Receio com bancos favorece empresa de tecnologia, diz professor de Wharton
Para Keith Niedermeir, professor de marketing da universidade, as mídias sociais são motor de transformações, mas precisam de mais transparência
Natália Flach
Publicado em 15 de junho de 2020 às 15h47.
Última atualização em 15 de junho de 2020 às 16h00.
As empresas de tecnologia têm avançado sobre áreas tradicionalmente ligadas ao setor financeiro, e os usuários parecem aceitar com naturalidade essa mudança. Até porque, de acordo com ranking Eldeman Trust Barometer, as empresas de tecnologia aparecem em primeiro lugar no quesito confiança, enquanto as do mercado financeiro surgem na lanterna. "O consumidor está perdendo a confiança no setor financeiro e nos bancos tradicionais. Isso abre a porta para novos players, incluindo empresas de tecnologia como Amazon e Google, para entrar no mercado. Isso já está acontecendo na China, onde a Alibaba e a Tencent introduziram alguns serviços financeiros de varejo”, afirma Keith Niedermeir, professor de marketing da universidade de Wharton, em entrevista à EXAME.
O Facebook não fica atrás. O gigante de redes sociais anunciou, nesta segunda-feira, que os brasileiros poderão fazer transações usando o WhatsApp – com ajuda da credenciadora Cielo e das bandeiras Visa e Mastercard.
Na última semana, o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, se envolveu em uma polêmica ao dizer que não vai interferir nas postagens do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. “Zuckerberg é agnóstico no uso da rede social. Para ele, não é boa ou ruim, é apenas uma ferramenta, por isso não quer censurar o que as pessoas dizem – mas não sei até quando essa postura será sustentável”, diz Niedermeir. “O Facebook é uma caixa de Pandora, uma plataforma incrível que ninguém sabe como controlar. Mas é necessário encontrar novas maneiras de aumentar a transparência.”
Para o professor, as mídias sociais são motor de transformações por conectar pessoas e dar voz a quem não tinha meios. É nesse cenário que surgem manifestações contra a morte do americano George Floyd que ganharam as ruas de diversos países contra o racismo. Esses movimentos são liderados, muitas vezes, por indivíduos da geração millennial, que essencialmente vivem em áreas urbanas. São filhos da revolução tecnológica dos smartphones e que preferem ter acesso do que ter bens, como carros.
Essa nova mentalidade fez com indivíduos endinheirados dessa geração preferissem investir em ativos que, além de lucro, têm impacto socioambiental para a sociedade. “Apenas 46% dos ultra-high-net-worth da geração millennial investiram em ações no ano passado, enquanto na geração X esse percentual foi de 54% e entre os baby boomers chegou a 56%”, explica o especialista. “Para 87% dos mais jovens, responsabilidade social é um critério levado em consideração na hora de fazer um investimento”, acrescenta.
Por falar em investimento, Niedermeir diz que o aumento do número de investidores na bolsa brasileira tem a ver com o interesse em se beneficiar do crescimento de várias companhias listadas. O sentimento de “se eles podem, eu também” aliado à democratização de informações – com aulas pela internet – levou o país a alcançar quase 2 milhões de detentores de papéis de renda variável.
Nesse sentido, os assessores de investimento precisam se diferenciar para conquistar novos clientes. “É importante que os consultores estejam disponíveis, entendam as necessidades dos clientes e criem um relacionamento”, diz. “Não é uma venda de produtos financeiros. É a chance de criar uma conexão que pode gerar valor”, afirma o professor a assessores financeiros do BTG Pactual, em uma live.