Cassio Spina: "Acompanhar notícias, palestras e cursos continuará sendo útil, mas agora isso é apenas o mínimo" (Pin People/Divulgação)
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Publicado em 4 de dezembro de 2025 às 10h29.
Que a Inteligência Artificial está transformando os negócios e as carreiras, ninguém tem dúvida, mas poucos tem a visão da velocidade que isto está ocorrendo.
Um exemplo são as músicas criadas por inteligência artificial: já não são curiosidades de laboratório; elas estão conquistando espaço real nas paradas.
Em novembro de 2025, a faixa “Walk My Walk”, do artista virtual Breaking Rust, alcançou o 1º lugar na parada Country Digital Song Sales da Billboard, somando milhões de streams e aparecendo também entre as faixas mais vendidas no iTunes americano.
Poucos dias antes, a cantora virtual Xania Monet tornou-se o primeiro artista gerado por IA a estrear em uma parada de rádio da Billboard, entrando no ranking Adult R&B Airplay.
Ao mesmo tempo, plataformas como a Deezer revelam que recebem cerca de 50 mil músicas totalmente geradas por IA por dia, o que já representa um terço de todos os novos uploads.
Ou seja: enquanto muita gente ainda está discutindo se a IA vai impactar a música, ela já está vendendo, tocando no rádio, sendo licenciada e disputando atenção com artistas humanos nos mesmos canais.
O caso das músicas de IA que chegam à Billboard é emblemático. Muitas delas nascem de combinações simples: criadores usando modelos generativos de áudio, letras refinadas com modelos de linguagem, testes de centenas de versões até encontrar algo que ressoe com o público.
Não há grandes gravadoras por trás de todas essas iniciativas, mas sim pessoas que decidiram experimentar na prática as novas ferramentas em vez de ficar apenas debatendo sobre elas.
Enquanto compositores tradicionais discutem em mesas-redondas se a IA “vai roubar empregos”, quem está disposto a testar, errar rápido e aprender com a tecnologia começa a furar fila, ocupar espaço e construir audiência. porque participa do experimento em tempo real, em vez de apenas observá-lo de fora.
O mesmo padrão aparece no mundo corporativo. Os anúncios recentes do Itaú e do Banco do Brasil que irão investir R$ 500 milhões em startups por meio de suas estruturas de corporate venture capital é um recado claro de que até grandes bancos entendem que não dá para inovar só “de dentro para fora”.
Mesmo em um cenário de juros elevados, decidiram alocar capital relevante em empresas nascidas na fronteira da inovação. Isso não é filantropia tecnológica: é defesa estratégica. Na prática, o recado implícito é simples: se eu não estiver próximo de quem está criando o futuro, corro o risco de ser ultrapassado por eles.
O próprio Itaú tem sido desafiado pelo Nubank, que surgiu como uma startup de cartão de crédito digital e hoje já ultrapassou o banco tradicional em valor de mercado, além de avançar para o maior mercado financeiro do mundo, os Estados Unidos. O que antes parecia apenas uma “fintech simpática” tornou-se uma empresa de escala global.
O paralelo com a música é direto: as faixas geradas por IA que começam a aparecer nas paradas são para a indústria musical o que Nubank foi – e continua sendo – para o setor bancário: sinais precoces de uma mudança estrutural. Ignorar esses sinais porque ainda são pequenos é exatamente o tipo de erro estratégico que faz incumbentes perderem o jogo no médio prazo.
Do ponto de vista profissional, o impacto é igualmente profundo. As histórias de músicas de IA que ganham relevância e de startups que desafiam gigantes mostram três pontos centrais:
Se as inovações realmente transformadoras – em IA, robótica, energias limpas e novos modelos financeiros – nascem nas bordas do sistema, faz sentido que quem quer se manter relevante vá até estas fronteiras. É exatamente aí que entra o papel de conselheiro/advisor de startups ou investidor-anjo.
Participar do ecossistema de startups nesses papéis coloca executivos e profissionais em uma posição privilegiada por vários motivos:
A pergunta central deixa de ser “o que vai acontecer com a IA, a robótica ou as energias limpas?” e passa a ser: em qual lado dessa transformação você quer estar – no lado de quem observa ou no lado de quem participa?
Acompanhar notícias, palestras e cursos continuará sendo útil, mas agora isso é apenas o mínimo.
O verdadeiro diferencial estará em se colocar deliberadamente dentro do ecossistema em que as rupturas estão nascendo – atuando como conselheiro/advisor de startups, investidor-anjo ou colaborador ativo em projetos de fronteira.
Em um mundo em que músicas de IA sobem nas paradas, bancos digitais vencem instituições tradicionais e novas tecnologias redefinem setores inteiros, ficar só no retrovisor não é mais uma opção neutra: é escolher ser ultrapassado.
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