Nuno Vasconcellos: CVO do Hopi Hari quer reinventar parque (Hopi Hari/Divulgação)
Repórter
Publicado em 16 de dezembro de 2025 às 05h59.
Depois de anos marcados por crises, dívidas bilionárias e perda de público, o Hopi Hari tenta escrever um novo capítulo.
Com o fim da recuperação judicial, a dívida reduzida em mais de R$ 800 milhões e um plano de investimentos agressivo, o parque anuncia uma guinada histórica — e mira nada menos do que se consolidar como o maior destino de entretenimento da América Latina até 2030.
"Nos próximos anos, avançaremos com um projeto que combina novas atrações, expansão territorial, experiência ampliada, integração de transporte e um projeto turístico, posicionando o parque no patamar dos grandes players internacionais", afirma Nuno Vasconcellos, Chief Visionary Officer (CVO) — executivo de alto nível responsável por definir e comunicar a visão estratégica de longo prazo de uma empresa —, do Hopi Hari, em entrevista à EXAME.
Para Vasconcellos, parques como o da Cacau Show e do Beto Carrero não são adversários do Hopi Hari.
EXAME: Com a recuperação judicial encerrada e a dívida reduzida para R$ 600 milhões, como o parque se prepara para uma nova fase?
Vasconcellos: A redução da dívida devolveu ao Hopi Hari a capacidade de investir de forma estratégica.
Entramos agora em um ciclo de crescimento disciplinado, com foco em margem e eficiência; meta de Ebitda sustentado por governança forte e controle rigoroso; e profissionalização da gestão, preparando o parque para um potencial IPO nos próximos anos.
Estamos construindo um parque sólido, previsível e escalável.
EXAME: O IPO citado é uma possibilidade no curto ou no médio prazo? O que precisa estar pronto até lá?
HOPI HARI: A abertura de capital é uma possibilidade mais ligada ao médio prazo do que ao curto prazo. Não há uma data definida; o foco está na preparação.
O objetivo atual é deixar a empresa “IPO ready”, independentemente de um calendário específico. Isso envolve três frentes principais.
A primeira é a performance consistente, com crescimento de receita, margens saudáveis de EBITDA e redução gradual da dívida, respeitando a capacidade de geração de caixa do parque.
A segunda é governança e transparência, com fortalecimento de conselho, auditoria, controles internos e compliance nos padrões exigidos pelo mercado de capitais.
A terceira é a apresentação de um plano de crescimento claro e financiável, que demonstre que o ciclo de investimentos em novas atrações, modernização, shopping aberto e, futuramente, hospitalidade, possui lógica de retorno e não se limita a um projeto conceitual.
Caso, no futuro, desempenho operacional, desalavancagem financeira e condições de mercado converjam, um IPO ou uma transação estratégica tende a ser consequência natural. Até lá, a prioridade permanece clara: geração de caixa, segurança e execução.
EXAME: Depois da recuperação judicial, como o parque se posiciona para crescer?
Vasconcellos: Nos posicionamos com um compromisso inegociável: estabilidade antes da expansão. Isso significa gestão profissional e governança com KPIs claros; controle de custos e eficiência operacional; planejamento financeiro de longo prazo; e rigor no cumprimento do plano judicial aprovado.
O parque cresce hoje sobre bases sólidas, e isso se reflete no aumento contínuo do Ebitda e na capacidade de atrair capital. Foi um processo difícil, sobretudo porque o maior credor atualizou a dívida em CDI, sendo que os demais reduziram em 50%; com isso a dívida quase que duplicou.
De qualquer maneira, esse processo todo foi transformador. A RJ trouxe estrutura, disciplina, responsabilidade e plano de longo prazo. A equipe entendeu que gestão profissional e foco no essencial são requisitos para sobrevivência e para crescimento.
EXAME: Qual é a visão de futuro do Hopi Hari? Quais são os planos de longo prazo para os próximos 5 a 10 anos?
Vasconcellos: A visão de futuro do Hopi Hari é consolidá-lo como o maior destino de entretenimento da América Latina, com uma operação profissionalizada, tecnologia de ponta e um ecossistema integrado de parque temático, varejo, hotelaria e turismo.
Nos próximos anos, avançaremos com um projeto que combina novas atrações, expansão territorial, experiência ampliada, integração de transporte e um projeto turístico, posicionando o parque no patamar dos grandes players internacionais.
EXAME: Como o Hopi Hari planeja se tornar o maior parque da América Latina? Existe a ambição de se tornar a “Disney do Brasil”?
Vasconcellos: Sim, o objetivo do parque é se tornar o melhor e mais amado parque da América Latina.
E para isso a Disney nos inspira pela capacidade de entregar encantamento, conteúdo e magia, além da capacidade e eficiência operacional. Apesar da inspiração, queremos que o parque seja reconhecido pela sua identidade própria e pela capacidade de inovar.
EXAME: Em termos de expansão e novas atrações, como você enxerga o futuro do parque em comparação com os maiores concorrentes internacionais?
Vasconcellos: O foco está em reforçar o portfólio de atrações, com investimentos de grande escala; evoluir a tecnologia, segurança e operação para padrões globais; e fortalecer conteúdo próprio, um diferencial raro no setor.
O objetivo é que, em 2030, o parque esteja no mesmo nível de eficiência e experiência dos grandes players internacionais, preservando sua linguagem, humor e cultura.
EXAME: A competição com o parque da Cacau Show e com a renovação do Beto Carrero é vista como um desafio?
HOPI HARI: O parque da Cacau Show e o Beto Carrero não são vistos como adversários diretos no sentido clássico. A dinâmica é diferente.
O Beto Carrero opera hoje muito mais como um destino turístico completo, com viagem planejada, hospedagem e vários dias de permanência.
O Hopi Hari, neste momento, ainda funciona predominantemente como um parque de day use, atendendo um raio de cerca de 30 milhões de pessoas em até uma hora e meia de carro. São momentos de consumo e formatos de viagem distintos.
No caso da Cacau Show, a proximidade geográfica tende a gerar benefício mútuo. A região deixa de ser vista apenas como um passeio de um dia e passa a ter vocação de destino de entretenimento, com mais pernoites, maior gasto médio e mais opções para o visitante.
Isso amplia o impacto positivo para hotéis, restaurantes, comércio local e, naturalmente, para os parques.
É evidente que todos competem, em alguma medida, pelo tempo e pelo orçamento do mesmo consumidor. Ainda assim, a estratégia não é competir diretamente com outros players, mas transformar o eixo em um polo de lazer e turismo. Se cada empreendimento executar bem sua proposta, o principal beneficiado será o visitante.
EXAME: O Beto Carrero começou a fazer parcerias com grandes marcas. O Hopi Hari vai seguir esse caminho?
HOPI HARI: Parcerias com grandes marcas fazem parte da equação, mas não substituem a identidade do parque.
O modelo de áreas temáticas licenciadas é um benchmark importante no setor, acompanhado de perto. No caso do Hopi Hari, a estratégia é equilibrar conteúdo proprietário com marcas que já têm forte conexão com o público.
Atualmente, o parque mantém parcerias relevantes com marcas como Coca-Cola e Germânia, e a saída da recuperação judicial amplia o espaço para novos acordos comerciais.
Ao mesmo tempo, o principal diferencial segue sendo o “país Hopi Hari”, com humor, língua, personagens e cultura próprios, elementos que não serão abandonados.
O parque está aberto a novas parcerias com marcas nacionais e internacionais, desde que atendam simultaneamente a três critérios: melhoria da experiência do visitante, aumento de receita e fortalecimento da marca Hopi Hari. Caso não façam sentido nesses três eixos, não entram na estratégia.
EXAME: O Hopi Hari quer chegar a 3 milhões de visitantes até 2028. Quais ações serão essenciais para alcançar essa meta?
Vasconcellos: Estamos estruturando ações decisivas: retrofit completa da Montezum, convertendo-a em uma montanha-russa híbrida, com investimento de mais de R$ 20 milhões apenas em 2026; duas novas grandes atrações já planejadas para 2026, além de um calendário robusto de shows e entretenimento ao longo de todo o ano; marketing digital de alta performance com metas claras de crescimento online; expansão da oferta turística, com hotelaria, shopping e novas áreas de lazer; melhorias de transporte, infraestrutura e experiência porta-a-porta; atrair e reter os talentos necessários; e investimentos focados na experiência do visitante, com foco em redução de filas e capacidade operacional.
EXAME: Como investimentos como shopping a céu aberto e hotéis transformarão a experiência dos visitantes?
Vasconcellos: O shopping a céu aberto é o primeiro passo para transformar o Hopi Hari em um destino diário, e não apenas um parque temático.
O investimento inicial estimado é de R$ 200 milhões. A primeira fase terá 20 mil m², com 100 a 120 lojas e um complexo de cinemas de última geração.
A criação prevista é de 800 a 1.000 novos empregos diretos na região. Ele amplia o fluxo de visitantes, traz novas receitas e integra o parque a um ecossistema urbano e turístico mais dinâmico, impulsionando toda a cadeia regional. São 30 milhões de pessoas em até 1h30 de carro.
EXAME: O que o público deve esperar de mais imediato em 2026?
Vasconcellos: 2026 será um marco de revitalização: Montezum renovada como montanha-russa híbrida; duas novas atrações de grande porte, ainda em sigilo, mas já planejadas; expansão de eventos temáticos e shows durante todo o ano, elevando a ocupação do parque e a experiência do visitante; melhorias estruturais, tecnológicas e de operação, visíveis em conforto, segurança e fluxo.
Será o início de uma nova fase de modernização contínua.
EXAME: Quais desafios ainda marcam o presente do Hopi Hari?
Vasconcellos: Encontramos o parque em 2019 totalmente sucateado, com 800 famílias desamparadas e sem futuro.
Daquele dia até hoje aprovamos o RJ, saímos do RJ, o parque conta com todas as CNDs negativas, fizemos três aumentos de capital, além de outros aportes; e a dívida foi reduzida de R$ 1,4 bilhão para R$ 600 milhões.
Agora, os principais desafios são modernizar um ativo que ficou anos sem investimentos adequados; reconquistar confiança e reforçar padrões de segurança; e atrair talentos executivos compatíveis com o novo nível de ambição.
Estamos enfrentando esses pontos com governança, planejamento e investimentos concretos, sempre com transparência e disciplina operacional.
EXAME: Como manter uma boa relação com credores após anos de crise?
Vasconcellos: Com transparência, governança e entrega de resultados. A recuperação judicial nos obrigou a amadurecer a relação com o mercado.
Hoje, dialogamos com credores de maneira técnica, previsível e confiável, demonstrando que o parque vive um ciclo real de recuperação e crescimento.
EXAME: Qual foi a maior dificuldade enfrentada e o que ficou de lição?
Vasconcellos: A maior dificuldade foi a perda de capacidade de investimento, que é vital para um parque temático.
Sem renovação contínua, a experiência degrada, a percepção pública se deteriora e o ciclo negativo se aprofunda. Essa lição guiou toda a estratégia atual: disciplina e reinvestimento permanente.
EXAME: O que mudou na administração para evitar a repetição das crises?
Vasconcellos: Hoje operamos com governança corporativa real; planejamento plurianual; equipe executiva de alto nível; disciplina financeira, metas e execução; transparência e foco absoluto no visitante.
O Hopi Hari deixou de ser um parque gerido de forma reativa e passou a ser uma empresa estratégica de entretenimento. As gestões passadas resultaram numa crise que culminou no encerramento das atividades do parque.
Houve uma gestão absolutamente temerária. As crises do passado, embora duras, revelaram o que não pode mais acontecer: ausência de governança, falta de planejamento e ciclos longos sem investimento. Esses erros moldaram uma estratégia atual baseada em profissionalização, eficiência e visão de longo prazo.
EXAME: Como o parque lidou com acidentes e reconquistou a confiança do público?
Vasconcellos: A resposta foi transformar a segurança no centro absoluto da operação, implementando práticas redundantes de segurança, auditorias externas — hoje a Tuv Nurd nos audita anualmente —, além do AVCB em dia, todos os certificados que regem o segmento e um time interno de qualidade e gestão dos protocolos operacionais. Nada é priorizado acima da segurança. Recuperar a confiança exigiu responsabilidade, investimento e consistência.
EXAME: O parque terá mais elementos de entretenimento familiar?
Vasconcellos: Sim, ampliaremos cada vez mais experiências familiares, narrativas e personagens próprios. Queremos criar um encantamento brasileiro, com identidade clara e reconhecimento universal.
EXAME: Qual é o maior diferencial do Hopi Hari?
Vasconcellos: A nossa identidade é única: um país fictício, com humor, língua, personagens e cultura próprios. Nenhum outro parque no mundo possui esse DNA.
Essa originalidade será sempre preservada e modernizada. Estamos reconstruindo a imagem do Hopi Hari com segurança reforçada, experiência qualificada, comunicação moderna, renovação de atrações, consistência e entrega. A percepção está mudando porque a realidade mudou: o parque voltou a crescer e a investir.
O caminho está claro: renovação constante do parque e novas atrações; shopping e hotelaria integrados; segundo parque temático com foco aquático, praias, hotéis e apartamentos turísticos; criação de empregos diretos e indiretos, impulsionando toda a região; atração de visitantes nacionais e internacionais com voos diretos via três aeroportos próximos; e um polo de parques temáticos na região, incluindo novos empreendimentos, que reforçará o destino.
A região da grande Campinas tem condições reais de se transformar no maior hub de entretenimento do Brasil.