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