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Ela abriu um negócio com R$ 400 aos 17 anos. Hoje, fatura R$ 90 milhões

Depois de estruturar a loja própria no interior de São Paulo, a empreendedora Michelle Svicero deve abrir 40 lojas com ajuda do Ecossistema 300 Franchising

Michelle Svicero, fundadora da Release: "As pessoas queriam comprar, mas não tinham coragem de ir ao brechó ou não encontravam o que eu mostrava" (Release/Divulgação)

Michelle Svicero, fundadora da Release: "As pessoas queriam comprar, mas não tinham coragem de ir ao brechó ou não encontravam o que eu mostrava" (Release/Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 21 de dezembro de 2025 às 08h14.

Comprar roupa usada já foi tabu. Brechós eram vistos como espaços desorganizados, com cheiro de mofo e peças amontoadas. Hoje, a realidade é outra.

O setor de moda circular movimentou cerca de 24 bilhões de reais no Brasil neste ano e já representa 12% do guarda-roupa dos brasileiros. No meio desse crescimento, Michelle Svicero, fundadora da Release, virou milionária a partir de uma aposta simples: transformar a experiência de comprar roupas de segunda mão.

Aos 17 anos e com apenas 400 reais, ela começou a vender peças garimpadas em brechós.

O negócio cresceu no boca a boca e, agora, Michelle está estruturando a expansão da Release por franquias. Com a meta de chegar a 50 lojas, a rede deve fechar este ano com 90 milhões de reais em receita.

"Se alguém tivesse me dito há 15 anos que o mercado de second hand estaria onde está hoje, eu teria achado impossível", diz Michelle. "No começo, brechó era coisa de quem não tinha dinheiro. Agora, virou tendência global".

Qual é a história da Release

A história da Release começou em Bauru, no interior de São Paulo. Michelle sempre gostou de moda, mas não tinha dinheiro para consumir nas lojas tradicionais. Durante um trabalho da faculdade de moda, conheceu os brechós e percebeu que ali existia uma oportunidade.

"Eu comecei vendendo online, antes mesmo do Enjoei existir", diz. "Criava sites simples e postava as peças. As pessoas queriam comprar, mas não tinham coragem de ir ao brechó ou não encontravam o que eu mostrava".

O primeiro grande salto veio por acaso. Uma lojista convidou Michelle para montar um bazar dentro de sua loja. O resultado? Em um único dia, ela vendeu o dobro do que faturava em um mês.

"Ali eu vi que o físico fazia sentido. Eu conhecia minhas clientes, entendia melhor o que elas queriam e a experiência de compra era muito mais forte", afirma.

O sucesso levou à primeira loja fixa, instalada nos fundos da mesma loja que sediou o bazar. Com móveis reformados e uma curadoria rigorosa, o espaço oferecia uma experiência diferente dos brechós tradicionais.

"Desde o começo, minha preocupação era criar um ambiente bonito, organizado e sem aquele aspecto bagunçado que as pessoas associavam a brechó", diz.

A cada real que entrava, Michelle reinvestia no negócio. "Nunca tive dinheiro de banco ou investidor. O lucro de um mês ia para um ar-condicionado, para um cabide novo, para melhorar a iluminação", lembra.

Parceria com a 300 Franchising e a meta de 50 lojas

Agora, Michelle prepara o maior salto da marca: a expansão por franquias. Para isso, fechou parceria com a 300 Franchising, um dos principais grupos de franquias do Brasil.

"A 300 seleciona poucos negócios para escalar. No dia da minha apresentação, éramos 12 empreendedores e só dois foram escolhidos. Tinham marcas com 40 unidades e que ficaram de fora", afirma Michelle.

A estratégia da expansão será agressiva. A previsão é abrir 50 lojas e ampliar o faturamento da rede para 90 milhões de reais.

Mas, em um mercado onde marcas como Peça Rara e Cresci e Perdi já se consolidaram, o que faz a Release se diferenciar?

"Nosso foco é a mulher. A Release é 100% feminina, então a curadoria, a experiência e a comunicação são muito mais direcionadas", explica Michelle.

O diferencial da rede está no atendimento e na experiência da loja. "Criamos espaços de descanso para acompanhantes, cadeira de massagem no 'maridódromo', área pet e kids. Mas a venda é só para o público feminino. Queremos que a mulher tenha um momento só dela", diz.

Para acelerar a adaptação das novas franqueadas, a Release vai oferecer mentoria direta com Michelle para as 10 primeiras unidades. "Não é só um treinamento padrão. Vou acompanhar pessoalmente cada uma, ajudando na gestão, no marketing e na construção da marca na cidade. Quero que essas franqueadas sejam embaixadoras da Release", afirma.

Um setor que cresce sem crise

O mercado de second hand tem um crescimento acelerado no Brasil. O faturamento do setor em 2021 foi de 7 bilhões de reais e deve crescer até 30% ao ano até 2025. Além disso, a previsão é que, até 2030, os brechós ultrapassem as vendas do fast fashion no país.

A mudança de comportamento do consumidor impulsiona essa expansão. "A geração mais nova já nasceu sem preconceito com roupa usada. Para elas, comprar em brechó é normal", diz Michelle. Mas não são só os jovens que aderiram. "Mulheres de 40, 50, 60 anos viram que é uma decisão inteligente. Elas podem comprar roupas de qualidade pagando até 80% menos", afirma .

A tendência não é passageira. "Depois que alguém conhece brechó, não consegue mais comprar no shopping sem pensar duas vezes. É uma mudança definitiva", diz Michelle.

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Esta matéria foi publicada originalmente em março de 2025

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