Fim da era Ghosn: conselho da Renault escolhe novo presidente
A sucessão do executivo brasileiro coloca em xeque o futuro da aliança entre as montadoras Renault, Nissan e Mitsubishi
Da Redação
Publicado em 24 de janeiro de 2019 às 05h56.
Última atualização em 24 de janeiro de 2019 às 12h01.
Que o executivo franco-libanês nascido no Brasil Carlos Ghosn não ocuparia a liderança da Renault para sempre, todos já sabiam. O que ninguém esperava era uma saída tão conturbada a ponto de comprometer o futuro da consagrada aliança entre a Renault, Nissan e Mitsubishi.
O Conselho de Administração da Renault n omeou nesta quinta-feira como novo presidente Jean-Dominique Senard, que até agora era responsável pela fabricante de pneus Michelin, para substituir Ghosn. Senard fará dupla com Thierry Bolloré, que supervisionará a atividade diária da Renault como diretor-geral e responsável executivo da companhia.
Às vésperas do encontro entre acionistas que definiu a nova liderança, o executivo brasileiro naturalizado francês renunciou ontem à presidência da montadora. Ghosn, como se sabe, está preso há dois meses no Japão acusado de fraudes fiscais. A decisão de ontem, fatalmente, privou a Renault ㄧ que até então manteve Ghosn no cargo, prezando pela máxima da presunção de inocência ㄧ da odiosa tarefa de demitir um senhor de 64 anos que trouxe para a companhia a parceria mais rentável já observada no mundo automotivo.
Trajetória Ghosn
A trajetória de Ghosn até o topo da indústria remonta a 1999. Naquela época, a Nissan acumulava uma dívida monumental na casa dos 20 bilhões de dólares e tinha acabado de se unir à francesa Renault. Ghosn, recém chegado na montadora francesa após 16 anos na fabricante de pneus Michelin, recebeu a missão de ir a Tóquio colocar a Nissan nos trilhos.
Conhecido por suas extraordinárias habilidades em cortar custos, em pouco tempo o executivo transformou uma Nissan à beira da falência em uma companhia de vendas anuais na casa dos 100 bilhões de euros. Após o sucesso, Ghosn foi nomeado presidente-executivo da companhia japonesa em 2001.
Em 2005, o então presidente da Nissan passou também a controlar a irmã e parceira Renault, se tornando a única pessoa na história a assumir a presidência de duas montadoras simultaneamente. Não obstante, em 2008, além da presidência, Ghosn se tornou a principal cabeça do conselho administrativo da Nissan.
Escândalo
No final de 2018, entretanto, a brilhante carreira de Ghosn começou a ruir. Em novembro, o executivo foi preso no japão acusado de não declarar parte de sua renda ao fisco do país. Segundo a acusação, Ghosn teria omitido parte de seus ganhos entre os anos de 2010 e 2018, e além disso teria usado recursos da Nissan para proveito pessoal. Logo na sequência, Ghosn foi afastado da presidência da montadora.
De lá para cá, a situação só ficou cada vez mais dramática. Já são dois pedidos de liberdade mediante a fiança negados pela polícia japonesa e, ao que tudo indica, o executivo deve permanecer preso até o veredito do caso, previsto para a metade do ano.
No decorrer de toda a trama, a Renault finalmente definiu que reuniria sua cúpula para deliberar sobre o futuro da empresa nesta quinta-feira. Antes disso, ontem, Ghosn renunciou ao cargo do qual provavelmente já seria deposto.
O nome de Jean-Dominique Senard para suceder Ghosn como presidente do conselho já era esperado. O Ministro das Finanças francês, Bruno Le Maire, chegou a dizer que ele seria um excelente presidente da Renault”. Atualmente, o maior acionista da montadora é o governo francês, com 15,01% dos papéis da empresa. Thierry Bolloré, prata da casa, deve assumir a presidência.
A questão que fica é como a nova liderança da Renault conseguirá administrar a parceria com a Nissan. Unir completamente as empresas, como era o plano de Ghosn, está fora de questão. Separá-las também não é a solução ideal segundo analistas do setor.