Cruzeiro: temporada está ameaçada após casos de covid (Costa Cruzeiros/Divulgação)
Mariana Desidério
Publicado em 5 de janeiro de 2022 às 11h45.
Última atualização em 6 de janeiro de 2022 às 10h44.
A indústria de cruzeiros no Brasil está em compasso de espera e corre o risco de interromper a temporada de viagens mais cedo. Todos os cinco navios em circulação no país nesta temporada estão parados desde segunda-feira (3/1), quando a Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos (Clia Brasil) decidiu interromper as viagens após problemas na liberação das embarcações nos pontos de destino, devido ao surgimento de casos de covid-19.
A paralisação — que vai até 21 de janeiro — tem como objetivo alinhar os ponteiros com as autoridades brasileiras sobre os protocolos de segurança das viagens. “O que estava no plano nós seguimos, os protocolos são rígidos. Mas, com a demora das liberações nos destinos, a situação ficou quase impraticável. Não tínhamos mais condições de operar sem sentar com todos e discutir se é possível voltar. Se não for possível, terminamos a temporada, infelizmente”, afirmou Marco Ferraz, presidente da Clia Brasil, em entrevista à EXAME.
A paralisação veio depois que a Anvisa determinou a interrupção das atividades do navio Costa Diadema, que estava atracado em Salvador, no dia 31 de dezembro. A embarcação tinha 3.836 viajantes (entre passageiros e tripulantes), e 68 casos confirmados de covid-19. O navio MSC Splendida também teve viagem suspensa, após identificação de casos de covid-19. Cerca de 2 mil passageiros ficaram esperando por horas pelo desembarque no Porto de Santos (SP).
Com o aumento dos casos de covid-19 nas embarcações, a Anvisa recomendou ao Ministério da Saúde a suspensão da temporada de navios cruzeiros no país. A agência registrou 829 casos de covid-19 em cruzeiros desde o início da temporada, em novembro. Segundo presidente da Clia, 90% deles são assintomáticos, e 10% têm sintomas leves.
“Nenhuma cama de hospital foi ocupada. A gente identificou os casos porque faz testes. Se o navio fosse um país, teria o maior índice de vacinados e de testagem”, afirma Ferraz. O setor considera aumentar o número de testes realizados a bordo. Também estuda formas de agilizar os processos de notificação de ocorrências nos destinos.
O presidente da Clia afirma que os protocolos de segurança e planos de ação foram definidos com antecedência juntamente com ministérios, Anvisa e cidades e estados que estão no roteiro das embarcações. A orientação inicial era isolar os casos de covid identificados na embarcação e desembarcar os doentes no próximo destino. Agora, o setor está realizando novas reuniões com as autoridades.
A temporada tinha 106 viagens de cruzeiro programadas, e já realizou 30% delas. O período de viagens vai até meados de abril. Antes da paralisação, a expectativa era de um impacto de R$ 1,7 bilhão para a economia. Um estudo da Clia em parceria com a FGV estimou que cada navio gera em torno de R$ 350 milhões de impacto para a economia.
A interrupção das viagens vem após uma longa espera para os turistas, já que na temporada de 2020 nenhum cruzeiro foi realizado no Brasil. A temporada atual tem 360 mil passageiros previstos. Em 2019 foram 469 mil turistas, e em 2010 o país chegou a ter 800 mil cruzeiristas.
Apesar da incerteza gerada pela pandemia, o Brasil continua sendo um destino importante para o setor. Atualmente, apenas MSC e Costa Cruzeiros operam cruzeiros no país. “A indústria é muito sólida e resiliente. Já passamos por outras crises, no Brasil tivemos dengue, zyca, H1N1, vamos superar. Queremos não só continuar no Brasil, como ter navio aqui o ano inteiro. O Brasil é um grande destino”, afirma Ferraz.
Para Beto Caputo, CEO da Atrio Hotel Management, o fato de que mesmo na pandemia mais de 300 mil turistas quiseram ir a um cruzeiro mostra a resiliência do segmento no turismo brasileiro. “O setor de cruzeiros foi afetado de forma bem drástica pela pandemia. Apesar disso, no momento que os cruzeiros voltaram, as pessoas voltaram a ter esse desejo. Isso mostra que elas gostaram muito da experiência”, diz.
Parte do interesse vem da dificuldade em viajar para o exterior, devido ao câmbio e às restrições por conta da covid-19. Agora, com a interrupção abrupta das viagens nas embarcações, o setor passa por uma crise de imagem momentânea, mas que não afeta seu desempenho no longo prazo, avalia. “O setor é bastante pujante, acredito que vai crescer mais. Mais cidades estão preparando terminais turísticos, o negócio de cruzeiros no Brasil só tende a crescer”, diz.
Para os turistas que já compraram seus cruzeiros, a Costa Cruzeiros oferece a opção de transformar o valor pago pelo cruzeiro em um voucher de crédito a ser utilizado até 31 de dezembro de 2022 para embarques até 30 de junho de 2023. Também oferece a alternativa de reembolsar o valor pago. No caso de reembolso, a solicitação deve ser feita diretamente à Costa Cruzeiros ou ao agente de viagens. Na MSC, o turista receberá uma carta de crédito para escolher outra viagem a ser feita em 2022 ou poderá ser reembolsado.