Repórter de Negócios
Publicado em 10 de abril de 2024 às 12h10.
Última atualização em 10 de abril de 2024 às 19h13.
De onde vem o chocolate? A trajetória do fundador da Tony’s Chocolonely, Teun van de Keuken, é marcada pelo combate a exploração infantil na indústria do chocolate.
Com o propósito de transformar a cadeia de abastecimento mundial, a marca holandesa tem provocado clientes e concorrentes a repensarem o consumo e a produção do cacau. No ano passado, a companhia faturou cerca de R$ 810 milhões, alta de 23%.
As barras coloridas de chocolate da Tony’s Chocolonely não são encontradas com facilidade no Brasil, mas nos últimos anos têm chamado a atenção de grandes investidores, como o ex-CEO da Starbucks, Howard Schultz, que adquiriu neste mês uma participação de 2% na empresa holandesa.
Em 2003, o jornalista holandês fez um protesto peculiar. Ele se apresentou em uma delegacia se declarando criminoso. O seu crime? Comprar conscientemente uma barra de chocolate feita com trabalho infantil ilegal.
Embora seu protesto ativista não tenha funcionado, o holandês decidiu criar sua própria barra de chocolate para provar que era possível produzir chocolate sem recorrer à exploração de crianças.
Assim nasceu a Tony’s Chocolonely em 2005. Van de Keuken estava determinado a pagar aos produtores de cacau da África Ocidental um valor justo e a obter a matéria-prima do chocolate apenas de terras que não foram desmatadas.
“Demonstramos que é possível pagar uma renda digna aos agricultores para enfrentar os desafios do trabalho infantil”, disse o CEO Douglas Lamont em entrevista à CNBC Make It. “Provamos que você pode ser uma empresa de chocolate de sucesso fazendo isso da maneira certa e ética.”
Em entrevista à Fortune, a companhia informou que gasta cerca de 7% de suas receitas com custos relacionados a impacto, como o pagamento mais alto pelo cacau aos agricultores.
Quase 20 anos depois, Tony’s não é apenas uma das marcas de chocolate mais populares na Holanda, com 20% de participação de mercado, mas também tem crescido internacionalmente.
No Reino Unido, o chocolate está entre os mais populares, ficando atrás apenas de Galaxy, Lindt e Cadbury, segundo dados da Nielsen. A marca tem se destaca também na Alemanha e nos Estados Unidos.
A empresa também conta com uma iniciativa chamada Tony's Open Chain, na qual auxilia outras varejistas e marcas de chocolate, como a Ben & Jerry's, a transformarem sua cadeia de abastecimento de cacau e a tornarem mais sustentáveis.
O ex-CEO da Starbucks, Howard Schultz chega num momento de forte crescimento da marca nos Estados Unidos. Desde 2020, a Tony's Chocolonely quadruplicou suas vendas no país e pretende expandir a sua presença em 20% mais lojas neste ano com uma nova parceria com o Walmart e aumento da distribuição em redes como Whole Foods, Target, Safeway e CVS.
No último ano, a companhia abriu uma rodada de captação de € 20 milhões, liderado pela JamJar Investiments, um fundo britânico de investimentos criado pelos fundadores da Innocent Drink, empresa adquirida pela Coca-Cola que vende 2 milhões de smoothies e sucos por semana.
Parte do valor captado foi utilizada na expansão de sua capacidade de produção em Chicago, nos Estados Unidos.
Os custos do cacau têm disparado no mercado de commodities, o que impacta diretamente a produção do chocolate no mundo todo — inclusive da Tony's.
Com fracas colheitas e alta demanda, a empresa holandesa repassou parte do aumento aos consumidores. Na Europa, por exemplo, o preço da barra de chocolate aumentou cerca de 7% no último ano.
A fabricante de chocolate tenta compensar a alta dos preços com campanhas de marketing provocativas e embalagens mais baratas. O objetivo é se provar diferente de grandes companhias globais e se manter presente no imaginário dos consumidores.
Em fevereiro, a marca holandesa fez uma campanha imitando embalagens de concorrentes como a Mondelez. A Tony's foi processada e teve de retirar a campanha na Alemanha e na Áustria.