Saraiva: rede de livrarias está em recuperação judicial desde o ano passado, assim como a concorrente Cultura (Saraiva/Divulgação)
Carolina Riveira
Publicado em 23 de julho de 2019 às 17h18.
Última atualização em 23 de julho de 2019 às 20h40.
A rede de livrarias Saraiva, que está em recuperação judicial desde novembro do ano passado, anunciou que tem 34 ações de despejo tendo suas lojas como alvo. O número foi divulgado na noite desta segunda-feira, 22, em resposta a questionamento da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Segundo o comunicado, dos 34 processos de despejo atuais, 28 tramitam em primeira instância e sete tiveram pedidos de liminares atendidos (mas três delas foram suspensas na sequência). Outros seis estão em trâmite em segunda instância e, assim, tiveram ordem para executar o despejo, mas destas, três ações também foram suspensas.
Há seis meses, em janeiro, a Saraiva já tinha 30 ações de despejo contra algumas lojas do grupo. Contudo, em virtude da recuperação judicial da empresa, mesmo as ações que já chegaram a configurar uma ordem de despejo na Justiça estão suspensas.
A CVM quis saber por que a informação não havia sido divulgada anteriormente como "fato relevante", obrigação das empresas de capital aberto. A Saraiva alegou que as ações de despejo "se tratavam de informações públicas" por já estarem disponíveis nos sites dos Tribunais de Justiça dos estados das respectivas unidades que sofriam processos.
"A companhia ressalta que continuará, como historicamente sempre o fez, cumprindo suas obrigações com todos os órgãos legislativos, regulatórios, e para com seus acionistas e mercado em geral", escreveu a empresa no comunicado enviado à CVM.
A Saraiva tinha até o fim de março 79 lojas em 17 estados brasileiros e no Distrito Federal. Terminando o ano em prejuízo desde 2016 e com dívidas de 684 milhões de reais, a empresa já havia fechado 20 lojas no ano passado, antes de pedir recuperação judicial em novembro.
Outras três lojas fecharam as portas no primeiro trimestre deste ano (duas em São Paulo e uma no Rio), as quais a companhia classificou como "com baixa perspectiva de geração de valor" em seu último relatório trimestral.
O faturamento nas lojas físicas da rede de livrarias caiu 11% no primeiro trimestre na comparação com os últimos três meses de 2018, ante alta de 35,7% nas vendas por comércio eletrônico. Visando alavancar as vendas online, a Saraiva iniciou também uma parceria para vender seus produtos no Mercado Livre -- segundo o relatório trimestral da empresa, mais da metade dos clientes que vêm da plataforma são novos.
Cortes como os das lojas físicas e o fim de categorias que exigem maior capital de giro, como eletrônicos, fazem parte de um esforço da rede para cortar custos. As despesas da Saraiva caíram 38,6% no primeiro trimestre de 2019 na comparação com o último trimestre de 2018.
Ainda assim, a empresa fechou o primeiro trimestre de 2019 com prejuízo de 63,8 milhões de reais e faturamento de 204,8 milhões de reais. O ano passado terminou com prejuízo de 301,7 milhões de reais e faturamento de 1,4 bilhão de reais.
Os credores ainda aguardam uma nova versão do plano de recuperação judicial da empresa para ser apresentado em assembleia de credores. Se um plano apresentado for reprovado pelos credores, a empresa vai à falência.
A rede de livrarias decidiu reformular a primeira versão após o plano apresentar alto risco de ser reprovado -- a proposta era pagar apenas 5% da dívida, e ao longo de 15 anos, enquanto os outros 95% seriam pagos em títulos de dívidas (debêntures) que seriam emitidos em 2034.
A Saraiva afirmou em seus últimos relatórios trimestrais que o mau momento da empresa se deve sobretudo à crise econômica brasileira, que afetou amplamente o setor de livrarias e levou também a concorrente livraria Cultura à recuperação judicial em outubro do ano passado, um mês antes da recuperação judicial da Saraiva.