Como a Ambev faz garrafas de vidro - e as reúsa até 20 vezes
Conheça a unidade criada pela companhia há dois anos para reciclar as embalagens retornáveis - e se tornar mais sustentável e menos dependente de fornecedores
Tatiana Vaz
Publicado em 26 de setembro de 2016 às 12h28.
São Paulo – Um engradado com garrafas de cervejas vazias era facilmente encontrado nos lares brasileiros anos atrás, quando era comum trocar os cascos em adegas ou supermercados. O hábito parece, aos poucos, estar voltando – ou pelo menos é nisso que aposta a Ambev , dona de algumas das marcas mais consumidas do país, como Skol , Brahma e Antarctica . Há dois anos, a companhia investiu em uma fábrica de vidros, no Rio de Janeiro, para reciclar as embalagens retornáveis. Por meio dela, um único vasilhame é reutilizado até 20 vezes. Conheça o processo de reutilização das garrafas da Ambev por meio das imagens a seguir.
A Ambev Vidros foi construída em 2008 na cidade do Rio de Janeiro, com um aporte de R$ 200 milhões. A unidade funciona em uma área de 2.400.000 metros quadrados e está hoje em fase de expansão. Nela, trabalham mais de 500 dos 32.000 funcionários da companhia no país.
Em média, 65% da matéria-prima usada na fabricação de novas garrafas por toda a empresa provêm de reciclagem. Na Ambev Vidros, seis de cada dez são feitas a partir de outras garrafas. Com o processo, a fabricante calcula que deixa de consumir 75.000 toneladas de material virgem por ano – o equivalente a 300 milhões de garrafa.
Os materiais chegam de adegas, bares, supermercados e outros pontos de vendas, além das cooperativas parceiras e dos pontos de devolução espalhados pelo país. Atualmente, a empresa conta com quatro cooperativas do Rio de Janeiro para o processo de reciclagem na unidade. Elas entregam o material na fábrica e recebem por tonelada coletada.
As garrafas usadas no processo de reúso são as de vidro retornáveis de 600 ml e de 1 litro. A Ambev Vidros fabrica também as minirretornáveis, como são chamadas as garrafinhas de vidro de 300 ml. Além dos vasilhames retornáveis, a unidade também produz embalagens de vidro long neck.
A primeira etapa pela qual passam os cacos de vidro quando chegam na fábrica é chamada de mistura. Trata-se da limpeza do material, com a retirada de resíduos metálicos com a ajuda de um imã e a uniformização da granulometria dos vidros, por meio de um britador. Depois dela, os cacos estão prontos para seguir para o forno de fusão, onde a matéria-prima sólida será transformada em um líquido, chamado de gota. O forno é capaz de derreter até 750 toneladas de matéria-prima por dia.
O processo de fusão dos cacos de vasilhames reutilizados requer menos energia do que a fusão do material virgem – a Ambev estima uma economia de 35% com a forma alternativa, além da redução na quantidade de embalagens descartadas. Há ainda uma menor quantidade de gás carbônico gerado na produção. Isso porque, com o uso do biogás em vez do gás natural na fabricação, 6.200 toneladas de CO2 deixam de ser lançadas na atmosfera, calcula a empresa.
O vidro líquido (gota) em altíssima temperatura é colocado dentro de moldes. Ainda maleável, ele é cortado e recebe o sopro final para então ganhar o formato final das garrafas.
Tudo é automatizado, até pela elevada temperatura que envolve boa parte do processo. Na imagem, a visão geral da área de transformação do vidro líquido (gota) no formato de garrafa.
Depois de ganhar o formato característico, é hora de as garrafas ganharem a cor âmbar dos vasilhames retornáveis de cerveja que vemos nos bares e supermercados. A coloração é adquirida a partir do uso de corantes, já com o material em temperatura ambiente.
Parecem prontas, mas não estão. Após a moldagem, as garrafas são enfileiradas para entrarem em mais um processo, o de recozimento.
O processo de recozimento das garrafas serve para tirar as tensões dos vidros e torná-los mais resistentes, explica a companhia. A etapa é essencial para as embalagens retornáveis, já que é a resistência que garante o reúso delas por até 20 vezes.
As garrafas seguem para o resfriamento, onde entram em contato com um vapor de água, a garantia de um vidro liso.
Depois de passar pela mistura, fusão, moldagem e recozimento, as garrafas seguem para a inspeção, em uma espécie de raio-x pelo qual uma checagem automatizada ilumina e verifica a qualidade dos vasilhames um a um. Os reprovados voltam todas as casas do processo.
Como nenhuma máquina encontra defeito nas coisas melhor do que os humanos, um funcionário faz a checagem final de algumas amostras, conferindo a espessura do vidro (como na imagem) e todos os outros detalhes.
As garrafas são depois utilizadas para envasar as principais marcas de cerveja da companhia, como Skol, Brahma, Antarctica e Budweiser.
Com a ideia de incentivar nos consumidores o hábito de devolver as garrafas reutilizáveis nos pontos de compra, há dois anos a empresa investiu em máquinas de coletas de retornáveis.
Fabricadas por uma companhia norueguesa, as máquinas estão espalhadas em 800 pontos de vendas nas principais capitais do país, número que deve subir para 1.200 até dezembro.
A ideia é simples: depois de comprar e consumir garrafas de 300 ml ou 1 litro das marcas Brahma, Skol e Antarctica, o consumidor pode levar os vasilhames até uma das máquinas de coleta.
Em troca, ele recebe um tíquete de desconto de R$ 1 para a compra de um outro retornável. Levando em conta que uma garrafa de 300 ml custa cerca de R$ 2,79, a troca pode ser um belo acordo. Com a iniciativa, a empresa opera um negócio mais sustentável, estima a venda de vasilhames que ela mesma fabrica e fica menos dependente de fornecedores de alumínio.
Cada ponto de entrega tem capacidade para receber cerca de 130 garrafas retornáveis de 300 ml. O supermercado que visitamos, no bairro da Liberdade, centro de São Paulo, chega a coletar a média de 5.200 garrafas por mês.
A sinalização dos lugares onde há máquinas de coletas é feita por meio de um banner na entrada da loja e na gôndola onde os produtos da Ambev são vendidos.