Pierre Galvagni Silveira, cirurgião vascular e cofundador da Archo: ""O que propomos é um dispositivo que conecta essas áreas críticas e permite o tratamento endovascular mesmo em situações mais complexas" (Arquivo pessoal)
Repórter de Negócios
Publicado em 8 de janeiro de 2025 às 16h12.
Última atualização em 8 de janeiro de 2025 às 17h54.
Um aneurisma da aorta pode ser fatal. Essa condição, que atinge a principal artéria do corpo humano, representa um desafio para a medicina moderna, especialmente em casos mais complexos.
A startup catarinense Archo Medical quer mudar isso. A empresa acaba de receber um aporte de R$ 5,7 milhões e se prepara para levar ao mercado um dispositivo que torna mais acessível um tratamento endovascular (menos invasivo) para pacientes que, atualmente, não têm opções eficazes.
O aneurisma acontece quando a parede da artéria se enfraquece e forma uma espécie de balão, que pode romper e causar hemorragia grave.
"Pense na aorta como um cano por onde passa o sangue que irriga todo o corpo", diz o cirurgião vascular Pierre Galvagni Silveira, cofundador da Archo. "Se esse cano apresenta um defeito, ele pode ser isolado colocando-se outro tubo por dentro. Essa é a técnica endovascular, menos invasiva e mais segura, criada há quase 30 anos."
No entanto, em alguns casos, a localização do aneurisma – como próximo a artérias que levam sangue ao cérebro e aos braços – torna o tratamento convencional ineficaz.
"Para esses pacientes, o que temos hoje no mercado não resolve", afirma o CEO da empresa, Henrique Luckmann. "O que propomos é um dispositivo que conecta essas áreas críticas e permite o tratamento endovascular mesmo em situações mais complexas".
Galvagni usa uma metáfora simples para descrever a tecnologia.
"Imagine que você tem um cano quebrado na parede. Ou você quebra a parede inteira para trocar o cano, ou insere outro tubo por dentro para isolar o problema. Nosso dispositivo faz isso, coloca outro tubo, mas vai além: ele cria conexões que permitem tratar áreas complexas, como a base do arco aórtico, que irriga o cérebro e os braços", afirma o cirurgião.
O dispositivo da Archo é composto por um stent autoexpansível, feito de uma liga metálica especial, que se ajusta às artérias e é recoberto por um material que garante vedação e durabilidade. Ele é levado ao local da lesão por meio de um cateter, inserido pela artéria femoral.
“Essa técnica evita a necessidade de cirurgias grandes e invasivas, como abrir o peito do paciente e realizar derivações manuais”, diz Galvagni.
Atualmente, o dispositivo está em fase final de desenvolvimento e testes pré-clínicos. O primeiro estudo em humanos está previsto para começar no terceiro trimestre de 2025, com foco em segurança e viabilidade.
A Archo Medical atua em um mercado ainda pequeno no Brasil, mas que movimenta bilhões globalmente. Segundo Luckmann, os dispositivos médicos são, em sua maioria, desenvolvidos e fabricados fora do país.
No Brasil, esses produtos são geralmente vendidos por meio de distribuidores para hospitais, que os utilizam em cirurgias sob demanda.
“É um modelo em que o material é consignado aos hospitais. Quando surge um caso, ele é faturado ao hospital, que repassa os custos ao convênio ou ao paciente. Isso exige do fabricante um bom fluxo de caixa para manter estoques iniciais”, diz o CEO.
Esse cenário é desafiador para startups, que precisam de capital significativo antes de começarem a gerar receita. A Archo planeja começar as vendas diretamente para hospitais e, em seguida, ampliar sua base de distribuição.
"Queremos começar com serviços médicos de referência no Brasil e depois expandir para mercados maiores, como Estados Unidos e Europa", afirma Luckmann.
O aporte de R$ 5,7 milhões será fundamental para a próxima etapa do projeto. Segundo Luckmann, o recurso será usado para concluir os últimos testes pré-clínicos e financiar o primeiro estudo em humanos, que deve incluir 10 pacientes e testar a segurança do dispositivo.
"Esse estudo é uma etapa crucial", afirma o CEO. “Ele nos permitirá validar o produto para obter aprovação regulatória da Anvisa e iniciar a comercialização no Brasil.”
A expectativa é que os resultados desse estudo estejam disponíveis até o início de 2026, permitindo o lançamento do dispositivo no mercado brasileiro no mesmo ano.
A Archo Medical projeta iniciar as vendas do dispositivo no Brasil em 2026. A partir daí, o foco será expandir para outros países da América Latina, aproveitando a documentação regulatória aprovada pela Anvisa. Já os mercados americano e europeu, que têm exigências mais rigorosas, devem ser alvo de uma nova rodada de investimentos.
Para Luckmann, a meta é clara: transformar a Archo em um player relevante no segmento de dispositivos médicos globais. "Estamos construindo algo para o longo prazo. Acreditamos que nossa tecnologia vai beneficiar não só pacientes mas também o setor como um todo, trazendo inovação e competitividade para o Brasil", diz.