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Os desafios da Jaguar Land Rover no Brasil

Quando a companhia anunciou sua fábrica, em 2014, o cenário era mais otimista. Agora, o mercado automotivo vive uma de suas piores crises

Discovery: é montado na fábrica da empresa no Brasil, que custou R$ 750 milhões (Divulgação)

Karin Salomão

Publicado em 14 de novembro de 2016 às 14h13.

São Paulo – Apesar de sinais de melhora na economia, a situação ainda está difícil para o mercado automotivo. Mesmo montadoras premium ou de luxo, que inicialmente sofreram menos com a crise, estão enfrentando dificuldades no Brasil.

É o caso da Jaguar Land Rover , que inaugurou recentemente sua fábrica em Itatiaia, no sul fluminense. O investimento na primeira fábrica fora do Reino Unido da montadora foi de R$ 750 milhões.

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Quando a companhia anunciou o investimento e começou a fabricação da planta, em 2014, o cenário era outro, mais otimista. Agora, o mercado automotivo vive uma de suas piores crises, com queda de 24% em 2015 e de 22,4% no acumulado do ano em 2016.

A fábrica tem capacidade de produzir cerca de 24.000 veículos por ano. No entanto, por causa do cenário ainda difícil, “estamos produzindo uma fração desse número e estamos longe de atingir o máximo”, disse Dimitry Kolchanov, diretor de mercados estrangeiros da Jaguar Land Rover, em entrevista a Exame.com.

A longo prazo, no entanto, o diretor está otimista. “Investimos pesadamente na fábrica aqui no Brasil e acreditamos que o mercado irá crescer novamente”, disse.

Segundo Kolchanov, o segmento premium no Brasil ainda é muito incipiente em comparação a mercados mais desenvolvidos. Enquanto nos Estados Unidos e Europa, por exemplo, os carros premium correspondem a 10% das vendas, enquanto por aqui a porcentagem é de 2,5%.

Dos 2 milhões de carros vendidos no Brasil, apenas 50.000 estão nesse segmento. A Jaguar Land Rover lidera no mercado SUVs premium: um em cada três carros vendidos nesse segmento é da montadora.

“Por isso, acreditamos que as oportunidades que criamos com esse investimento na fábrica ainda são bastante boas”, afirmou o diretor.

Fornecedores

O mercado desaquecido não é o único desafio da empresa inglesa. Ao mesmo tempo em que construía a sua fábrica, a montadora precisou desenvolver a sua rede de fornecedores.

O volume de peças necessárias é menor do que no caso de uma montadora de massa. Por outro lado, os requerimentos de qualidade são bem mais altos, afirmou Kolchanov.

“Por isso, o trabalho de encontrar fornecedores locais é muito maior e mais difícil”, disse ele. A montadora busca continuamente novos parceiros que possam atender aos seus padrões, essenciais para carros de qualidade – e preço – superior.

Treinamento

Outro ponto que exige atenção extra ao se tratar de uma montadora premium são os funcionários. Cada pessoa, e em todos os escalões, recebe treinamento no centro que a empresa tem em São Paulo. Para atingir o nível máximo, o colaborador pode passar por anos de treinamento específico.

Antes de começar essa árdua tarefa, porém, há outro desafio. Encontrar as pessoas certas para trabalhar na companhia. “De nada adianta nos esforçarmos para treinar a equipe se não temos as pessoas certas, conectadas emocionalmente com a marca”, disse Kolchanov.

Concessionárias

Hoje, a Jaguar Land Rover tem 35 concessionárias no Brasil e planeja se expandir para o Nordeste e Centro-Oeste. Porém, para conseguir alcançar novos mercados, a empresa “depende do aquecimento da economia”, afirmou Kolchanov.

Para ele, o país ainda tem muito potencial para crescer, mas “o problema do mercado brasileiro não irá desaparecer em um futuro próximo”.

Por isso, para impulsionar as vendas nas concessionárias que já existem, a montadora está reformando suas lojas, para terem um design mais limpo e moderno, afirmou o diretor. Cerca de 30% das lojas já passaram por essa mudança.

Jovens e tecnologia

Não é só no curto prazo que a companhia enfrenta desafios. O futuro também pode ser bem nebuloso.

Para muitas montadoras, tem sido um desafio vender carros para as gerações mais jovens. Alguns preferem usar meios de transporte compartilhados, por meio de serviços como Uber, Cabify ou outros, ao invés de ter um carro de luxo na garagem, o que pode minar as vendas das montadoras.

O diretor de mercados estrangeiros acredita que a Jaguar Land Rover ainda tem uma vantagem sobre a concorrência nesse aspecto. “Somos uma marca com apelo emocional muito forte”, disse. “Nem todas as pessoas vão querer possuir um automóvel e podem alugar um só por alguns dias. Mas elas irão escolher pela marca mais cativante.”

Além disso, “para muitos jovens é mais interessante ter um gadget do que um carro. Por isso, estamos deixando os nossos modelos mais atraentes do ponto de vista tecnológico. O Discovery será plenamente conectado, você poderá alterar a configuração dos bancos e espelhos pelo celular, por exemplo”, afirmou ele.

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