Dia do Solteiro vende duas Black Friday na China e cresce 50% no Brasil
Só a Alibaba vendeu 38 bilhões de dólares, o dobro da Black Friday. A EXAME, diretor da AliExpress afirma que quer fazer a data pegar no Brasil
Carolina Riveira
Publicado em 11 de novembro de 2019 às 16h26.
Última atualização em 30 de julho de 2020 às 14h24.
As promoções do Dia do Solteiro, data de compras criada na China pela gigante do comércio eletrônico Alibaba , estão no ar oficialmente há pouco mais de 24 horas. Mas a data já teve vendas equivalentes a quase duas " Black Fridays " dos Estados Unidos.
Por volta do meio-dia, pelo horário de Brasília, já fim de dia na China, as vendas da Alibaba, a principal varejista chinesa, marcavam 38,4 bilhões de dólares, alta de mais de 20% na comparação com o ano passado.
Foram 12 bilhões de dólares em vendas na primeira hora de promoção, e 1 bilhão de dólares após um minuto e oito segundos, segundo contagem da própria empresa.
As dimensões do Dia do Solteiro são incomparáveis. A Black Friday, data de comércio criada nos Estados Unidos e que se tornou popular no Ocidente, incluindo no Brasil, teve no ano passado faturamento global de 17,8 bilhões de dólares no e-commerce. Assim, as vendas na data americana representam metade do que faturou a Alibaba em somente um dia.
A Black Friday acontece sempre na última sexta-feira de novembro, que, neste ano, será no dia 29. O número da Black Friday inclui a Cyber Monday, segunda-feira posterior ao feriado de Ação de Graças nos Estados Unidos e que também tornou-se uma data de compras. No Brasil, a Black Friday existe desde 2010.
O Amazon Prime Day, data de compras criada pela varejista americana Amazon e que acontece em 15 de julho nos Estados Unidos, tem um sexto do tamanho do Dia do Solteiro. Neste ano, as vendas foram de cerca de 5,8 bilhões de dólares, segundo estimativas (a Amazon não divulga os valores exatos).
O Dia do Solteiro era celebrado inicialmente em universidades chinesas, fazendo oposição ao Dia dos Namorados e celebrando a solteirice -- o dia 11 de novembro é usado por ter números "um" ao ser escrito como 11/11. O dia foi incorporado pela Alibaba em 2009, sendo fabricado como um feriado de compras. Embora outras dezenas de lojistas chineses participem da data, a Alibaba continua sendo a principal empresa do movimento.
No Brasil
Assim como na China, a principal representante do Dia do Solteiro no Brasil é a AliExpress , empresa do grupo Alibaba e que está no país desde 2010.
Neste ano, nas primeiras 38 horas de promoção (da meia-noite de domingo 10 até 14h desta segunda-feira), foram 335.000 pedidos. São cerca de 150 pedidos por minuto nas empresas plugadas à fintech Ebanx, plataforma de pagamentos da AliExpress e de outras chinesas no Brasil, uma alta de 50% em relação aos 100 pedidos por minuto do ano passado.
Em 2018, algumas ações em relação à data já foram feitas. O Dia do Solteiro brasileiro registrou 450.000 pedidos e 79 milhões de reais (ou cerca de 21 milhões de dólares) em vendas no ano passado -- ainda pouco comparado à escala das vendas na China. O Ebanx ainda não divulgou o faturamento deste ano.
A fintech montou um website (batizado de "11do11.com") com ofertas das empresas parceiras, que incluem ainda TiendaMia e UseGiraffe. Só a AliExpress promete até 70% de desconto em produtos e cerca de 300 milhões de dólares em cupons, que serão distribuídos até a madrugada de quarta-feira 13.
A data vai pegar?
O Dia do Solteiro no Brasil acontece em grande parte desde 2017, com participação da AliExpress e de outras varejistas chinesas. Mas, segundo EXAME apurou, este é o primeiro ano em que a companhia chinesa faz de fato uma campanha forte em relação à data. Para chamar a atenção por aqui, a AliExpress investiu em uma agressiva campanha de marketing e recrutou influenciadores digitais brasileiros que juntos somam cerca de 150 milhões de seguidores.
"Pretendemos tornar o dia do solteiro maior do que a Black Friday no Brasil. É a data com menores preços no ano todo. Os consumidores chineses já têm o hábito de economizar dinheiro para essa época do ano", disse Ken Huang, diretor de operações da AliExpress para a América Latina, em entrevista a EXAME em outubro.
A empresa estuda alternativas para acelerar o prazo de entrega no Brasil, como abrir um centro de distribuição ou implementar rotas mais eficientes na entrega, mas ainda não há nada confirmado. Por ora, como não há estoque no Brasil, todos os produtos da AliExpress no país vêm do exterior.
"Vimos um crescimento tremendo das vendas no Brasil no último ano", diz o executivo sobre as vendas da AliExpress. "Muita inovação vem do Brasil hoje e decidimos começar com o Dia do Solteiro no país neste ano para estar na vanguarda nesse mercado importante na América Latina."
A AliExpress tenta levar o costume de compras no 11 de novembro ao resto do mundo, à medida em que também busca engrenar sua expansão internacional -- neste ano, a empresa abriu sua primeira loja física em Madri, na Espanha.
André Dias, diretor-executivo da empresa de inteligência de comércio eletrônico Compre&Confie, afirma que as empresas chinesas no Brasil ainda estão muito focadas no formato de cross-border (ou "cruza fronteiras"), com os produtos vindos do exterior e sem centro de distribuição no Brasil.
Assim, os prazos de entrega são maiores, podendo passar de um mês até que o produto chegue da China, e as compras estão concentradas em produtos mais baratos, como acessórios de celular. "Por conta desse modelo, emplacar uma nova data no calendário de compras brasileiro torna-se mais complicado por enquanto", diz. "A proximidade com a Black Friday também pode atrapalhar e impedir as varejistas brasileiras a se engajarem no evento."
As vendas cross-border movimentaram no comércio eletrônico brasileiro 10 bilhões de dólares em 2018, o equivalente a 22% de todo o e-commerce no Brasil, segundo estudo da consultoria de inteligência de marketing Americas Market Intelligence. A AliExpress é a terceira plataforma mais usada pelos brasileiros para compras no exterior, segundo estudo do Ebanx.Dentre os entrevistados, 23,9% compraram naAliExpress ao menos uma vez nos últimos 12 meses.
A dimensão do Dia do Solteiro no mundo fica ainda mais significativa se comparada às vendas do varejo brasileiro. Nos primeiros nove meses de 2019, as vendas do Magazine Luiza, por exemplo, foram de 3,3 bilhões de dólares (ou 13,7 bilhões de reais), incluindo as lojas físicas. O Mercado Livre, maior varejista online da América Latina, vendeu até setembro 10,1 bilhões de dólares em todos os oito países em que opera, sobretudo Brasil e Argentina.
A B2W, dona de Americanas.com e Submarino, teve vendas de 2,4 bilhões de dólares até setembro (ou 9,9 bilhões de reais). A empresa vem desde março fazendo parcerias para venda de produtos chineses em seu site, e também está participando do Dia do Solteiro, com cupons de 10 a 50 reais na página da Americanas.com. A categoria de produtos vindos de fora representa 6,7 milhões de itens, segundo dados de setembro.
Já na Black Friday, a Compre&Confie estima que a data gerará no comércio eletrônico brasileiro cerca de 3,3 bilhões de reais em vendas, com 5,5 milhões de pedidos.
Assim, o Dia do Solteiro ainda engatinha no Brasil. Mas, se chegar a uma fatia do que é na China, já terá levado o varejo online brasileiro a outro patamar.