Donos do Boticário investem em bares tradicionais de SP
Os principais acionistas do grupo Boticário, Artur Grynbaum e Miguel Krigsner, investiram parte de sua fortuna pessoal em bares como Original e Pirajá
Da Redação
Publicado em 3 de julho de 2014 às 08h48.
São Paulo - Os principais acionistas do Grupo Boticário , Artur Grynbaum e Miguel Krigsner, investiram, recentemente, parte de sua fortuna pessoal num negócio inusitado - ao menos para eles, que construíram sua trajetória empreendedora no ramo de cosméticos.
Por meio do fundo de investimento 2+capital, os dois se tornaram sócios da Companhia Tradicional de Comércio, dona de bares bem conhecidos no mercado paulistano, como o Original e o Pirajá, além da Lanchonete da Cidade e da Pizzaria Braz.
O negócio foi fechado em fevereiro e recentemente recebeu aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Os sócios fundadores da Cia. Tradicional do Comércio - são seis no total - não fazem questão de enfatizar que, por trás do novo sócio, está o gigante Boticário - como revelou no início desta semana a coluna da Sonia Racy.
"Não temos qualquer relação direta com eles, nem nos conhecemos pessoalmente. Nosso negócio é com o fundo", diz Ricardo Garrido, um dos fundadores da companhia.
O 2+Capital foi criado em 2010 para gerir e "domar" o ímpeto empreendedor de Grynbaum e Krigsner. No comando, está o diretor Fábio Sakamoto, ex-executivo da consultoria Bain & Company.
"Os dois são empreendedores natos, que não conseguem ignorar uma boa oportunidade de negócio", diz Sakamoto. "O fundo veio para estruturar e organizar isso."
Em dezembro 2010, o 2+capital fez seu primeiro investimento, comprando uma participação na Frajo, uma importadora e distribuidora de cosméticos importados com sede em Campinas, no interior de São Paulo.
No ano seguinte, fez um aporte no Grupo Scalina, dono das marcas Trifil e Scala. Na época, os investimentos foram divulgados ao mercado como novos negócios do Grupo Boticário, mas, segundo Sakamoto, os recursos não saíram do caixa da companhia e, sim, do fundo.
"O dinheiro é da pessoa física", diz ele. Grynbaum e Krigsner não participam do dia a dia do 2+capital, mas integram o comitê de investimento, que se reúne mensalmente para analisar os ativos e decidir sobre novos aportes.
O fundo opera como um private equity (compra participação em empresas para obter lucro, no futuro, com a venda das ações). Só que Sakamoto gosta de dizer que sua filosofia é diferente.
"Não temos prazo para sair do negócio. Nosso foco é investir em histórias empresariais de sucesso, principalmente nos segmentos de varejo e consumo, sem data para sair", explica o executivo.
Foi isso, dizem os sócios da Cia. Tradicional de Comércio, que fez a diferença na hora da negociação. Nos últimos cinco anos, a empresa foi sondada por uma dezena de fundos, mas as conversas nunca foram adiante.
"Eles chegavam com um papo de crescimento rápido e até abertura de capital, que não tinha nada a ver com a nossa estratégia", diz Edgar Bueno da Costa, um dos seis fundadores da empresa.
Os empresários não revelam o valor do aporte nem a fatia adquirida pelos donos do Boticário. Com a chegada do fundo, o grupo aproveitou para organizar sua estrutura societária: até então, os fundadores tinham sócios diferentes em cada um dos projetos. Os que decidiram ficar, após a reestruturação, passaram a ser sócios da holding.
Hoje, a Companhia Tradicional de Comércio é dona de nove marcas, com 22 unidades, em São Paulo, Rio e Campinas, com mil funcionários e faturamento estimado pelo mercado de R$ 180 milhões. Historicamente, o grupo costuma abrir de dois a três negócios por ano e não pretende acelerar o ritmo com a entrada do fundo.
"A chegada dos novos sócios vai nos ajudar com questões mais estratégicas e de longo prazo", diz Garrido. Segundo ele, será possível, por exemplo, criar um centro de treinamento para a capacitação de funcionários - que até agora, era improvisado nas pizzarias do grupo.
Para liderar o planejamento da empresa, o 2+capital destacou o executivo Eduardo Gromatzky, que também veio da Bain & Company. "A empresa já era redonda, viemos para somar", diz Gromatzky. "A ideia aqui não é transformá-la num McDonalds." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.