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Carro por assinatura dá sinais de crescimento e vira aposta de montadoras

Serviço ainda está em fase de assimilação pelo consumidor brasileiro, mas já mostra alguns resultados preliminares positivos para fabricantes e locadoras de veículos

 (Localiza/Divulgação)

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EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 11 de abril de 2021 às 16h28.

Serviço criado por locadoras passou a ser oferecido diretamente por fabricantes de veículos - ao menos sete têm opções no País. Entre as vantagens, o cliente não se preocupa com documentação, revisões e seguro.

Ter acesso a um carro novo por assinatura, da mesma forma que os serviços de streaming, como a Netflix, é a mais recente modalidade de venda que as montadoras trouxeram das matrizes para o Brasil. Para analistas, esse tipo de locação, que vai de um a três anos e deixa nas mãos do consumidor só os gastos com combustível e multas, vai representar fatia importante dos negócios do setor.

Introduzido por locadoras, o serviço era tratado como aluguel de longo prazo, similar ao leasing. A partir de meados de 2020, as montadoras entraram no ramo e adotaram o termo assinatura por incluir no contrato a maior parte dos custos com o veículo, como seguro, manutenção e impostos.

Sete marcas - Audi, Caoa, Fiat, Jeep, Nissan, Renault e Volkswagen - lançaram programas. Assim como o serviço de streaming, que tem pacotes diferenciados, o preço da assinatura do carro depende do modelo, prazo de contrato (de um a três anos) e quilometragem mensal.

A maioria das montadoras ainda não divulga número de assinaturas mas uma delas já comemora os resultados. “Em pouco mais de dois meses conseguimos 1,5 mil contratos”, informa Ricardo Gondo, presidente da Renault do Brasil. Chamado de On-Demand, o serviço tem atraído principalmente consumidores de 35 a 45 anos.

Na opinião do executivo, o interesse atual está ligado, em parte à pandemia, em razão da insegurança de pessoas que usam transporte público e carros de aplicativo. “Mas no médio e longo prazo será uma tendência, assim como já é na Europa.”

Para Gondo, parte dos consumidores não quer mais se preocupar com a burocracia de adquirir e manter um carro novo (documentação, pagar impostos, seguro e manutenção). A assinatura inclui tudo isso.

Também tem o cliente que não quer imobilizar seu capital na compra e aquele que não tem condições de adquirir um automóvel à vista ou dar a entrada no financiamento, mas pode bancar a assinatura mensal.

O carro preferido dos assinantes da Renault é o Kwid Outsider, cujo contrato mensal varia de R$ 1,1 mil a R$ 1,44 mil. Em breve a empresa terá também o elétrico Zoe no programa. A vantagem entre assinar ou comprar é uma conta que envolve diversas variáveis (veja quadro).

Para Ricardo Bacellar, da KPMG no Brasil, o serviço de assinatura no País ainda passará por fase aprendizagem de montadoras e consumidores. “A oferta tem de ser sedutora o suficiente para atrair o cliente.”

Em sua visão, o que tem no mercado ainda não é muito atrativo para o comprador de carros mais baratos. Ele acredita, por outro lado, que a assinatura pode “abrir uma porteira para a retomada da produção”, pois é crescente o número de pessoas que não quer mais a posse do automóvel, e sim o uso. Ele também vê a modalidade como uma janela para maior introdução de carros elétricos no País.

“Hoje a compra é inviável para a maioria das pessoas, pelo alto custo, mas, se o consumidor tiver oportunidade de testar o elétrico e ver que a infraestrutura funciona, é possível que, no futuro, as montadoras tenham até escala para a produção local”, avalia Bacellar.

Desgastante

O presidente da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla), Paulo Miguel Junior, informa que 8% da frota de 1 milhão de veículos das locadoras são destinadas aos programas de assinatura. Essa participação, diz ele, tende a dobrar em dois anos.

Além do custo, uma das vantagens da modalidade, em sua opinião, é o consumidor “se livrar de todo o trabalho da documentação, da manutenção e da parte mais desgastante que é a hora da revenda”. Miguel Junior afirma que muitas vezes as concessionárias oferecem preços aviltantes para o carro usado e realizar a venda por conta própria pode gerar insegurança em receber interessados na própria casa.

No programa da Localiza, o Meoo, criado em novembro, há opções de assinatura por até quatro anos. A locadora calcula uma economia de até 20% em relação ao carro próprio. A empresa é a primeira a ter uma loja exclusiva para o produto em Belo Horizonte (MG).

Segundo a Movida, a assinatura é boa opção para quem quer vender o carro para investir em outros projetos ou para os que escolhem migrar do transporte público para o individual sem precisar ter a posse do carro. Uma das ofertas da empresa é o Fiat Mobi Like, por três anos, a R$ 897 nos primeiros três meses e R$ 999 após esse prazo.

Miguel Junior acredita que a modalidade possa se estender aos carros usados. “No Brasil ninguém ainda entrou nesse segmento, mas nos EUA há empresas operando dessa forma”, diz. “A assinatura não precisa ficar restrita ao zero quilômetro e, se for estendida aos usados vai movimentar mais o mercado”, concorda Bacellar.

Serviço é opção para evitar o Uber e para quem quer um ‘carrão’

Após viver dois anos nos EUA, Lucas Dolabela, de 34 anos, voltou ao Brasil em 2019 decidido a não ter mais carro próprio. Passou a usar o Uber até meados do ano passado, quando, em razão da pandemia, achou melhor voltar ao transporte individual.

Como não queria “empatar” dinheiro na compra de um automóvel nem ter “dor de cabeça” com seguro, impostos e manutenção decidiu pela assinatura de um Chevrolet Onix sedã na Localiza. Formado em economia e finanças e sócio do fundo de investimentos Horizonte Capital, Dolabela fez as contas e achou a modalidade vantajosa.

Ele fez assinatura por dois anos para rodar 1 mil km por mês e paga R$ 1,4 mil mensais. “O carro custa R$ 80 mil; se eu colocasse o dinheiro em um investimento com algum risco teria rendimento de R$ 3,2 mil, ou quase duas parcelas”, calcula.

“Incluindo a desvalorização, equivalente a R$ 16 mil, já são mais de dez prestações”, compara Lucas. Quando completar os dois anos, ele vai renovar a assinatura e, como gosta de carros, vai testar diferentes modelos. “A ideia é manter para sempre (a modalidade)”, afirma.

O empresário da área de tecnologia Rafael Barbalho se ressentia de não ter opções de locação de carros premium no mercado. “Eu ficava caçando opções, mas era difícil encontrar.” Ele achou o formato que queria quando surgiu a assinatura.

Barbalho decidiu vender seu carro e o da esposa, investiu o dinheiro e alugou um Audi RS5 por cerca de R$ 19 mil ao mês. Ele escolheu o modelo, a cor e os opcionais e a locadora Osten Fleet importou o carro exclusivo para ele. “O cliente escolhe o modelo como se ele fosse comprar, mas nós é que compramos mediante o contrato de assinatura”, explica Liandra Boschiero, gerente da Osten Fleet.

Os prazos oferecidos pela empresa são de 12 a 48 meses. Na devolução, o carro é revendido. O grupo Osten é dono de revendas como BMW, Jaguar, Land Rover e Jeep e atua com seguros.

O empresário fez a assinatura do RS5 por dois anos e pretende fazer um contrato também para a esposa. À vista, o modelo sairia por R$ 660 mil. Com 32 anos, ele conta que trabalha desde os 14 anos e agora quer “curtir” as coisas que não podia ter antes.

Embora atue com a compra de carros escolhidos pelo cliente, a Osten Fleet também traz ao País modelos que representem inovação. Recentemente o grupo importou dois Model 3 da Tesla e outros quatro Model Y estão a caminho. Um dos Model 3, que custa R$ 700 mil, está com a assinatura quase fechada. Apesar do preço à vista ser um acima do RS5, a assinatura é mais barata pois o gasto com manutenção de carros elétricos é inferior ao de um a combustão, explica Liandra, e deve ficar na casa dos R$ 18 mil.

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