Até que ponto comprar a Comgás seria bom para a Cosan?
Cosan teria um aumento de margem, mas perderia foco no negócio, aponta analista
Tatiana Vaz
Publicado em 12 de abril de 2012 às 15h39.
Última atualização em 18 de abril de 2018 às 10h38.
São Paulo — Depois de a Cosan ter confirmado hoje, em comunicado, que tem mantido conversas preliminares para a compra da Comgás – informação antecipada pela Revista EXAME – paira no ar uma dúvida no mercado: até que ponto o negócio seria benéfico para a Cosan?
Com uma possível compra da Comgás, a Cosan atuaria em toda a cadeia de seu negócio, com sua operação de açúcar e álcool, combustível, distribuição e postos de gasolina – negócios ainda mais alancados depois da criação da Raízen, com a Shell, em fevereiro do ano passado.
Entrar na área de gás faria com que a Cosan entrasse em outro segmento complementar ao seu negócio principal, sem contar que a empresa pagaria estimados 2,5 bilhões de reais, por uma empresa que vale o dobro atualmente. A Shell também já possui participação de 6,3 do capital da companhia.
“A margem da Comgás também é maior do que a do Cosan hoje, o que significaria uma melhora de geração de caixa operacional da companhia a longo prazo”, afirma Erick Scott, analista da corretora SLW. Enquanto a margem ebitda da Comgás historicamente gira em acima de 20%, a da Cosan no último trimestre ficou em 7,8%.
Por outro lado, para investir em mais uma diversificação de negócio agora, a Cosan aumentaria sua dívida líquida, hoje em 2,6 bilhões de reais, para ter resultados daqui a cerca de três anos. Sem esquecer que a Cosan fez uma aquisição recente, no final de fevereiro, de 5,67% em ações da América Latina Logística (ALL) por 896,5 milhões de reais.
“A empresa está alavancada e sempre foi ousada em sua maneira de atuar. Mas diversificar suas operações pode deixar a Cosan afastada demais do que ela sabe fazer melhor, que é atuar no setor de açúcar e álcool”, diz Scott.
Negociação em Londres
Segundo a nota da Revista EXAME, no início de abril, o presidente da Cosan, Marcos Lutz, esteve na sede do Grupo British Gás (BG), em Londres, para negociar detalhes do acordo. O acionista controlador da Comgás é a Integral Investments, ligado ao BG Group, que possui 71,9% do capital da companhia, ao passo que a Shell detém 6,34%.
A Cosan afirma que, até o momento, não firmou um documento que vincule o interesse das partes. Procurada, também não forneceu mais informações sobre a negociação.
A Raízen, joint venture entre Cosan e Shell, é uma das maiores produtoras de etanol no país, com a produção de mais de 2,2 bilhões de litros de etanol por ano para o mercado interno e externo. Os negócios não param por ai. A empresa produz também 4 milhões de toneladas de açúcar e energia elétrica a partir do bagaço da cana. Possui cerca de 4500 postos de serviço para distribuição de combustíveis pelo Brasil, tem 53 terminais de distribuição e está presente em 54 aeroportos no negócio de combustíveis de aviação.