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Grupo Ser se firma como maior rede de faculdades do Nordeste

O grupo também é um dos dez maiores do país em número de alunos, com 113 mil matriculados

Sala de aula: o valor de mercado da companhia é de R$ 2,7 bilhões (Divulgação)
DR

Da Redação

Publicado em 16 de dezembro de 2013 às 07h36.

Recife - Em 2000, quando ainda era dono de uma escola preparatória para concursos públicos, o empresário José Janguiê Diniz cresceu os olhos para um terreno no bairro das Graças, região nobre na zona norte do Recife. Pulou a cerca do pedaço de terra que abrigava apenas uma torre de telefonia e ali teve a certeza: “Aqui dá para começar a minha universidade”.

Em apenas três anos, o empresário conseguiu comprar o terreno, aprovar seis cursos no Ministério da Educação e erguer o primeiro bloco da Faculdade Maurício de Nassau. Nascia ali o Ser Educacional , hoje o maior grupo de educação do Nordeste e um dos dez maiores do País em número de alunos, com 113 mil matriculados.

Com a mesma rapidez com que foi criada, a universidade se expandiu. Após atrair o fundo americano Cartesian Capital Group - que por R$ 48 milhões comprou 11,3% do grupo em 2008 -, a empresa fez a maior parte das suas 15 aquisições e ganhou musculatura para levantar R$ 619 milhões em sua abertura de capital na BM&FBovespa em outubro. O valor de mercado da companhia é de R$ 2,7 bilhões.

A conquista bilionária é o extremo oposto do primeiro ofício do paraibano de Santana dos Garrotes, filho de pais semianalfabetos. O trabalho número 1 de Janguiê (é assim que ele é conhecido) foi como engraxate, no interior do Mato Grosso, aos 8 anos. “Mas aí eu vi meus amigos fazendo mais dinheiro com tangerina e comecei a vender a fruta.” A sazonalidade da tangerina fez o menino investir em seguida na venda de picolés.

Entre os sorvetes e a criação da faculdade no Recife houve muito estudo. Depois de concluir o ensino médio na capital pernambucana com a ajuda de um tio, formou-se em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), tornou-se juiz do trabalho e depois criou o Bureau Jurídico, de cursos para concursos - atualmente um negócio online.


Hoje, quem percorre a capital pernambucana não tem como sair de lá sem ver ou ouvir falar das faculdades de Janguiê. Pela cidade, espalham-se 23 edifícios da instituição de ensino. No total, o grupo está presente em 11 Estados, 2 no Norte e 9 no Nordeste.

O foco na última região, em especial, é apontado como uma das principais razões para o avanço da companhia. “É uma área que tem um aumento de renda e uma carência em educação grande”, diz Alexandre Pierantoni, sócio da PwC. A Maurício de Nassau tem mensalidade média de R$ 579. Já a Joaquim Nabuco, segunda linha de faculdades criada em 2007, tem preços cerca de 30% mais baixos.

Para Bruno Giardino, analista do Santander, banco que ajudou a coordenar a abertura de capital da companhia, um item que salta aos olhos de quem lê o balanço da empresa é o lucro operacional. “Entre 2009 e 2012, ela teve uma margem Ebitda (lucro operacional da empresa, descontando qualquer ganho financeiro) na casa dos 30%”, conta. No mesmo período, a média do mesmo indicador entre os rivais era de 21%.

A companhia teve receita de R$ 283 milhões em 2012. Mas o mercado aposta alto para os próximos anos. As previsões do Santander apontam para um faturamento de R$ 485 milhões em 2013 e de R$ 705 milhões em 2014 - dinheiro que ajudará a empresa a cumprir a meta de abrir novas unidades no Nordeste.

Para o longo prazo, há quem diga, no entanto, que o empresário terá de expandir seus horizontes. “Se o grupo ficar somente no Nordeste, correrá o risco de se transformar em alvo (dos rivais)”, diz Carlos Monteiro, presidente da CM Consultoria, especializada em educação.

Empurrão

A expansão do grupo causa espanto. “No começo, Janguiê era mais um, era um ilustre desconhecido. Ninguém imaginou que pudesse crescer tanto”, disse uma fonte. Em entrevista na sede do grupo, no Recife, o fundador admitiu que tanto crescimento causou desconfiança. “Foi um choque, falavam muita coisa ruim, mas hoje (essas pessoas) sabem que foi muito trabalho.”


Ele diz ter tirado lições dos IPOs (aberturas de capital) de outros grupos educacionais e, principalmente, do amigo Antonio Carbonari, fundador da Anhanguera, instituição que se fundiu com a Kroton recentemente para formar um grupo avaliado em R$ 12 bilhões. “Apenas dei umas ideias e ele, muito inteligente, pegou as boas”, diz Carbonari.

Já nos primeiros anos do Grupo Ser, Janguiê se preocupou em profissionalizar a companhia. Contratado há quase oito anos para implantar a governança corporativa na empresa, Herbert Steinberg, da consultoria Mesa, diz ter hesitado no primeiro encontro com o fundador do Grupo Ser. “É um jovem empresário que não tem 50 anos. Uma pessoa que suscita, na primeira impressão, dúvida em relação ao quanto ali é ambição e o quanto é fantasia”, explica Steinberg, hoje parte do conselho da empresa. “Mas hoje posso, de verdade, afirmar que ele é sério e um cara que arrisca.”

Apesar de o empresário evitar falar no assunto, o Grupo Ser cresceu também graças a um empurrão financeiro. Cerca de dois anos após abrir a Faculdade Maurício de Nassau, Janguiê ganhou um processo milionário contra a Universidade Salgado de Oliveira (Universo). A quantia, segundo uma fonte do setor, foi de R$ 10 milhões.

No processo, o empresário cobraria os direitos como sócio da universidade fluminense no Recife. Washington Oliveira, ex-senador e dono da Universo, diz que Janguiê nunca foi seu sócio. “Ele foi contratado para ser diretor-geral, com carteira assinada. Os sócios sempre foram a família Salgado de Oliveira”, explica. “Mas, como essa ação poderia atrapalhar um outro processo que tínhamos na Justiça, decidimos fechar um acordo.”

Em agosto, dois meses antes da abertura de capital do Grupo Ser, Janguiê pediu exoneração do cargo de procurador regional do trabalho. “Estava havendo incompatibilidade. Não dava mais”, diz o empresário. O Conselho do Ministério Público já havia pedido a demissão de Janguiê, por entender que ele cometeu improbidade administrativa ao acumular o cargo com a atividade empresarial. Há dois anos, o empresário também deixou o cargo de professor na UFPE.

Agora, dedica-se exclusivamente à vida de empresário e faz questão de mostrar que é uma pessoa influente. Em março, em sua festa de aniversário, um dos convidados presentes era Eduardo Campos, governador de Pernambuco. Em junho, recebeu em seu apartamento o banqueiro André Esteves - como divulgado na coluna social do site LeiaJá, que pertence ao empresário. O leque de negócios de Janguiê inclui uma construtora, uma agência de comunicação e uma marca de moda fitness. Na maioria deles, o empresário diz ser um mero investidor.

No Grupo Ser, porém, faz questão de reforçar quem é o dono (e acionista majoritário, reitor e em breve presidente do conselho). Em qualquer biblioteca de qualquer uma das 23 unidades da instituição há sempre um quadro com um desenho do rosto do fundador na parede. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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Recife - Em 2000, quando ainda era dono de uma escola preparatória para concursos públicos, o empresário José Janguiê Diniz cresceu os olhos para um terreno no bairro das Graças, região nobre na zona norte do Recife. Pulou a cerca do pedaço de terra que abrigava apenas uma torre de telefonia e ali teve a certeza: “Aqui dá para começar a minha universidade”.

Em apenas três anos, o empresário conseguiu comprar o terreno, aprovar seis cursos no Ministério da Educação e erguer o primeiro bloco da Faculdade Maurício de Nassau. Nascia ali o Ser Educacional , hoje o maior grupo de educação do Nordeste e um dos dez maiores do País em número de alunos, com 113 mil matriculados.

Com a mesma rapidez com que foi criada, a universidade se expandiu. Após atrair o fundo americano Cartesian Capital Group - que por R$ 48 milhões comprou 11,3% do grupo em 2008 -, a empresa fez a maior parte das suas 15 aquisições e ganhou musculatura para levantar R$ 619 milhões em sua abertura de capital na BM&FBovespa em outubro. O valor de mercado da companhia é de R$ 2,7 bilhões.

A conquista bilionária é o extremo oposto do primeiro ofício do paraibano de Santana dos Garrotes, filho de pais semianalfabetos. O trabalho número 1 de Janguiê (é assim que ele é conhecido) foi como engraxate, no interior do Mato Grosso, aos 8 anos. “Mas aí eu vi meus amigos fazendo mais dinheiro com tangerina e comecei a vender a fruta.” A sazonalidade da tangerina fez o menino investir em seguida na venda de picolés.

Entre os sorvetes e a criação da faculdade no Recife houve muito estudo. Depois de concluir o ensino médio na capital pernambucana com a ajuda de um tio, formou-se em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), tornou-se juiz do trabalho e depois criou o Bureau Jurídico, de cursos para concursos - atualmente um negócio online.


Hoje, quem percorre a capital pernambucana não tem como sair de lá sem ver ou ouvir falar das faculdades de Janguiê. Pela cidade, espalham-se 23 edifícios da instituição de ensino. No total, o grupo está presente em 11 Estados, 2 no Norte e 9 no Nordeste.

O foco na última região, em especial, é apontado como uma das principais razões para o avanço da companhia. “É uma área que tem um aumento de renda e uma carência em educação grande”, diz Alexandre Pierantoni, sócio da PwC. A Maurício de Nassau tem mensalidade média de R$ 579. Já a Joaquim Nabuco, segunda linha de faculdades criada em 2007, tem preços cerca de 30% mais baixos.

Para Bruno Giardino, analista do Santander, banco que ajudou a coordenar a abertura de capital da companhia, um item que salta aos olhos de quem lê o balanço da empresa é o lucro operacional. “Entre 2009 e 2012, ela teve uma margem Ebitda (lucro operacional da empresa, descontando qualquer ganho financeiro) na casa dos 30%”, conta. No mesmo período, a média do mesmo indicador entre os rivais era de 21%.

A companhia teve receita de R$ 283 milhões em 2012. Mas o mercado aposta alto para os próximos anos. As previsões do Santander apontam para um faturamento de R$ 485 milhões em 2013 e de R$ 705 milhões em 2014 - dinheiro que ajudará a empresa a cumprir a meta de abrir novas unidades no Nordeste.

Para o longo prazo, há quem diga, no entanto, que o empresário terá de expandir seus horizontes. “Se o grupo ficar somente no Nordeste, correrá o risco de se transformar em alvo (dos rivais)”, diz Carlos Monteiro, presidente da CM Consultoria, especializada em educação.

Empurrão

A expansão do grupo causa espanto. “No começo, Janguiê era mais um, era um ilustre desconhecido. Ninguém imaginou que pudesse crescer tanto”, disse uma fonte. Em entrevista na sede do grupo, no Recife, o fundador admitiu que tanto crescimento causou desconfiança. “Foi um choque, falavam muita coisa ruim, mas hoje (essas pessoas) sabem que foi muito trabalho.”


Ele diz ter tirado lições dos IPOs (aberturas de capital) de outros grupos educacionais e, principalmente, do amigo Antonio Carbonari, fundador da Anhanguera, instituição que se fundiu com a Kroton recentemente para formar um grupo avaliado em R$ 12 bilhões. “Apenas dei umas ideias e ele, muito inteligente, pegou as boas”, diz Carbonari.

Já nos primeiros anos do Grupo Ser, Janguiê se preocupou em profissionalizar a companhia. Contratado há quase oito anos para implantar a governança corporativa na empresa, Herbert Steinberg, da consultoria Mesa, diz ter hesitado no primeiro encontro com o fundador do Grupo Ser. “É um jovem empresário que não tem 50 anos. Uma pessoa que suscita, na primeira impressão, dúvida em relação ao quanto ali é ambição e o quanto é fantasia”, explica Steinberg, hoje parte do conselho da empresa. “Mas hoje posso, de verdade, afirmar que ele é sério e um cara que arrisca.”

Apesar de o empresário evitar falar no assunto, o Grupo Ser cresceu também graças a um empurrão financeiro. Cerca de dois anos após abrir a Faculdade Maurício de Nassau, Janguiê ganhou um processo milionário contra a Universidade Salgado de Oliveira (Universo). A quantia, segundo uma fonte do setor, foi de R$ 10 milhões.

No processo, o empresário cobraria os direitos como sócio da universidade fluminense no Recife. Washington Oliveira, ex-senador e dono da Universo, diz que Janguiê nunca foi seu sócio. “Ele foi contratado para ser diretor-geral, com carteira assinada. Os sócios sempre foram a família Salgado de Oliveira”, explica. “Mas, como essa ação poderia atrapalhar um outro processo que tínhamos na Justiça, decidimos fechar um acordo.”

Em agosto, dois meses antes da abertura de capital do Grupo Ser, Janguiê pediu exoneração do cargo de procurador regional do trabalho. “Estava havendo incompatibilidade. Não dava mais”, diz o empresário. O Conselho do Ministério Público já havia pedido a demissão de Janguiê, por entender que ele cometeu improbidade administrativa ao acumular o cargo com a atividade empresarial. Há dois anos, o empresário também deixou o cargo de professor na UFPE.

Agora, dedica-se exclusivamente à vida de empresário e faz questão de mostrar que é uma pessoa influente. Em março, em sua festa de aniversário, um dos convidados presentes era Eduardo Campos, governador de Pernambuco. Em junho, recebeu em seu apartamento o banqueiro André Esteves - como divulgado na coluna social do site LeiaJá, que pertence ao empresário. O leque de negócios de Janguiê inclui uma construtora, uma agência de comunicação e uma marca de moda fitness. Na maioria deles, o empresário diz ser um mero investidor.

No Grupo Ser, porém, faz questão de reforçar quem é o dono (e acionista majoritário, reitor e em breve presidente do conselho). Em qualquer biblioteca de qualquer uma das 23 unidades da instituição há sempre um quadro com um desenho do rosto do fundador na parede. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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