Exportações foram vitória e obstáculo para a JBS no 3° tri
No mercado brasileiro, a variação cambial do real prejudicou suas receitas de exportações, enquanto os EUA se beneficiaram da demanda forte da Ásia
Karin Salomão
Publicado em 16 de novembro de 2016 às 15h51.
São Paulo - As exportações foram, no 3º trimestre, motivo para comemoração e dificuldades para a JBS .
No mercado brasileiro, a variação cambial do real prejudicou suas receitas de exportações. Enquanto isso, na operação dos Estados Unidos, as vendas para fora cresceram mais de 30%, por causa do aumento da demanda de países como Coreia do Sul e Japão.
A Seara, divisão de alimentos brasileira da JBS, sofreu com as instabilidades do mercado da América do Sul. Em primeiro lugar, enfrentou aumento dos preços dos grãos, a principal matéria prima para a criação de gado.
Para compensar o aumento nos gastos, ela elevou o preço de seus produtos no mercado interno. Por isso, a receita da Seara no Brasil aumentou 8,8%.
Em produtos processados, o foco da companhia, a receita líquida apresentou um aumento de 12,9% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, principalmente por conta do aumento dos preços.
O problema maior da Seara foi na exportação dos produtos a partir do Brasil. A valorização do real perante o dólar diminuiu os ganhos da empresa e puxou o resultado da divisão para baixo.
No total, a Seara viu sua receita cair 8,6% para R$ 4,8 bilhões. A queda no Ebitda foi ainda maior, de 67,8%, para R$ 334,8 milhões. A margem da divisão no trimestre foi de 7,3%, um terço do resultado no ano anterior.
Extremo oposto: Estados Unidos
Enquanto a JBS encontra obstáculos ao exportar a partir do Brasil, as vendas para fora foram um dos principais motores de crescimento da divisão nos Estados Unidos.
Internamente, o mercado de carne bovina no país aumentou a disponibilidade de animais, o que deixou a competição mais acirrada e o preço, mais baixo.
"Estamos operando no limite da nossa capacidade dos Estados Unidos. E não apenas nós, toda a indústria", disse o presidente-executivo da JBS, Wesley Batista. "Mesmo que quiséssemos aumentar a produção, não seria possível encontrar mão de obra. O índice de desemprego nos EUA está bastante baixo", afirmou.
Para dar vazão a toda essa carne, a divisão dos Estados Unidos aumentou as exportações em direção à Ásia, principalmente para o Japão e a Coreia do Sul, que estão substituindo sua produção interna por importações. No trimestre, as exportações cresceram mais de 30%.
No entanto, o Brasil não poderia se beneficiar do aumento da demanda nesses mercados, uma vez que não tem acesso a eles.
"O Brasil não tem acesso aos seis principais mercados para exportação dos Estados Unidos, como a Coreia e o Japão", afirmou o presidente. "Ainda vai levar tempo para que o consumidor nesses países ganhe confiança para comprar a carne brasileira".
"Por outro lado, enxergamos anos muito positivos para o mercado de carne bovina do país", disse Batista.
Desacelerar e se fortalecer
Nos últimos 5 anos, a JBS aumentou o seu tamanho ao adquirir diversas companhias. "Fizemos mais de R$ 5 bilhões em aquisições nos últimos 18 meses", afirmou o presidente.
Entre as empresas compradas, estão as subsidiárias brasileira e mexicana da americana Tyson, por R$ 350 milhões, o frigorífico Big Frango, por R$ 430 milhões, a Moy Park da Marfrig por US $1,5 bilhão, e a unidade de suínos da Cargill por US$ 1,45 bilhão.
Além disso, muitas empresas incorporadas precisaram de investimentos na modernização do seu parque fabril, disse ele.
Como consequência dessa rápida expansão e pesados investimentos, a empresa também viu sua dívida crescer, de R$ 41,71 bilhões para R$ 48,85 bilhões. A alavancagem, ou seja, a relação entre a dívida e o Ebtida, chegou a 4,32 vezes, ante 2,55 vezes em 2015.
Agora, os planos são desacelerar a expansão inorgânica, fortalecer a sua posição de caixa e melhorar a dívida, diz a companhia.
"Daqui para a frente, estaremos focados na geração de caixa. Vamos terminar 2017 com um nível de dívida mais perto do que queremos estar", disse Batista. No final de 2017, a empresa espera que a alavancagem caia para 3 vezes.