Negócios

Genéricos provocam queda de braço entre farmácias e laboratórios

Política de descontos para o varejo derruba rentabilidade da indústria

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h16.

Além de provocar a redução do preço de muitos medicamentos, o advento dos genéricos teve um outro efeito sobre os laboratórios farmacêuticos. Essa classe de produtos se tornou o principal campo de disputa por margens de lucro entre o varejo, especialmente as grandes redes de farmácias, e a indústria. O setor reproduz, assim, a queda de braço crescentemente observada entre as cadeias de supermercados e seus fornecedores.

Essa é uma das preocupações atuais do setor farmacêutico e uma das causas da baixa rentabilidade dos laboratórios, afirma Omilton Visconde Júnior, presidente do conselho diretor da Febrafarma, Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica (Febrafarma), entidade que começou a funcionar em abril deste ano para representar os interesses comuns dos laboratórios multinacionais e nacionais. "Vendemos vários produtos com prejuízo", afirma Omilton, também acionista e vice-presidente do laboratório Biosintética.

A baixa rentabilidade dos genéricos é causada pela concorrência entre os próprios fabricantes para conseguir a preferência junto aos varejistas. Para ocupar espaço nas prateleiras das farmácias ou ter a primazia na hora de o farmacêutico sugerir um genérico ao consumidor, os laboratórios passaram a oferecer descontos cada vez mais vantajosos ao varejo. No caso de um produto de marca, o desconto não costuma passar de 11%. Para os genéricos, já há indústrias concedendo 30% de desconto. Essa disputa deu mais poder de barganha às redes de farmácia. "O varejo passou a fazer leilão entre os laboratórios", diz Omilton.

Os genéricos, regulamentados há três anos no país, já representam 8% do mercado de remédios. Segundo Omilton, a velocidade de expansão dos genéricos no Brasil não tem similar no mundo. Apesar da baixa rentabilidade no momento, o mercado brasileiro já atraiu quase todos os grandes fabricantes mundiais do setor e deve receber ainda novos competidores. Os recém-chegados poderão ter um papel importante num processo de consolidação da indústria farmacêutica de capital nacional, hoje pulverizada por mais de 300 empresas.

Expectativa positiva com governo Lula

A indústria farmacêutica pretende negociar algum tipo de acordo para os primeiros meses do governo Lula. "Começar bem é importante", diz Omilton. "Nossa expectativa com o novo governo é positiva." No governo atual, o setor teve diversos entreveros com o ministro da Saúde, José Serra. A principal reclamação quanto à atuação de Serra diz respeito à implantação do controle de preços dos medicamentos.

Um dos motivos para a expectativa positiva é justamente o fato de que a lei de controle de preços tem prazo para terminar: 31 de dezembro próximo. Como o governo acaba de conceder um reajuste de preços para os remédios e promete uma nova correção até o fim do ano, a indústria farmacêutica espera poder entrar com mais fôlego em 2003.

Outra razão para o otimismo é o bom relacionamento que os representantes da indústria têm cultivado com a equipe do PT. O principal interlocutor de Omilton na equipe do futuro tem sido ninguém menos que o médico Antonio Palocci, um dos três mosqueteiros de Lula. Os interlocutores são velhos conhecidos: ambos de Ribeirão Preto, Palocci foi procurado por Omilton pela primeira vez ainda no primeiro mandato do petista como prefeito. "Ele supreendeu bem desde a primeira vez", afirma Omilton. "Nem parecia um petista."

Acompanhe tudo sobre:[]

Mais de Negócios

Empreendedor produz 2,5 mil garrafas de vinho por ano na cidade

Após crise de R$ 5,7 bi, incorporadora PDG trabalha para restaurar confiança do cliente e do mercado

Após anúncio de parceria com Aliexpress, Magalu quer trazer mais produtos dos Estados Unidos

De entregadores a donos de fábrica: irmãos faturam R$ 3 milhões com pão de queijo mineiro

Mais na Exame