"Dá para ficar otimista com o pós-pandemia", dizem empresários em fórum
Evolução da covid-19, reformas no Brasil e estímulos no mundo animam executivos no 1º Fórum Digital de Empreendedorismo, Negócios e Transformação Digital
Denyse Godoy
Publicado em 21 de julho de 2020 às 22h32.
Última atualização em 23 de julho de 2020 às 16h22.
O momento é grave e delicado no Brasil por causa da pandemia da infecção respiratória covid-19, que já matou mais de 81 mil cidadãos e paralisou a economia, mas há motivo para otimismo com a recuperação do país. Essa é a opinião dos empresários que participaram do painel “O novo Brasil”, que encerrou no começo da noite desta terça-feira, 21, quase 12 horas de conteúdo no 1º Fórum Digital de Empreendedorismo, Negócios e Transformação Digital, uma parceria da EXAME com o site Money Report.
“Como todo empresário brasileiro, sou sempre otimista”, disse Roberto Sallouti, presidente do banco de investimentos BTG Pactual, do mesmo grupo que controla a EXAME. À parte a positividade nata, porém, Sallouti citou três motivos concretos para estar confiante na retomada: as perspectivas para a evolução do surto do novo coronavírus no país; a agenda de reformas econômicas proposta pelo ministro da Economia, Paulo Guedes; e os estímulos adotados pelos governos em todo o mundo – como o da União Europeia, que aprovou nesta terça-feira, 21, um pacote de ajuda aos países do bloco de 750 bilhões de euros.
Os relatos dos cientistas de que a infecção está se desacelerando no Brasil e de que uma vacina pode estar disponível para a população antes do que se imaginava são, para Sallouti, animadores. “Em abril, achávamos que o Produto Interno Bruto poderia encolher 11% neste ano. Agora, vemos uma queda de 4,5%”, disse o executivo no painel. Em sua opinião, a volta das reformas estruturais à pauta do país e a restauração da austeridade fiscal em 2021 devem garantir que o Brasil cresça “por um bom tempo” sem inflação.
“O Brasil evoluiu muito. A situação fiscal requer atenção, mas pelo menos essas questões estão sendo discutidas. O país está se perguntando onde o Estado precisa estar ou não”, disse Sallouti. “A reforma tributária [entregue hoje ao Congresso por Guedes] vai ser como todo mundo imaginava? Provavelmente não, mas pelo menos estamos caminhando e falando do que precisa ser falado."
Da mesma maneira que muitas empresas brasileiras, o BTG Pactual teve na pandemia um catalisador para algumas das estratégias adotadas nos últimos meses. “Aceleramos os investimentos em tecnologia, a ampliação do portfólio de produtos, e começamos a oferecer crédito para pequenas e médias empresas”, afirmou Salloutti.
Também no ramo financeiro, a fintech capixaba PicPay, controlada pela J&F Investimentos, viu a covid-19 concretizar as expectativas de digitalização do consumidor brasileiro que alimentava desde a sua criação, em 2012. “No começo, os fundadores enxergaram que em algum momento a quantidade de pessoas usando smartphones como ferramenta para acessar serviços financeiros ia crescer. É um empoderamento do consumidor. A pandemia acabou acelerando essa curva dos dois lados, tanto do cliente quanto do comerciante, que precisou digitalizar seu negócio. Neste momento, muitas oportunidades surgem”, disse, no painel, Gueitiro Genso, presidente do PicPay.
Para Genso, as empresas que sobreviverão à atual crise global são as que têm mentalidade de compartilhamento. “Ninguém neste novo mundo vai conseguir ser bom em tudo sozinho. As parcerias trazem vantagens para todo o ecossistema”, afirmou.
Essas são tendências em que a Raia Drogasil, maior rede de farmácias do país, com cerca de 2.200 lojas, vem apostando desde antes da crise. A companhia vinha centrando sua estratégia em aumentar a digitalização da sua operação, com as vendas online, e a integração com o sistema de saúde.
Um país “menos complicado” seria muito mais promissor, na opinião de Antônio Carlos Pipponzi, presidente do conselho de administração da Raia Drogasil. “O Brasil se colocou em uma crise de credibilidade com tantas colocações malfeitas do nosso presidente, incluindo hoje a Amazônia, e com a forma de gestão da saúde. Isso tem que acabar”, disse.
Para a Unisys, multinacional americana de serviços de tecnologia da informação, a crise foi um chacoalhão para o mundo corporativo em diversos aspectos. “Muitas empresas aceleraram uma transformação digital que estava desenhada, outras tiveram que tomar medidas que não estavam nem planejadas”, disse Mauricio Cataneo, presidente da Unisys no Brasil. “As companhias não podem simplesmente transportar para o digital a experiência física que oferecem para o cliente, precisam redesenhar totalmente.”
A Unisys também está otimista com o país. “Para reconstruir o Brasil, precisamos recuperar o que o país tem de melhor, que é a resiliência e a vontade de realizar. Mas sou otimista e esperançoso, arregaço as mangas e vou trabalhar todos os dias querendo ser melhor hoje do que ontem”, disse Cataneo. “Com um pouquinho de sorte e juízo agora as coisas vão acontecer.”
Para Sallouti, é essencial que o país melhore a sua imagem a fim de atrair investidores. Nesse esforço, a EXAME, que foi comprada pelos sócios do BTG em dezembro, pode ajudar muito, celebrando o capitalismo e o empreendedorismo do país. “Todos nós empresários vamos errar. Os erros acontecem e a gente aprende. Se pudermos ter um veículo onde celebrar as conquistas, aprender com os erros e passar esse conhecimento e inspira as pessoas a empreender, acho ótimo. Vamos ver o copo meio cheio e seguir gerando emprego, crescimento e renda para a população deste país.”