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Ensino superior privado busca saídas para crise

Após sete anos de forte crescimento, as instituições privadas de ensino superior assistem à queda da demanda e ao aumento da capacidade ociosa

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h40.

Entre 1997 e 2003, o ensino superior privado viveu uma explosão no Brasil. O número de alunos que ingressaram no sistema saltou de 392 041 para 995 873 no período. O crescimento representou uma taxa média anual de 17%. Atualmente, 3,9 milhões de pessoas estão matriculadas nas instituições de terceiro grau do país, das quais 2,7 milhões, na rede privada. Mas, desde 2003, a abertura não planejada de novas vagas e o aumento das mensalidades reduziu a procura pelos cursos. Com isso, o setor enfrenta uma crise que se reflete numa capacidade ociosa de 42%.

Segundo uma pesquisa da Ideal Invest, consultoria especializada em educação, em conjunto com a editora Hoper, a desaceleração no crescimento da demanda deve se acentuar nos próximos anos. Em 2003, o volume de alunos que ingressaram nas instituições privadas cresceu 8% em relação a 2002. Entre 2005 e 2010, a taxa média anual deve ser ainda menor: 5%.

Demanda em queda

A primeira explicação para essa queda de demanda é a tendência de estabilização do total de alunos que saem do ensino médio e entram no terceiro grau. De acordo com a pesquisa, o que sustentou a elevada procura por cursos superiores entre 1997 e 2003 foi a expansão do número de vagas do ensino médio, que cresceu a uma taxa anual de 6% entre 1998 e 2003. Com mais gente se formando no segundo grau, era natural que aumentasse também a procura pelo ensino superior.

As projeções de expansão do ensino médio, entre 2005 e 2010, porém, são bastante modestas. Segundo a pesquisa da Hoper, a demanda nesse segmento crescerá, em média, 0,6% ao ano no período, dos atuais 10,3 milhões de alunos matriculados para 10,6 milhões.

Outro desafio é a saturação do mercado de classe média e alta. Atualmente, 90% dos alunos que cursaram o ensino médio em escolas privadas já ingressam em instituições públicas ou particulares de terceiro grau. Há, portanto, pouco espaço para aumentar a demanda nesse segmento. A outra opção é disputar os alunos do ensino público, onde apenas 47% dos formados conseguem ingressar em algum curso superior. O problema, nesse segmento, é o baixo poder aquisitivo, o que restringe o acesso ao ensino privado.

Segundo a pesquisa, nas famílias com renda superior a cinco salários mínimos, o percentual de jovens entre 18 e 24 anos que cursam o ensino superior está acima dos 50% índice semelhante ao dos países desenvolvidos. O problema, porém, são as famílias com renda de até três salários mínimos, que respondem por 90% da população brasileira. Nesse segmento, o percentual de jovens na universidade é de 12%.

Políticas de financiamento

As instituições privadas não conseguirão alcançar esse público sem o apoio do governo, de acordo com a Hoper. "Fica claro que só haverá possibilidade de crescimento semelhante ao dos últimos anos, caso sejam encontradas políticas de financiamento estudantil públicas ou privadas, que garantam um aporte maciço de alunos oriundos de famílias com renda inferior a três salários mínimos", afirma o estudo.

O financiamento é necessário não apenas para garantir o ingresso dos alunos carentes na universidade, mas também para mantê-los, de acordo com a pesquisa. O estudo mostra que, hoje, apenas 60% dos matriculados no primeiro ano dos cursos superiores obtêm o diploma. Com políticas de apoio adequadas, essa percentagem poderia subir para 70% até 2010.

No ano passado, o ensino superior privado faturou 14,2 bilhões de reais, cifra apenas 0,4% maior que a de 2003. Segundo a Hoper, o crescimento das receitas não acompanhou a expansão do número de alunos matriculados, porque as mensalidades apresentaram uma queda real de 4%, para um valor médio de 457 reais. Para os próximos anos, a expectativa é de estabilização do faturamento do setor em torno de 14 a 15 bilhões de reais por ano.

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