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Empresário, novo dirigente do Cruzeiro é prefeito mais rico do que Doria

Prefeito de Betim e dono do grupo Sada, Vittorio Medioli tem patrimônio de mais de 300 milhões de reais e foi escolhido como CEO do Cruzeiro

Vittorio Medioli: italiano também é patrocinador e presidente do time de voleibol Sada Cruzeiro (Vittorio Medioli/Divulgação)

Vittorio Medioli: italiano também é patrocinador e presidente do time de voleibol Sada Cruzeiro (Vittorio Medioli/Divulgação)

CR

Carolina Riveira

Publicado em 27 de dezembro de 2019 às 13h09.

Última atualização em 30 de julho de 2020 às 14h19.

O Cruzeiro anunciou nesta semana sua nova diretoria, responsável por tirar o time de futebol dos maus bocados que passou em 2019. Entre eles está uma figurinha carimbada na política -- e nos negócios -- de Minas Gerais: o prefeito da cidade de Betim e empresário, Vittorio Medioli, que assumirá o clube como vice-presidente e diretor-executivo (CEO) do conselho de transição.

Quando foi eleito em Betim, em 2016, Medioli tornou-se um dos prefeitos mais ricos do Brasil. Na época, o empresário, eleito pelo PHS, tinha uma fortuna de 352 milhões de reais, segundo sua prestação de contas ao Tribunal Superior Eleitoral. Quase o dobro dos cerca de 180 milhões de reais do paulistano João Doria, eleito no mesmo ano prefeito de São Paulo (Doria deixaria a prefeitura em 2018 para eleger-se governador do estado).

Medioli e sua família são donos do Grupo Sada, uma companhia de logística especializada em transportar veículos de montadoras rumo a concessionárias. O grupo também investiu em setores como siderurgia, biocombustíveis e até editorial (a empresa é dona do jornal mineiro O Tempo, o maior do estado). Da última vez em que divulgou os números em reportagem de EXAME, em 2016, o Sada havia faturado 3 bilhões de reais no ano anterior.

O empresário foi eleito prefeito de Betim no primeiro turno, com 61,64% dos votos. Com caráter industrial, a cidade tem mais de 400.000 habitantes e é a terceira maior da região metropolitana de Belo Horizonte. É sede da primeira fábrica da Fiat no Brasil (uma das principais clientes do grupo Sada), da Refinaria Gabriel Passos, da Petrobras, de metalúrgicas e outras indústrias.

Nascido em Parma, na Itália, em uma rica família dona de moinhos de farinha, Medioli veio para o Brasil em 1976 a convite da Fiat. A montadora italiana ia começar a operar sua primeira fábrica por aqui e queria trazer fornecedores de confiança de seu país de origem.

A Sada já chegou a ter mais de 50% do mercado de logística de automóveis no Brasil. Mas a empresa, assim como todo o setor automobilístico, foi afetada pela crise que se instalou no Brasil em 2015. Entre 2013 e 2015, o faturamento foi de 4,2 bilhões de reais para 3 bilhões, com quase 2.000 funcionários a menos. Atualmente, Medioli não comanda mais o grupo, que ficou sob gestão das filhas.

Mas, no futebol, o Cruzeiro vive tão mal das pernas quanto o setor automobilístico no pior da crise. Fundado em 1921, o time foi rebaixado pela primeira vez em sua história no Campeonato Brasileiro neste ano e terá de disputar a série B em 2020.

Para a próxima temporada, Medioli chegou ao clube afirmando que nenhum jogador ganhará mais de 150.000 reais. O orçamento deve cair de 380 milhões de reais para 80 milhões, afirmou o dirigente.

Em 2018, último ano com dados consolidados, o Cruzeiro teve a sexta maior receita do futebol brasileiro, com 387 milhões de reais, segundo balanço do clube compilado pela consultoria Sports Value. Metade disso veio do pagamento de direitos de televisão. Disputado a série B, o valor pago pela transmissão dos jogos será muito menor.

Além de Medioli, a nova diretoria do Cruzeiro tem uma série de outros empresários mineiros. Inclui nomes como Saulo Fróes, que será presidente do conselho gestor (e é dono da locadora de veículos Lokaming), Pedro Lourenço (da rede Supermercados BH), Alexandre de Souza Faria (da corretora de seguros Multiseg), entre outros.

O Cruzeiro tem 95 milhões de reais em dívidas só com os jogadores do time principal e, embora deseje manter alguns nomes, terá de cortar os salários mais caros. "Quem quiser ficar, que fique", disse Medioli ao Globoesporte.com.

Sada Cruzeiro: a Sada de Medioli é patrocinadora do time desde 2006 (Agência i7/Sada Cruzeiro/Divulgação)

Midas do vôlei

O empresário já havia se aproximado dos esportes anteriormente, mas com outro braço do Cruzeiro, o de vôlei. Desde 2006, um dos grandes xodós do prefeito é o time de voleibol Sada Cruzeiro, patrocinado por ele. A nova fase do time nasceu como Sada Vôlei, em uma parceria entre a prefeitura de Betim (já comandada por aliados de Medioli) e o Sada. Anos depois, em 2008, o time fechou uma parceria com o Cruzeiro e só aí passou a levar o nome do clube, além de transferir as operações para Belo Horizonte.

O voleibol é muito popular na Itália, e mais ainda em Parma, onde Vittorio, mesmo com cerca de 1,70 metro, o praticava. O Sada Cruzeiro é um dos maiores vencedores da modalidade no país, sendo hexacampeão da Superliga (a liga nacional de vôlei) e tricampeão do Campeonato Mundial de Clubes.

No futebol, Medioli precisará mostrar a experiência em gestão acumulada com as décadas de Sada e de política. Quando Medioli chegou ao Brasil, aos 24 anos, a Sada era uma pequena empresa de transportes que prestava serviço de logística para outros fornecedores da Fiat na Itália. O empresário foi convocado pela família a explorar as novas terras, e a transportadora se instalou na região de Betim.

Pouco depois, a família desistiu de investir no país e Medioli ficou sozinho. Mas a Sada foi crescendo lentamente, junto com a Fiat. A fábrica da montadora em Betim, que nasceu para fazer 200.000 veículos ao ano, chegou a produzir mais de 800.000, tornando-se a segunda maior fábrica de automóveis do mundo, atrás apenas de uma planta da Hyundai, na Coréia do Sul.

Além dos negócios, o empresário tem longa carreira política, tendo sido deputado federal pelo PSDB entre 1991 e 2006. Chegou a ser o quarto deputado mais votado de Minas Gerais. Nos últimos 20 anos, ele também se dedicou a influenciar a política mineira e de Betim, patrocinando campanhas de políticos locais. Em 2016, investiu 4,5 milhões de reais na campanha de mais de 200 candidatos a vereador em Betim -- ajudando a eleger uma Câmara favorável a seu governo.

Foi por sua influência que outro cartola mineiro ingressou na política local. Medioli é amigo do ex-presidente do Atlético Mineiro e hoje prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil. Presidente do Atlético entre 2009 e 2014, Kalil esteve à frente do Galo em momentos como o título da Libertadores em 2013. O ex-cartola se elegeu em Belo Horizonte em 2016 e se candidatou também pelo PHS, incentivado por Medioli, que havia entrado no partido pouco antes.

Cruzeiro: time de futebol foi rebaixado em 2019 pela primeira vez na história (Vinnicius Silva/Cruzeiro/Divulgação)

Clube-empresa

Medioli afirma que quer, além de levar o Cruzeiro de volta à série A, transformar o time em um clube-empresa. Atualmente, a maior parte dos times de futebol atua em formato de associação, pagando menos impostos. No formato de empresa, os times passariam a ser tratados de forma diferente pela lei, pagando mais impostos e, inclusive, estando passíveis de falência como qualquer empresa.

O novo dirigente disse em entrevistas nesta semana que tem "uma equipe trabalhando" na proposta de fazer do time uma Sociedade Anônima. Os clubes, na teoria, já podem virar empresas pelas regras atuais, mas um projeto de lei para facilitar a transição (cobrando menos impostos dos clubes que optarem pelo modelo e oferecendo renegociação de dívidas) vem tramitando na Câmara.

Transformar times em empresas não necessariamente resolve os imensos problemas de gestão no futebol brasileiro. Os 20 maiores clubes do Brasil fecharam 2018 com 6,9 bilhões de reais em dívidas, segundo a Sports Value.

Há diferentes formatos de clube-empresa: de times com um investidor que vira dono até clubes em que a associação continua dona do time ou o clube abre capital na bolsa, tendo, portanto, vários investidores. Na prática, como aconteceu com o Figueirense, corre-se o risco de que o investidor deixe o clube -- e as dívidas -- sem dono. O time de Santa Catarina virou clube-empresa em 2017, mas quase deixou o Campeonato Brasileiro neste ano depois que o novo dono abandonou o barco.

Medioli é otimista, e aposta inclusive em um formato em que, no futuro, o Cruzeiro possa abrir capital na bolsa. O Cruzeiro fechou o ano com mais de 700 milhões de reais em dívidas, e o balanço do time fecha com déficit há mais de oito anos.

"Tem um Cruzeiro que vai fazer agora 99 anos e vamos preparar um Cruzeiro para ter mais 100 ou 200 anos de glória, profissionalizando o Cruzeiro, deixando essa figura de clube e montando uma empresa, uma S.A (sociedade anônima) por ações, com até o torcedor podendo comprar", disse ao jornal O Tempo. 

No vôlei, Medioli é não só o principal patrocinador como também presidente do Sada Cruzeiro, cargo que acumula junto à prefeitura de Betim. Para o Cruzeiro "de futebol", a expectativa da torcida é que Medioli consiga ser tão bem-sucedido nos gramados quanto é com seu time das quadras.

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