Volkswagen: apesar do escândalo, em 2016 a Volkswagen se tornou a marca com o maior volume de vendas de automóveis, ultrapassando a Toyota (Fabian Bimme/Reuters)
AFP
Publicado em 8 de março de 2017 às 16h11.
A Volkswagen está no caminho certo para lidar com o recall de carros envolvidos no escândalo de emissões conhecido como 'dieselgate', mas, em longo prazo, precisa recuperar a confiança dos seus clientes, afirmou o CEO da empresa, Matthias Muller.
Os comentários chegam em um momento em que a União Europeia (UE) e as agências europeias de defesa do consumidor aumentam a pressão para que a Volkswagen indenize integralmente os clientes europeus afetados pelo caso.
O escândalo do dieselgate foi revelado em setembro de 2015, quando a Volkswagen admitiu ter instalado softwares para falsificar os resultados dos testes de emissões em 11 milhões de veículos a diesel em todo o mundo.
O dispositivo reduzia as emissões de óxidos de nitrogênio quando detectava que o veículo estava sendo testado.
Apesar do escândalo, em 2016 a Volkswagen se tornou a marca com o maior volume de vendas de automóveis, ultrapassando a Toyota.
Nesse ano, os lucros da montadora chegaram a 5,1 bilhões de euros, após registrar uma perda de 1,6 bilhão de euros em 2015.
Em declarações à AFP no Salão do Automóvel de Genebra, Muller disse que 2017 também "deve ser um ano muito bom".
"Estamos tentando deixar a crise do diesel para trás e recuperar a confiança dos nossos clientes", acrescentou o CEO da Volkswagen.
O grupo espera que os números deste ano sejam impulsionados pela chegada do veículo luxuoso de cinco portas Arteon, apresentado no Salão de Genebra.
No entanto, após um aumento de 7% no ano passado, o mercado europeu de automóveis pode se estagnar neste ano, segundo Muller.
Muller, ex-CEO da Porsche, assumiu o comando da Volkswagen em setembro de 2015, substituindo Martin Winterkorn.
Dezoito meses depois, ele ainda enfrenta uma série de repercussões do dieselgate, que vão desde danos à reputação da marca até a reserva de 22 bilhões de euros para lidar com multas e exigências de indenização.
O recall de veículos equipados com os dispositivos que manipulam as emissões continua dentro do cronograma, de acordo com Muller.
"Na Alemanha, 65% dos carros envolvidos foram corrigidos, e na Europa como um todo, foram cerca de 50%", disse.
"Portanto, estamos muito confiantes de que estamos pondo as coisas em ordem rapidamente e de que vamos reconstruir a confiança na Volkswagen", prometeu.
A Volkswagen admitiu as fraudes nos Estados Unidos e na Alemanha, mas os investigadores em ambos os países ainda estão buscando estabelecer responsabilidades individuais pelo escândalo.
Promotores da cidade alemã de Brunswick anunciaram no mês passado que estavam investigando Winterkorn por fraude, dizendo que tinham "indícios suficientes" de que ele sabia da falsificação dos testes.
Muller admitiu na terça-feira que "erros sérios foram cometidos".
"Nossa tarefa agora é lançar luz sobre como isso pode ter acontecido e, obviamente, quem iniciou isso. Medidas apropriadas devem ser tomadas contra essas pessoas", insistiu.
"Olhando para o futuro, é crucial que estabeleçamos procedimentos para que tal problema nunca mais volte a ocorrer. Estamos fazendo tudo o que podemos", completou.
A Volkswagen também enfrenta problemas em Bruxelas. A comissária da UE para assuntos de consumo, Vera Jourova, reclama que os clientes europeus que compraram carros envolvidos no dieselgate não estão sendo tratados da mesma forma que os clientes americanos, que receberam pacotes generosos de indenização.
Jourova e representantes de autoridades de defesa do consumidor de 22 países europeus reunidos em Bruxelas concordaram, na terça-feira, sobre a necessidade de uma ação coordenada para ajudar os proprietários de veículos da Volkswagen.
"A autoridade holandesa (de defesa do consumidor) preparará uma ação de execução conjunta", disse o porta-voz da Comissão Europeia, Christian Wigand, após a reunião.
"Esperamos resultados concretos desse processo até o final do mês que vem", acrescentou.
Jourova encorajou as autoridades a "utilizarem todos os meios à sua disposição para proteger os consumidores europeus".
"Nos Estados Unidos, as leis são muito diferentes e os problemas técnicos são diferentes. As duas situações não são comparáveis", justificou Muller.