Games, sabonete e macarrão: os produtos em alta na quarentena
Produtos de maquiagem e perfumaria perdem espaço, assim como bebidas alcoólicas e moda, segundo a consultoria Euromonitor
Mariana Desidério
Publicado em 14 de abril de 2020 às 16h36.
Última atualização em 14 de abril de 2020 às 21h27.
A quarentena imposta pela pandemia do coronavírus mudou os hábitos de consumo dos brasileiros. Alguns produtos ganharam em vendas, outros perderam. A consultoria de pesquisa de mercado Euromonitor analisou o comportamento do consumidor nas últimas semanas para entender essa movimentação e traçar cenários para os próximos meses. “Algumas categorias cresceram 200% nas primeiras semanas de isolamento, mas sabemos que esses efeitos dificilmente são sustentados ao longo do ano todo. Algumas delas podem terminar o ano no zero a zero. Nosso foco é entender movimentos que tenham um impacto anual”, afirma Angelica Salado, gerente de pesquisa da Euromonitor.
O setor de alimentos foi um dos que sentiu o impacto do isolamento social imposto pelo coronavírus. Com boa parte da população brasileira em quarentena e restaurantes fechados, as pessoas abasteceram as despensas e estão cozinhando mais. A corrida ao supermercado , no entanto, gerou alguns exageros. “Nas primeiras semanas houve uma corrida tão grande que em alguns produtos foi comprado o tanto que será consumido no ano todo”, afirma Salado.
É o caso dos itens considerados de indulgência. Esses produtos tiveram grande procura, mas podem sentir redução agora, uma vez que as famílias estão mais apreensivas com o futuro da economia, diz a gerente da Euromonitor. Por outro lado, produtos de consumo básico como arroz, macarrão, molhos e enlatados devem ter crescimento mais consistente no ano, devido ao maior número de refeições feitas em casa.
Um ponto importante no segmento de alimentos é que as marcas consigam fazer seus produtos chegarem às prateleiras do supermercado. “No momento, a eficiência logística é um atributo que vai determinar quem ganha e quem perde espaço no mercado”, afirma Salado. As restrições impostas pelo coronavírus têm dificultado a chegada de alguns produtos às gôndolas. Eles acabam substituídos por marcas próprias das redes varejistas ou outras que estejam disponíveis. “Nesse contexto, a marca mais eficiente em evitar o desabastecimento vai ganhar espaço independentemente da categoria”, afirma.
Pelas contas da Euromonitor, o cenário mais leve dentre os previstos para a economia brasileira nos próximos meses se assemelha ao visto no país em 2016, auge da crise econômica da qual o país começava a sair antes da pandemia. Com isso, a previsão da consultoria é de consolidação de um comportamento de compra mais comedido, com menos espaço para itens supérfluos. “Vamos estabelecer um novo nível de compra pautado pela incerteza”, afirma Salado.
Outra categoria analisada pela consultoria é a de produtos para fortalecer o sistema imunológico. Itens como vitamina C, multivitaminas e produtos naturais, como própolis, tiveram alta procura, ficaram esgotados em alguns pontos de venda e tiveram aumento de preço. “Desde a confirmação do primeiro caso em fevereiro, os preços subiram no país. A vitamina C, por exemplo, registrou taxa de crescimento de quase 200%, de fevereiro a março de 2020”, diz o relatório da consultoria.
No entanto, a consultoria ressalta que, com a demanda aquecida, pode haver falta de matéria-prima para sustentar a produção e o suprimento desses itens no médio prazo. Também não é possível identificar se isso se refletirá em um comportamento de compra consolidado nos próximos meses. “O hábito de se preocupar com a própria saúde vai continuar, mas é cedo para dizer se isso levará a uma mudança no padrão de compra. Hoje, esses não são produtos essenciais para a maioria da população”, afirma Salado.
No setor de higiene, itens como como sabonetes, em especial aqueles com antibactericida, ganham espaço. “Esses itens devem maior performance esse ano, porque foram criadas novas necessidades. As pessoas vão lavar mais as mãos”, afirma Salado. Segundo o relatório da Euromonitor, o sabonete líquido teve aumento de preço semanal de 20% entre fevereiro e março devido à alta demanda. Produtos de limpeza também devem ter aumento nas vendas. Já o papel higiênico, que chegou a faltar nas prateleiras nas primeiras semanas de quarentena, pode chegar ao final do ano com vendas normalizadas, uma vez que as vendas tendem a cair após a euforia das primeiras semanas.
Os produtos de maquiagem e perfumaria perdem espaço, assim como bebidas alcoólicas e moda. “Via de regra, categorias de consumo em um ambiente social devem sentir impacto negativo”, afirma Salado. O foco para as empresas que dependem desses produtos é se adaptar. “As companhias devem fazer um exercício de realocar capacidade produtiva para categorias consideradas essenciais nesse momento. Aquelas que conseguirem adaptar linhas de produção devem ganhar participação no mercado”, afirma. Segundo Salado, desovar estoques via promoções não é uma boa estratégia, mas sim entender que vivemos um período de ocasiões de consumo diferentes. O momento também coloca à prova a estratégia digital das companhias, com o aumento das compras pela internet.
Na parte de entretenimento, um movimento importante identificado pela consultoria foi o aumento nas vendas do segmento de videogames. “Era um setor que vinha ganhando espaço inclusive entre adultos. Agora vemos um movimento de compra de consoles, antecipando as compras esperadas para a Black Friday”, afirma Salado. Outros itens como computadores pessoais e equipamentos de cozinha também estão em alta, devido ao trabalho em casa adotado por muitos profissionais, e ao fato de as famílias estarem cozinhando mais.