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Como um paraíso de US$ 3,5 bilhões entrou em colapso

O maior resort do Caribe, com um custo de US$ 3,5 bilhões, ninguém está se divertindo junto à piscina e as máquinas caça-níqueis do cassino estão em silêncio


	Bahamas: essa história vai muito além das praias de areia branca e atravessa fusos horários até chegar ao Conselho de Estado da China
 (Divulgação Baha Mar/ Facebook)

Bahamas: essa história vai muito além das praias de areia branca e atravessa fusos horários até chegar ao Conselho de Estado da China (Divulgação Baha Mar/ Facebook)

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Da Redação

Publicado em 5 de janeiro de 2016 às 07h32.

Além das águas tropicais, atravessando a faixa de areia repleta de palmeiras e por trás de portões trancados, surge o Baha Mar -- o maior resort do Caribe e, com um custo de US$ 3,5 bilhões, também o mais caro.

Neste lugar ninguém está se divertindo junto à piscina, com uma piña colada nas mãos, ou jogando no campo de golfe Jack Nicklaus. No cassino, as máquinas caça-níqueis estão em silêncio.

O Flamingo Bar, a Brasserie des Arts e a butique da Cartier estão às escuras. Nesta clara manhã de outubro nas Bahamas, todos os 2.200 quartos do hotel estão vazios.

O silêncio é quase assustador aqui nos arredores de Nassau, onde a luxuosa vista para o mar da vizinha ilha Paradise dá lugar ao vasto resort fantasma que é Baha Mar.

Os fatos que levaram esse lugar a acabar assim -- em uma falência tão colossal que ameaça a classificação de crédito das Bahamas -- compõem a maior crise comercial que já atingiu o país caribenho desde que se tem memória por aqui.

Essa história vai muito além das praias de areia branca e atravessa fusos horários até chegar ao Conselho de Estado da China.

‘Os chefes do pedaço’

Acontece que mesmo no paraíso as aspirações locais podem colidir com as ambições globais da China. O Baha Mar pode ter sido sonhado como o melhor lugar para passar férias nas Bahamas, mas o governo central, em Pequim, controla o banco de desenvolvimento e a gigante da construção que determinarão seu destino.

E a China, segundo alguns moradores das Bahamas, está jogando duro à medida que suas empresas estatais projetam dinheiro e influência ao redor do mundo, inclusive nesta pequena ilha a 290 quilômetros da costa de Miami.

“Eles dizem ‘somos os chefes do pedaço, temos o dinheiro -- por isso você fará o que nós dissermos’”, diz Dionisio D’Aguilar, um destacado homem de negócios e ex-diretor da Baha Mar Ltd.

Para entender a situação da ilha é preciso voltar mais de uma década no tempo, até 2005, quando o primeiro-ministro Perry Christie, fechou negócio com um homem de negócios local chamado Sarkis Izmirlian para ajudar a revitalizar Cable Beach, o destino de praia mais popular da ilha de Nova Providência.

E então veio a crise financeira de 2008 e os candidatos a sócio recuaram. Quando a China State Construction Engineering Corp., a segunda maior empreiteira do mundo, abordou Izmirlian para entrar no negócio, ele disse sim. A empresa o encaminhou ao Export-Import Bank of China, ou Exim, que promove trocas comerciais e investimentos com o aval de Pequim.

Vendo um caminho para os mercados americanos, a China State Construction prontamente investiu US$ 150 milhões. A Exim injetou US$ 2,45 bilhões em empréstimos para construção -- com a condição de que Izmirlian jamais poderia demitir a construtora chinesa, sob nenhuma hipótese, e que operários da China fariam o trabalho.

Cheio de dinheiro chinês, Izmirlian declarou que quatro hotéis Baha Mar abririam até 2014.

Tudo isso foi documentado em arquivos judiciais e apoiado por entrevistas com Christie e outras pessoas nas Bahamas. Os chineses e Izmirlian não aceitaram os pedidos de entrevista.

A seguir vieram discussões infinitas e complicadas pelas barreiras linguísticas -- sobre pagamentos, faturas, mão de obra e mais. Prazos eram estabelecidos e prontamente desrespeitados. Os e-mails iam e vinham de Pequim.

Como a construção se arrastava, Izmirlian e Christie viajaram para Pequim. Lá, funcionários lhes garantiram que o resort estaria pronto para abrir em 27 de março.

Ao voltar, o desenvolvedor contratou 2.070 funcionários para o hotel, montou uma campanha de publicidade global e abasteceu o casino com US$ 4,5 milhões em dinheiro.

Para Izmirlian a relação estava se transformando no grande pesadelo com empreiteiras. Ele estava gastando US$ 4 milhões adicionais por mês para pagar os funcionários de um hotel sem hóspedes.

Preocupado de que a China State Construction pudesse ganhar uma vantagem tática abrindo um processo antes, ele planejou secretamente fazer a empresa dona do Baha Mar declarar falência nos EUA, e não nas Bahamas, cujas leis tornariam a liquidação praticamente inevitável.

Ele nem sequer avisou ao primeiro-ministro por medo de alertar os chineses, diz D’Aguilar, o ex-diretor do resort.

A Baha Mar Ltd. entrou com pedido de falência em Delaware, nos EUA, em 29 de junho -- e tudo veio abaixo. A China State Construction acusou Izmirlian de atrapalhar o projeto com intermináveis mudanças de design.

A disputa se arrastou até setembro, quando um juiz de Delaware rejeitou a falência nos EUA e um juiz das Bahamas colocou síndicos provisórios no comando, tornando o investimento de cerca de US$ 900 milhões de Izmirlian quase nulo.

Christie diz ainda estar otimista de que o resort será aberto. Em dezembro, a Exim disse que uma série de investidores potenciais havia mostrado interesse.

Entre eles está Guo Guangchang, presidente do conselho de um conglomerado chinês não estatal chamado Fosun Group, dizem pessoas informadas sobre a situação. A Fosun já possui participações na Club Méditerranée SA e no Cirque du Soleil Group.

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