COP 27: 14 empresas de alimentos apresentam plano para acabar com o desmatamento
O compromisso, que envolve companhias brasileiras, tem o desafio de atingir também a cadeia de fornecedores dessas grandes organizações
Da Redação
Publicado em 7 de novembro de 2022 às 17h57.
Última atualização em 9 de novembro de 2022 às 16h41.
Um compromisso firmado na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2021, a COP26, que aconteceu na Escócia, ganha novos contornos neste ano de 2022.Durante a COP27, em andamento no Egito entre 6 e 18 de novembro, 14 grandes empresas de alimentos do mundo apresentaram um “roadmap” compartilhado sobre como trabalharão para reduzir as emissões a partir da mudança do uso da terra em suas operações.
O documento é fruto do encontro dos CEOs dessas empresas globais realizado no ano passado. Batizado de “ Roteiro do Setor Agrícola 1,5°C ”, o roadmap traz três pilares para redução das emissões a partir da mudança do uso da terra:
- Acelerar a ação da cadeia de fornecedores para reduzir as emissões a partir da mudança do uso da terra: é de responsabilidade das empresas signatárias estruturar planos transparentes de ações para acabar com a perda florestal e converter fornecedores, reportando anualmente seu progresso nesse sentido de forma pública;
- Impulsionar a transformação de commodities: as empresas vão investir em iniciativas para transformar as práticas de uso da terra, incentivando seu uso de forma sustentável;
- Apoiar uma transformação positiva do setor de florestas: por meio de diálogos e colaboração com governos e outros atores da cadeia de valor e setor financeiro as empresas integrarão melhores práticas e alinharão responsabilidades para entregar impactos positivos em relação às florestas.
De forma ainda mais prática, o roadmap estabelece metas fracionadas. Em novembro de 2022, na COP 27, foi firmado o compromisso de estabelecer metas baseadas na ciência de redução das emissões, incluindo mudanças no uso da terra.Para a COP28, em 2023, as companhias se comprometeram em reportar seus progressos nesse sentido e o objetivo é que, em dezembro de 2025, os objetivos para o desmatamento tenham sido atingidos em relação à criação de gado e culturas de palma e soja.
Pecuária sustentável
A transição para a pecuária sustentável e a redução do desmatamento exigem uma transformação nos mercados interno e de exportação, diz o roadmap, algo que pode ser alcançado por meio de ações corporativas fortalecidas alinhadas com políticas governamentais de apoio.
As empresas do setor pecuário que participam do “Roteiro do Setor Agrícola 1,5°C” dizem apoiar a necessidade de avançar o mais rápido possível para acabar comdesmatamento em todos os biomas brasileiros.
Nesse sentido, e para acelerar o fim de todo o desmatamento de suas cadeias produtivas, em 2023, as empresas do setor de pecuária envolvidas no “Roteiro do Setor Agrícola 1,5°C” vão priorizar esforços em parceria com os setores público e privado para desenvolver incentivos e apoio técnico para produtores de gado emelhorar os sistemas de monitoramento.
Um dos pilares prevê como o setor irá envolver os governos federal e estaduais para fortalecer um ambiente propício para um planejamento sustentável do ambiente, incluindo os pequenos produtores. O trabalho com os governos estaduais incluirá a integração de sistemas de rastreabilidade e, junto ao governo federal, o comando e mecanismos de controle.
Com isso, as metas estabelecidas são as seguintes:
- Para Amazônia: prazo de 2023 para o fim do desmatamento legal e ilegal para fornecedores diretos e 2025 para fornecedores indiretos;
- Cerrado: prazo de 2025 para acabar com o desmatamento ilegal por fornecedores diretos e indiretos;
- Outros biomas do Brasil: as datas-alvo ainda serão definidas, dependendo do desenvolvimento dos sistemas de monitoramento necessários.
Cultivo de óleo de palma
Entre as empresas signatárias do “Roteiro do Setor Agrícola 1,5°C” que atuam com a produção de óleo de palma a perda florestal dentro de suas concessões é praticamente zero, garante o documento. No entanto, a transformação da cadeia ainda precisa acontecer, e os líderes no setor têm um papel crítico em atuar com pequenos produtores, usinas autônomas e empresas menores.
Na Malásia, por exemplo, desde 2020 mais de 96% das maiores plantações de óleo de palma já foram certificadas, enquanto nas propriedades independentes de pequenos proprietários o índice cai para pouco menos de 40%.
Nesse sentido, as grandes empresas envolvidas se comprometem a estabelecer metas importantes para suas cadeias de fornecedores. A meta é concretizar os avanços até 2025.
Cultivo de soja
O “Roteiro do Setor Agrícola 1,5°C” estabelece uma estrutura para lidar com o desmatamento causado pelo setor e define como meta o fim dessa prática até 2025 para as produções de soja na Amazônia, Cerrado e Chaco, protegendo também os ecossistemas não florestais em conformidade com a legislação local pertinente.
Para se ter ideia do tamanho do desafio, entre 2013 e 2021, com base nos dados da Agrosatélite, um total de 114 milhões de toneladas de CO2 foram emitidas pelodesmatamento da vegetação nativa no bioma Cerrado em função do cultivo da soja. A implementação do roadmap proposto tem potencial para evitar 75% dessas emissões.
Ao longo do último ano, a Tropical Forest Alliance (FTA), com apoio do World Business Council for Sustainable Development, contribuiu para que as grandes empresas de comércio e processamento agrícola do mundo pudessem desenvolver o“Roteiro do Setor Agrícola 1,5°C”. Estão comprometidas com o roadmap asseguintes empresas: ADM, Amaggi, Bunge, Cargill, COFCO International, Golden Agri-Resources, JBS, Louis Dreyfus Company, Marfrig, Musim Mas, Olam International, Olam Food Ingredients (OFI), Viterra e Wilmar International.