O bilionário foi impactado no começo de janeiro por denúncias de fraudes contábeis e manipulação de ações (Manoj Verma/Hindustan Times via/Getty Images)
Repórter de Negócios
Publicado em 27 de dezembro de 2023 às 08h10.
Última atualização em 27 de dezembro de 2023 às 08h39.
O ano de 2023 mal tinha começado quando Guatam Adani viu o grupo que criou em meio a denúncias que abalaram os negócios da família e os números da sua fortuna pessoal. O bilionário é dono do Grupo Adani, um conglomerado indiano com atuação em áreas como transporte, energia, logística e desenvolvimento de infraestrutura.
A trajetória de crescimento rápido no grupo nos últimos anos fez com que Adani, um empresário que criou um império a partir do zero, ocupasse a posição de segunda pessoa mais rica do mundo.
O bilionário foi impactado no começo de janeiro por denúncias de fraudes contábeis e manipulação de ações, apresentadas em relatório pela Hindenburg Research, empresa americana de “short seller”, como são conhecidos os investidores que apostam na queda dos ativos.
Em poucos dias, as ações das empresas do grupo listadas na bolsa de Mumbai, na Índia, caíram em ritmo acelerado e tiveram desvalorização na casa de dezenas de bilhões de dólares, com a fuga dos investidores. Ao mesmo tempo, a fortuna do bilionário retrocedeu em mais de US$ 60 bilhões.
As declarações e comunicado da empresa negando as acusações pouco adiantaram.
Passados alguns meses do imbróglio, o cenário tem ganhado uma nova roupagem e o chairman do Grupo Adani tem caminhado de volta ao ranking de pessoas mais ricas do mundo.
Atualmente, ocupa a 15ª colocação, com uma fortuna estimada em US$ 83 bilhões, segundo o índice de bilionários da Bloomberg. Mesmo assim, ainda acumula US$ 33 bilhões em perdas na comparação com o início deste ano.
O novo momento do bilionário é resultado de algumas conquistas que o conglomerado teve a partir de novembro.
Logo que as acusações foram publicadas, o Supremo Tribunal da Índia instruiu o regulador do mercado de ações da Índia, o correspondente à CVM no Brasil, a conduzir uma investigação sobre as práticas do grupo Adani.
Em meados de novembro, foram encerradas as audiências e declarações do presidente da corte indiana fizeram muitos investidores voltarem os olhos às empresas.
O magistrado disse que as acusações da Hindenburg não poderiam ser consideradas “críveis” nem as reportagens de veículos de comunicação poderiam ser tida como “verdade do evangelho”. O caso ainda deve ir para julgamento.
Mas o que animou mesmo os investidores foi a declaração de um executivo da International Development Finance Corporation (DFC). Segundo reportagem da Bloomberg, a agência governamental americana afirmou que no início de dezembro que as denúncias não eram relevantes
Ainda em novembro, a DFC tinha assinado um financiamento de US$ 553 milhões para o projeto de terminal portuário de Colombo, no Sri Lanka. O empreendimento será feito por um consórcio formado pela Adani Ports and SEZ (APSEZ), o conglomerado John Keells Holdings, do Sri Lanka, e pela Autoridade Portuária do Sri Lanka.
Há ainda um fator político que os analistas relacionam aos negócios de Adani e que ganhou certa relevância neste momento. O empresário é visto como alguém próximo ao primeiro-ministro indiano Narendra Modi.
A vitória do partido de Modi em três dos estados em que concorreu em novembro pode indicar apoio ao terceiro mandato ao governante, a 10 anos no poder, nas eleições do ano que vem.
O resultado beneficiaria o Grupo Adani, diante da política de grandes obras tocada pelo atual primeiro-ministro. Pelo menos, essa foi a leitura feita pelos investidores, ao comprarem ações das empresas.
Hoje com 61 anos, Adani começou a sua trajetória como negociador de diamantes em Mumbai, após abandonar a faculdade. De volta ao estado natal de Gujarat, ele entrou para o setor de comércio exterior trabalhando com importação de PVC para a empresa de plástico do seu irmão.
Em 1988, criou a sua primeira companhia, a Adani Enterprises, a mais importante até hoje em termos financeiros e responsável pelo avanço do grupo como um conglomerado. Avaliado atualmente em US$ 39,8 bilhões de dólares, o negócio foi fundado para atuar com importação e exportação de commodities.
No começo de 2022, Gautam Adani se tornou o primeiro homem asiático a alcançar o pódio no índice da Bloomberg
Os investimentos do magnata vão desde minas de carvão a portos, aeroportos e usinas de energia - estas últimas numa tentativa mais recente de se tornar um produtor massivo de energias renováveis.
Nos últimos dias, inclusive, Adani Green Energy entrou no centro das atenções. A companhia revelou planos de captar US$ 2 bilhões com a emissão de dívidas, movimento ainda em análise pelo conselho de administração. Há ainda a expectativa de que o bilionário e a sua família aportem US$ 1 bilhão no negócio.
Todas as companhias fundadas por Adani são listadas em Bolsa e o bilionário detém boa parte das ações de cada uma delas. Nas empresas Adani Enterprises, Adani Power e Adani Transmission, por exemplo, concentra 75% de participação. Também possui mais da metade das ações da Adani Ports & Special Economic Zone e da Adani Green Energy e 37% das ações da Adani Total Gas.
Além disso, ele é o dono do maior porto comercial da Índia e de uma das maiores minas de carvão do país. Outro ativo importante é o aeroporto de Mumbai, o principal da nação asiática. Ele detém 75% de participação.
O empresário entrou para a lista de bilionários em 2008, 20 anos após a criação da empresa que se transformaria em um conglomerado.