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Fintechs de crédito para pequenas empresas tomam espaço de bancos

A concentração das fintechs em nichos tem feito financiamentos chegarem a públicos que vão desde empreendedores pessoa física até empresas milionárias

Crédito: "É um caminho para tentar superar a ineficiência do sistema de crédito no Brasil" (Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas)

Crédito: "É um caminho para tentar superar a ineficiência do sistema de crédito no Brasil" (Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas)

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Reuters

Publicado em 3 de julho de 2017 às 19h26.

São Paulo - As plataformas financeiras digitais, as fintechs, estão ampliando crédito para micro e pequenas empresas, segmentos que têm enfrentado o escassez dos empréstimos pelos grandes bancos comerciais, que estão mais interessados em priorizar operações menos arriscadas.

A concentração dessas instituições em nichos tem feito os financiamentos chegarem a públicos que vão desde empreendedores pessoa física até companhias com várias dezenas de milhões de reais de faturamento anual.

Na parte mais baixa do setor, a entrada das fintechs nesse universo foi uma consequência dos empréstimos tomados por pessoa física para serem usados na pessoa jurídica, como no caso da Geru, que financia em geral até 50 mil reais por cliente.

"Percebemos que parte relevante dos empréstimos têm ido para profissionais liberais que estão investindo no próprio negócio", disse o sócio fundador da Geru, Sandro Reiss.

Na Creditas, criada em 2012 e que se apresenta como plataforma digital de empréstimos, um terço da base de clientes busca crédito para financiar o próprio negócio por meio de inclusão de garantias como imóvel ou veículo. O saldo da carteira ativa da empresa terminou 2016 em 135 milhões de reais.

Para negócios como esses, ter de saída a base de dados e o histórico de crédito do cliente de varejo diminui bastante o risco das operações. Com base nessa lógica, o Banco Inter, que montou uma plataforma há três anos com foco no varejo, está começando a abrir contas digitais para pequenas empresas, num primeiro momento apenas para quem já é cliente pessoa física.

Os próximos alvos do Inter serão antecipação de recebíveis e os fornecedores de grandes conglomerados, como já faz como os de Vale e da construtora MRV, diz o presidente da instituição Banco Inter, João Vítor Menin.

Sem capital e estrutura suficientes para lidar com negócios que demandam mais recursos e para os quais uma modelagem de risco é bem mais complicada, as fintechs que atendem empresas com faturamento a partir da casa do milhão de reais têm optado por ferramentas que ajudam a filtrar os riscos, em vez de emprestarem elas mesmas.

É o caso do chamado "peer to peer", plataformas de empréstimos que ligam investidores a tomadores de crédito, um modelo para o qual ainda não há regulação específica no país.

Uma das mais conhecidas nesse negócio setor, a Biva, afirma já ter intermediado cerca de 30 milhões de reais em empréstimos desde que foi criada há dois anos. A fintech oferta juros de 1,7 a 6,3 por cento ao mês para tomadores e retorno médio de 22 por cento ao ano aos investidores.

"Ainda tem muito potencial para crescer porque as taxas bancárias são muito altas e o acesso ao crédito é restrito para pequenas empresas", diz o sócio fundador, Jorge Vargas Neto.

Uma variante desse modelo é o formato de leilão, em que tomadores de empréstimos se registram num portal e apresentam garantias e informações que municiam eventuais doadores de recursos, como bancos médios, fundos de investimento, financeiras, que podem concorrer para apresentar as melhores condições, incluindo prazos e taxas.

"É um caminho para tentar superar a ineficiência do sistema de crédito no Brasil, que é mais acentuada nas operações para pequenas e médias empresas", diz o Dan Cohen, sócio e fundador da F(x), que usa algoritmos para tentar aproximar os perfis desejados por credores e tomadores.

Criada há pouco mais de um ano, a F(x) atende empresas com receita de até 70 milhões de reais anuais. Segundo Cohen, o portal tem cerca de 350 milhões de reais em propostas listadas.

Na semana passada, o próprio Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) lançou um portal na Internet para agilizar a concessão de linhas de crédito para micro e pequenas empresas, que também usa o conceito de leilão.

Esta é uma aposta do banco para tentar se desvencilhar da pecha de em tese ser o maior responsável por apoiar os pequenos negócios, mas na prática os empréstimos para esse público terem barreiras burocráticas quase intransponíveis.

"E nós vamos trabalhar com as fintechs para repassar crédito às pequenas empresas", disse Ricardo Luiz de Souza Ramos, diretor do banco de fomento, ao lançar o portal.

O movimento acontece no momento em que os grandes bancos do país têm evitado novas concessões para empresas de menor porte, setor no qual os altos níveis de informalidade normalmente tornam a análise de crédito um processo quase artesanal e, por isso mesmo, normalmente apresentam elevados níveis de calotes.

No Banco do Brasil a carteira para pequenas e médias empresas caiu 28,5 por cento em 12 meses até março e 10,6 por cento desde dezembro.

No Itaú Unibanco, a carteira total para micro, pequenas e médias empresas caiu 2,6 por cento em um trimestre e 8,6 por cento na comparação anual. E no Bradesco, a queda nessa linha foi de 6,6 por cento em 12 meses.

Segundo levantamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (Bid) e da aceleradora de empresas de tecnologia Finnovista divulgado em maio, o Brasil tem 230 de 703 fintechs da América Latina que operam em vários segmentos do mercado financeiro que vão desde bancos digitais até empresas de soluções de pagamentos, educação financeira e gestão de finanças pessoais e empresariais.

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