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Exercícios na garrafa, a próxima fronteira da Nestlé

Companhia diz ter encontrado o primeiro passo para o desenvolvimento de uma forma de imitar o efeito de queima de gordura de exercícios


	Pessoa correndo na esteira: com os exercícios engarrafados, Nestlé quer realizar o sonho de todo preguiçoso
 (Getty Images)

Pessoa correndo na esteira: com os exercícios engarrafados, Nestlé quer realizar o sonho de todo preguiçoso (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 19 de novembro de 2014 às 16h55.

Zurique - Escondido perto do Lago Léman, um grupo de cientistas da Nestlé está trabalhando silenciosamente para realizar o sonho de todo preguiçoso: exercícios engarrafados.

A maior empresa de alimentos do mundo, conhecida pelas barras de chocolate KitKat e pelas cápsulas Nespresso, diz ter identificado como uma enzima responsável por regular o metabolismo pode ser estimulada por um composto chamado C13.

Trata-se de um possível primeiro passo para o desenvolvimento de uma forma de imitar o efeito de queima de gordura dos exercícios físicos. As descobertas foram publicadas na revista científica Chemistry Biology em julho.

Embora exista um longo caminho até conseguir vitaminas ou barras de cereal emagrecedoras, oito cientistas do Instituto Nestlé de Ciências da Saúde, em Lausanne, Suíça, estão em busca de substâncias naturais que possam agir como gatilhos.

O compromisso da Nestlé com esse tipo de projeto mostra como a empresa está trabalhando para solucionar o desencanto dos consumidores com os alimentos embalados, formulando produtos capazes de fazerem mais do que saciar a fome.

“A fronteira entre alimento e produto farmacêutico diminuirá nos próximos anos”, disse Jean-Philippe Bertschy, analista do Bank Vontobel AG em Zurique.

“As empresas com um portfólio alimentar diversificado e saudável surgirão como vencedoras”.

Os números já apontam esse caminho.

O apetite dos consumidores por alimentos considerados beneficiosos para a saúde, como massa sem glúten e suco orgânico, deverá superar o crescimento de alimentos embalados tradicionais até 2019, depois de conseguir esse feito quase todos os anos na última década, segundo a empresa de pesquisas Euromonitor International.

Experimente pedalar

No andar térreo de um edifício em forma de caixote, localizado no campus do Instituto Federal Suíço de Tecnologia, em Lausanne, os cientistas da Nestlé estão realizando uma triagem de substâncias naturais, como frutas e extratos de plantas, para verificar quais podem modular a enzima chamada AMPK, que age como um interruptor central metabólico para facilitar o uso de açúcar e gordura pelo corpo.

A meta é desenvolver um produto nutricional que imita ou melhore o efeito do exercício para pessoas com mobilidade limitada devido à idade avançada, à diabetes ou à obesidade, disse Kei Sakamoto, cientista que gerencia a pesquisa sobre diabetes e ritmos circadianos na Nestlé, em entrevista por telefone.

Não há expectativa de início dos testes em animais em muitos anos.

“A enzima pode ajudar pessoas que não conseguem tolerar ou manter exercícios rigorosos”, disse Sakamoto.

“Em vez de 20 minutos de corrida ou 40 minutos de bicicleta, esse produto poderia ajudar a impulsionar o metabolismo com um exercício moderado como uma caminhada rápida. As pessoas conseguirão efeitos semelhantes com menos esforço”.

O impulso em direção à ciência da nutrição indica que a Nestlé está indo atrás de metas que as empresas farmacêuticas perseguem há anos.

A Rigel Pharmaceuticals, de São Francisco, começou a testar seu próprio ativador experimental da AMPK em humanos no início deste ano para verificar se ele pode ser de alguma ajuda em relação a uma das consequências de uma forma crônica de doença vascular.

A empresa farmacêutica alemã Boehringer Ingelheim GmbH está trabalhando com a firma indiana de biotecnologia Connexios Life Sciences para desenvolver ativadores da AMPK para diabetes.

Santo Graal

Um medicamento mais antigo contra diabetes realmente funciona no estímulo à AMPK. A droga, chamada metformina, inibe a produção de açúcar pelo fígado e ajuda alguns pacientes a emagrecerem.

A Nestlé não planeja fazer parceria com uma empresa farmacêutica para seu próprio projeto da AMPK, segundo Sakamoto.

O orçamento de pesquisa da companhia com sede em Vevey, Suíça, de 1,5 bilhão de francos suíços (US$ 1,6 bilhão), quase rivalizou com o da farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk A/S no ano passado.

Naveed Sattar, professor de medicina metabólica da Universidade de Glasgow, ressalta que outras empresas tentaram desenvolver produtos para queima de gordura antes, sem sucesso.

“Uma tentativa bem-sucedida de produzir alimentos que auxiliam o metabolismo imitando exercícios físicos seria maravilhosa -- seria como o santo graal --”, disse Sattar, por telefone.

“Mas nada é de graça. Até o momento nenhum produto desse tipo passou nem sequer por testes clínicos”.

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