Como uma startup mapeou a crise no Rio Grande do Sul e identificou 440 mil imóveis afetados em POA
No mercado desde 2022, startup Place oferece uma plataforma de dados sobre imóveis e terrenos no país
Repórter de Negócios
Publicado em 28 de junho de 2024 às 08h23.
Última atualização em 28 de junho de 2024 às 10h03.
Quando as ações começaram a avançar pelas ruas de Porto Alegre, a startup Place colocou de pé uma plataforma para reunir informações e simular o que estava por vir, indicando quais áreas poderiam ser afetadas pelas enchentes que tomaram o estado.
"Nós decidimos criar uma versão da nossa ferramenta para trazer informação sobre as enchentes. Começando, por exemplo, com simulação das cheias para as pessoas saberem até onde a água poderia chegar", afirma Flávia Tissot, uma das fundadoras e COO da Place.
"Também nos juntamos ao pessoal do SOSRS, da organização dos abrigos, para fazer a geolocalização dos espaços e apresentar informações sobre necessidade de doações e número de vagas", diz. No pico das enchentes, a plataforma da startup multiplicou por três o número de acessos, saindo de 4.000 por mês para 4.000 por semana.
Com poucos anos de vida, a Place nasceu dentro do Grupo Ospa, ecossistema de negócios com foco no desenvolvimento urbano e imobiliário. O spin-off aconteceu em 2022, quando a startup passou a oferecer os seus serviços para incorporadoras e empresas da construção civil, especialmente para São Paulo.
Basicamente, a tecnologia da startup procura tirar todos os dados antes guardados em planilhas de Excel e transportá-los para um universo mais digital e intuitivo.
Essas informações viram ativos importantes para a tomada de decisões imobiliárias. A cada clique para estudos de viabilidade de um terreno ou imóvel, o usuário tem acesso a dados diversos. Preço, tamanho, área de preservação, topografia, opções de mobilidade e regras de zoneamento estão na lista de dados. E ainda dados financeiros e potencial de ganhos com investimentos. Para chegar ao modelo, a Place utiliza bebe de uma série de banco de dados.
Do mercado imobiliário, a startup começou a ser requerida por outros setores, como prefeituras e varejistas. Os primeiros buscam a solução para disponibilizar a moradores, interessados em saber como construir, limites de uso de terreno e ainda encontrar espaços para empreender. Os segundos querem identificar características como tráfego e eventuais concorrentes em determinadas áreas.
A visibilidade na crise
No caso de Porto Alegre, a startup tinha desenvolvido um projeto recente, em parceria com a consultoria EY, a Ernst Young. Na hora de levantar os dados, muitos deles já estavam catalogados.
A partir de informações do IBGE e da GESPLA (Grupo de Gestão e Planejamento de Recursos Hídricos da UFRG), a empresa mapeou cerca de 440.000 mil imóveis foram afetados pelas enchentes na capital gaúcha - 437.217 domicílios particulares, 441 domicílios coletivos, 910 estabelecimentos de ensino e 885 voltado à saúde.
"Essa informação ajudou o pessoal que não é de Porto Alegre, não é do Rio Grande do Sul, a ter uma dimensão do tamanho do buraco em que estávamos, digamos assim", afirma Tissot. "Antes dessa questão de satélite, nós também colocamos como era a cidade antes e depois da cheia para as pessoas compartilharem a informação".
Passado o momento mais dramático, a startup está engajada em outra iniciativa. O Instituto Cidades Responsivas, também do Grupo Ospa, e a Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Sedur) do estado estão recrutando voluntários, entre arquitetos, urbanistas e engenheiros, que possam ir a determinados endereços e analisar os imóveis para que se tenha uma estimativa realista dos prejuízos.
Os dados serão registrados nos mapas dinâmicos e interativos da Place e integrarão estudos estatísticos. Atualmente, o estado gaúcho calcula os prejuízos em R$ 200 bilhões."Hoje,muitas prefeituras estão olhando para essa possibilidade de usar o nosso sistema pra monitoramento das informações e prevenção", diz.
Negócios em Luta
A série de reportagensNegócios em Lutaé uma iniciativa da EXAME para dar visibilidade ao empreendedorismo do Rio Grande do Sul num dos momentos mais desafiadores na história do estado. Cerca de 700 mil micro e pequenas empresas gaúchas foram impactadas pelas enchentes que assolaram o estado no mês de maio.
São negócios de todos os setores que, de um dia para o outro, viram a água das chuvas inundar projetos de uma vida inteira. As cheias atingiram 80% da atividade econômica do estado, de acordo com estimativa da Fiergs, a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul.
Os textos doNegócios em Lutamostram como os negócios gaúchos foram impactados pela enchente histórica e, mais do que isso, de que forma eles serão uma força vital na reconstrução do Rio Grande do Sul daqui para frente. Tem uma história? Mande paranegociosemluta@exame.com.