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O corporate venture capital já movimenta R$ 10 bilhões no Brasil e agora ganha uma nova associação

Nos últimos anos, com uma defasagem global de venture capital e uma redução nos aportes, num período que ficou conhecido como “inverno das startups”, o CVC foi uma alternativa para as startups continuarem a captar cheques

Corporate venture capital: CVCs cresceram 142% em comparação ao ano de 2020 no mundo (CSA Images/Getty Images)

Corporate venture capital: CVCs cresceram 142% em comparação ao ano de 2020 no mundo (CSA Images/Getty Images)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 25 de novembro de 2023 às 09h04.

A relação entre os ecossistemas das startups e das grandes companhias está no cerne do Corporate Venture Capital (CVC). Nessa modalidade de investimento, são as corporações que fazem os aportes de capital nos negócios de inovação, com o objetivo de fechar gargalos que não conseguiam cobrir sozinhas. Ou seja, diferente de um venture capital tradicional, em que gestores de investimentos conduzem os aportes sem ligação ocm as empresas, no CVC, os executivos de grandes empresas interessados em adquirir startups se envolvem com os cheques.

Nos últimos anos, com uma defasagem global de venture capital e uma redução nos aportes, num período que ficou conhecido como “inverno das startups”, o CVC foi uma alternativa para as startups continuarem a captar cheques.

No mundo, os investimentos de CVCs cresceram 142% em comparação ao ano de 2020, batendo o recorde de 169 bilhões de dólares investidos no total, segundo dados do State of CVC, da CB Insights. Aqui no Brasil, os números não são diferentes. Os aportes estão cada vez mais frequentes e a estimativa é que essa linha de investimento já aportou mais de 10 bilhões de reais em startups brasileiras, metade de toda a movimentação da América Latina. 

Quer outra razão para apontar o fortalecimento dos CVCs no Brasil? A modalidade de investimento acaba de ganhar uma associação para chamar de sua. Um grupo de profissionais se uniu para criar a Associação Brasileira de Corporate Venture Capital, a ABCVC.

Até então, a modalidade até tinha representantes, mas em associações que representavam as venture capitals inteiras, como a Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCap).

A nova instituição terá como primeiro presidente Leo Monte, diretor de inovação da Sinqia e diretor geral da Torq. 

“Nosso objetivo para este mandato é impulsionar o ecossistema e apoiar o crescimento da atividade, oferecendo suporte às corporações de diferentes setores em busca de investimentos e inovação", afirma Monte.

Quais serão as primeiras atividades da ABCVC

Entre as principais atividades da associação estarão:

  • Gerar e difundir conhecimentos técnicos relacionados à gestão de inovação e investimentos corporativos em capital de risco
  • Suportar o surgimento e consolidação de novos modelos de inovação corporativa
  • Organizar e promover, periodicamente, eventos para associados ou não associados
  • Fomentar a importância da diversidade em cargos de gestão e de governança corporativa de inovação.

“Temos cinco comitês, com cinco líderes indicados pelos conselhos da comissão”, afirma Monte. “Esses comitês vão tratar do processo de investimento, de governança, de portfólio, de estratégia. Serão encontros, alguns mensais e outros bimestrais, para difundir o mais rápido possível o CVC para mais corporações”. 

Quem já está participando da associação

A ABCVC possui a participação de profissionais como Lícia Souza, fundadora da We Impact, Guga Stocco, Maximiliano Carlomagno, da Innoscience, e Rodrigoh Henriques, diretor de inovação da Fenasbac. 

Além disso, há empresas como

  • Tecban
  • Elo
  • Banco Pátria
  • TozziniFreire
  • MOA Venture Partners
  • We Impact
  • Sinqia
  • Torq
  • Futurum Capital 

Quem é Leo Monte, primeiro presidente da ABCVC

Leo Monte, primeiro presidente da associação, tem o empreendedorismo no DNA. Ele tinha 17 anos quando criou a primeira empresa. Depois passou por uma multinacional de tecnologia e pela Globo, até sair e empreender numa startup, quando esteve “doutro lado do balcão”. 

“Ali participei de todos os processos”, diz. “Desde concepção da ideia à evolução do produto. Participei do processo de captação, toda trajetória do negócio. E vi ela crescendo”. 

Logo depois dessa experiência, abriu uma consultoria para ajudar empresas. O objetivo era ajudar startups que passavam por um processo semelhante ao que o próprio Leo havia passado. 

A trajetória do executivo passou ainda por novas startups e por um período no Vale do Silício, onde participou de fóruns e aprofundou os estudos sobre venture capitals. Numa de suas últimas empreitadas, a Torq, Monte passou por um processo de captação com uma companhia, o que fez com que muitos outros empreendedores o procurassem. 

“Não foram uma nem duas. Foram mais de 30 empresas nos procurando”, diz. “Vimos que isso não é normal. Se existe dificuldade para as pessoas encontrarem captações, entendi que poderíamos fazer, de fato, algo por esse nicho”. 

Foi o início das pensatas que levariam à criação da ABCVC. 

Como o CVC está no Brasil 

O Brasil já passou por quatro ondas de corporate venture capital, uma modalidade de investimento que começou com as indústrias estrangeiras em meados de 1960. “Quando a gente recorta pro Brasil, eu diria que o CVC começou a aquecer os motores em 2021”, afirma. “Muito CVC subiu em 2022, 2023 e vai continuar subindo em 2024”. 

Mas há desafios pela frente. O principal deles é garantir a confiança das companhias de que é uma modalidade de investimento (e de inovação) que gera valor. “A média de um programa de CVC é de 3 anos”, diz. “Precisa ter uma estratégia conectada com a execução, para que não haja falta de confiança na iniciativa”. 

A missão da ABCVC é, também, mostrar que trata-se de uma estratégia de longo prazo. “Se a companhia enxergar a alternativa como despesa, não vai vingar”, diz Monte. “Queremos elevar a barra do conhecimento, fazer com que os CVCs consigam passar pelas crises e se perpetuar”.

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